Educação para e por meio da arte. Mirando a colaboração com instituições formais de ensino, o Sesc São Paulo lança Trocas e Olhares 2 – Acervo Sesc de Arte, um material pedagógico destinado a educadoras e educadores de todas as áreas do conhecimento. Sua composição dá-se a partir de dois eixos centrais: textos e obras de arte. Com o propósito de fomentar diálogos, reflexões e dinâmicas no dia a dia das salas de aula, Trocas e Olhares se organiza a partir de exercícios criativos e propositivos de possibilidades oferecidas pelas obras e artistas.
Sucessor de uma primeira edição lançada em 2018, o material é baseado em um recorte de 30 obras de 29 artistas de todas as regiões do Brasil – são pinturas incorporadas ao Acervo Sesc de Arte que, um dia, figuraram em diferentes edições da Bienal Naïfs do Brasil, longeva mostra realizada no Sesc Piracicaba que soma já 30 anos de existência. Neste recorte, são destacadas poéticas tradicionalmente ditas “populares” — por estarem deslocadas dos espaços formais de aprendizado e ensino de arte, bem como dissonantes do discurso artístico hegemônico. É neste cenário que se insere o termo naif (“ingênuo”, em francês), que nomeia a bienal.
O material é balizado por diferentes habilidades e competências da Base Nacional Comum Curricular, distribuídas em seis eixos temáticos: Corpos, Cotidianos, Lutas, Naturezas, Ritos e Trabalhos. Cada núcleo apresenta proposições de diálogos e atividades educativas a partir de uma seleção de cinco obras de arte e traz, ainda, textos inéditos de seis convidados: Ailton Krenak, Antônio Bispo dos Santos, Dione Carlos, Iguatemy da Silva Carvalho, Lua Cavalcanti e Naine Terena.
A proposta é concebida em parceria com a equipe do coletivo mineiro JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia, organização que realiza e fomenta pesquisas, projetos e experimentações no campo das artes.
O material completo de Trocas e Olhares 2 – Acervo Sesc de Arte, incluindo a publicação e as fichas com dinâmicas para uso em sala de aula, está disponível gratuitamente para download na plataforma Sesc.Digital.
Núcleo Naturezas
Você se sente parte da natureza?
Com texto de Ailton Krenak, este núcleo propõe reflexões sobre as diferentes naturezas com as quais os artistas convivem, a luta pela sobrevivência dos seres, as relações entre humanos e animais, além de lendas e criações de bichos imaginários.
Lenda do Monte Roraima (2006), de Carmézia Emiliano (Maloca do Japó, Normandia/RR, 1960)
Fazenda I (1992), de Gerardo de Souza (Guaraciba do Norte/CE, 1950)
O Forró dos Bichos (1995), de J. Borges (Bezerros/PE, 1935)
Sobrevivência (1986), de João Pereira de Oliveira (Manaus/AM)
Sem título e Sem título (2004), de Maria Lira Marques (Araçuaí/MG, 1946)
Núcleo Corpos
Como você percebe o seu corpo?
Entre as ideias semeadas neste núcleo, estão reflexões sobre a (in)visibilidade do corpo feminino, como os corpos podem ser brincantes, seus gestos possíveis e as múltiplas identidades do povo brasileiro expressas na diversidade dos corpos. Colabora a arte-educadora Lua Cavalcante.
Mãe, flor e borboleta (2002), de Antônio Scarelli (São Joaquim da Barra/SP, 1924-2013)
Brasileiras e brasileiros (2014), de Augusto Japiá (Paulista/PE, 1972)
Sementes, plantio e colheita (2014), de Denise Costa (João Pessoa/PB, 1964)
Brincadeiras de saci (1994), de Lenice Lopes da Silva (São Luiz do Paraitinga/SP, 1955)
Capoeira de Angola (2004), de Mestre Zequinha (Piracicaba/SP, 1959)
Núcleo Ritos
Para que servem os ritos? Que emoções despertam em nós?
As obras deste núcleo trazem manifestações religiosas e culturais de diversas regiões do país, do campo à cidade. Contribui com reflexões um texto da dramaturga, roteirista, atriz e curadora Dione Carlos.
