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Um mergulho na fotografia popular

Crédito: Tiago Santana
Crédito: Tiago Santana

A partir do dia 6 de maio, o Sesc Belenzinho te convida para um mergulho nas lembranças escondidas nos monóculos, nos retratos pendurados em casa e em todo universo do retrato popular. Sob curadoria de Rosely Nakagawa, Valeria Laena e Titus Riedl, a exposição Retrato Popular - do vernáculo ao espetáculo reúne obras do acervo do Museu da Cultura Cearense – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e de colecionadores particulares que reconstroem a história da fotografia popular.

Quem for ao Belenzinho verá coleções de monóculos, ex-votos fotográficos, câmeras de lambe-lambe, cavalinhos e charretes para fotografias de crianças, além de moldes e retratos pintados por Mestre Júlio, um dos maiores nomes da fotopintura brasileira. Há também fotografias, gravuras, esculturas em madeira e argila, e lonas pintadas por profissionais que se dedicam ao ofício, como Tiago Santana, Luiz Santos e Tonho Ceará.

Outros registros fotográficos, em sua maioria de pessoas anônimas, fazem parte da coleção pessoal de Titus RiedL, um dos curadores. Pesquisador e professor da Universidade Regional do Cariri, Titus pesquisa a fotografia popular há mais de 20 anos. "Meu interesse maior é dessa fotografia anônima, uma fotografia íntima, sem ambição artística. É a fotografia que se guarda em casa, nas caixas de sapatos, nas gavetas. A fotografia que por muito tempo foi considerada barata, menor, marginal, mas que justamente hoje nessa transição da fotografia analoga para a fotografia digital está se tornando interessante e cada vez mais observada, percebida e valorizada. O meu interesse foi neste aspecto não pretensioso da fotografia que é mais lúdica, festiva e mais próxima das pessoas. Ela permite uma identificação muito grande. Todo mundo tem um contato muito grande com a fotografia vernacular", afirma.

A proposta da exposição é mostrar a importância dessa tradição comum em todo o Brasil, que é considerada um patrimônio da história da fotografia regional e parte relevante do registro de cidadãos de todas as classes sociais. Essa fotografia popular que, ao longo dos anos, tornou-se cada vez mais rara nas feiras e passou a integrar a arte contemporânea.

"O projeto foi desenvolvido há quase 10 anos atrás, quando essa fotografia do monóculo, do lambe-lambe e retrato pintado estava em vias de extinção. Nós colhemos alguns depoimentos dos fotógrafos populares, sobre essas transformações das técnicas que eles usavam. Percorremos as cidades de romaria cearense Canindé e Juazeiro do Norte em busca desses fotógrafos. Foi uma experiência muito rica, que resultou no filme Câmara Viajante, no encontro de fotógrafos e exposição que aconteceu no Centro Dragão do Mar. Agora, dez anos depois estamos olhando novamente para essa fotografia", conta Valéria Laena.

No Nordeste é ainda muito comum a criação de um novo contexto em torno da pessoa fotografada, que difere da realidade. Mestre Júlio, que até os anos 90 utilizou tintas mas agora faz uso do Photoshop, é o especialista nisso. Entre os retratos feitos por ele, dois chamam a atenção. O primeiro é o de um médico identificado como Dr. Hermínio, que queria ter sido mecânico e, por isso, pediu para ser retratado junto a alguns carros, usando uniforme e portando ferramentas. O segundo é o de um menino que se veste como formando universitário e pede para que a família seja inserida na foto. Há também obras que questionam a hegemonia branca e hierárquica na história brasileira, como a de Tercília da Silva, que pediu para que pintassem seus olhos na cor azul e fosse representada como uma rainha.

Tiago Santana é o responsável pelos flagrantes da área de peregrinação em Juazeiro do Norte, enquanto Tonho Ceará e Luiz Santos são coautores de retratos de povos nômades – indígenas, circenses, ciganos, sem-terra. 

Na programação ainda estão previstas oficinas, projeções e a interação do público por meio de autorretratos com o uso de celulares, atualizando o conceito de retrato popular com as selfies. Para isso, foi especialmente criado um cenário que reproduz o ambiente de uma pequena cidade do Nordeste. Também serão promovidos encontros e workshops com a participação dos curadores e artistas.

Para matar a curiosidade de quem passou pelo Sesc Belenzinho e viu os espaços expositivos fechados, dá uma olhada no processo de montagem da exposição: 

 

o que:

Retrato Popular – do vernáculo ao espetáculo
Serviço da exposição: clique aqui
Atividades integradas: clique aqui

quando:

de 6 de maio a 31 de julho de 2016 | Terça a sexta, das 10h às 21h, domingos e feriados das 10h às 19h30

onde:

Sesc Belenzinho | Rua Padre Adelino, 1000 | 2076-9000

ingressos:

Grátis.