Festa de São João e Festa de Santo Antônio (1986), de Eliza Gonçalves de Mello (Monte Azul Paulista/SP, 1910-1996)
Festa de orixás (1998), de Ivan da Silva Moraes (Rio de Janeiro/RJ, 1936-2003)
João Paulino e Maria Angu (1994), de José Carlos Monteiro (São Luiz do Paraitinga/SP, 1954)
Cavalhada em Matheus Leme (1996), de Rodelnégio Gonçalves Neto (Alegre/ES, 1915-2009)
Devoções populares (1998), de Tânia de Maya Pedrosa (Maceió/AL, 1933)
Núcleo Cotidianos
Que hábitos compartilhamos? O que você faz para sair da rotina?
Neste eixo, os artistas apresentam situações cotidianas, sim – mas repletas de inventividade. O filósofo Iguatemy da Silva Carvalho soma ao material com um texto reflexivo.
Centro da cidade (2002), de Carlos Alberto de Oliveira, “Carlão” (Novo Hamburgo/RS, 1951-2013)
Fome zero (2004), de Deraldo Clemente (Neves Paulista/SP, 1958)
Casamento II (2006), de João Alexandre Sarti (São José do Rio Preto/SP, 1970)
Na minha terra de tudo tem (1994), de Manoel Alves Neto (Fortaleza/CE, 1963)
A banana comendo o macaco / Onça avança no pescador (2018), de Toninho Guimarães (Cuiabá/MT, 1964)
Núcleo Trabalhos
Como transformamos o mundo por meio do trabalho?
Neste núcleo, vemos diferentes pessoas, fazeres, tecnologias e cenários do trabalhar. A reflexão é assinada pelo líder ativista quilombola e intelectual – professor, filósofo, poeta – Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, em um trabalho inédito publicado após sua partida precoce, em 2023.
Corte de cana (1994), de Anésio Cardoso (Piracicaba/SP, 1940-2000)
A psicanalista (2004), de J. Borges (Bezerros/PE), 1935)
Os artesãos (2004), de J. Miguel (Bezerros/PE, 1961)
Engenhos (2006), de Neri Andrade (Florianópolis/SC, 1954)
Engenho (2010), de Neves Torres (Conselheiro Pena/MG, 1932)
Núcleo Lutas
Como você expressa os seus desejos de mudança?
No eixo final de Trocas e Olhares, a potência das obras de arte como forma de registrar eventos e histórias em versões diferentes dos discursos hegemônicos. Quem assina a reflexão deste núcleo é Naine Terena, ativista, educadora, artista e pesquisadora indígena do povo Terena.
Amazônia Tráfico I (2006), de Adão Domiciano (Ecoporanga/ES, 1969)
Invasão (1988), de Emma Valle (Salvador/BA, 1933-2000)
Urubus na prefeitura (2000), de Lourdes de Deus (Custódia/PE, 1959)
O martírio de Nossa Senhora do Brasil (2019), Shila Joaquim (Ribeirão Preto/SP, 1965)
Lagoa Rodrigo de Freitas (2000), de Waldomiro de Deus (Itagibá/BA, 1944)
O projeto começou com as exposições anuais realizadas pelo Sesc Piracicaba no período de 1986 a 1991, e tem como iniciativa valorizar e disseminar essa vertente artística fortemente relacionada aos elementos que caracterizam a cultura popular brasileira. Considerada um dos principais eventos do gênero artístico, a Bienal promove a integração entre artistas, pesquisadores, colecionadores e galeristas, além de educadores e estudantes, com o propósito de ampliar conhecimentos e garantir o debate acerca da produção visual no País. Ao longo de suas edições, buscou propagar a diversificação do que é conhecido como estética naïf tradicional, com seleção de obras que enfatizam a variedade da confecção popular, um realinhamento do propósito primitivo moderno que caracteriza a arte ingênua.
Com 77 anos de atuação, o Sesc – Serviço Social do Comércio conta com uma rede de 40 unidades operacionais no estado de São Paulo e desenvolve ações com o objetivo de promover bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio, serviços, turismo e para toda a sociedade. Mantido pelos empresários do setor, o Sesc é uma entidade privada que atua nas dimensões físico-esportiva, meio ambiente, saúde, odontologia, turismo social, artes, alimentação e segurança alimentar, inclusão, diversidade e cidadania. As iniciativas da instituição partem das perspectivas cultural e educativa voltadas para todas as faixas etárias, com o objetivo de contribuir para experiências mais duradouras e significativas. São atendidas nas unidades do estado de São Paulo cerca de 30 milhões de pessoas por ano. Hoje, aproximadamente 50 organizações nacionais e internacionais do campo das artes, esportes, cultura, saúde, meio ambiente, turismo, serviço social e direitos humanos contam com representantes do Sesc São Paulo em suas instâncias consultivas e deliberativas.
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