Lixos: não existe fora

28/06/2024

Compartilhe:

Você já viu uma daquelas fotos da Terra tiradas de longe, lá do espaço? Quando olhamos uma imagem assim, é fácil perceber que, apesar de todas as fronteiras, muros e cercas, estamos todos juntos aqui. Para quem está dentro, não existe realmente lado de fora. Somos como vizinhos e irmãos coabitando o mesmo planeta, juntos com os outros seres que dividem conosco este lugar.

A Terra é nossa casa comum e o que fazemos no lugar onde estamos pode afetar todas as outras pessoas e seres vivos que compartilham este planeta conosco. Pensar por esse ponto de vista é essencial quando falamos dos recursos que consumimos e do lixo que produzimos. Afinal, você já parou para pensar o que significa a expressão “jogar o lixo fora”?


Que “fora” é esse?

A sacola de lixo que você tirou de casa e jogou na lata ou na caçamba da rua, e que depois foi recolhida pelos profissionais de limpeza urbana da sua cidade, se junta às sacolas de outras pessoas e outras casas, criando todos os dias um fluxo de lixo circulando pelas cidades até pontos de reciclagem, aterros, lixões e outros locais de descarte. Cada brasileiro descarta, em média, 1,04 kg de lixo por dia. A cada ano, um de nós gera aproximadamente 380 kg de resíduos. Se formos olhar para o total da população brasileira, um ano equivale a aproximadamente 77,1 milhões de toneladas de lixo sendo geradas (e isso olhando apenas para o Brasil). Essa quantidade, para compararmos, é igual a quase 13 milhões de elefantes!

Dessa imensa quantidade de lixo, a maior parte contava com a coleta e destinação, seja diretamente pelo poder público, por associações de catadores ou empresas contratadas. Mesmo assim, cerca de 7% dos resíduos sólidos não contava com nenhuma coleta. Pode parecer pouco, mas são mais de 5 milhões de toneladas de lixo que vão parar nos rios, terrenos baldios, matas ou são queimados liberando gases de efeito estufa na atmosfera. Esses dados são do “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2023”1, da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente.

Reutilizar e reciclar


Devido à pouca oferta de coleta seletiva porta a porta nas cidades brasileiras ou ao fato de que a maioria das famílias não realizam a separação em suas casas, a maior parte do resíduo que poderia ser reciclado não é reaproveitado. Esses materiais são destinados como rejeitos aos aterros sanitários (no melhor dos casos) ou aos lixões e outros locais não adequados para a deposição final dos rejeitos. A reciclagem começa com a separação dos resíduos sólidos – papel, plástico, metal, vidro e orgânicos –, que são recolhidos por meio da coleta diferenciada, ou seletiva. O material recolhido passa então por uma triagem manual ou mecanizada, em que profissionais de limpeza ou máquinas separam os materiais por tipo e encaminham os aproveitáveis para a recuperação, seja pela reutilização ou reciclagem. O restante dos materiais, considerados não recuperáveis (os rejeitos), são enviados a locais de disposição final como aterros sanitários ou lixões a céu aberto.

Um dado chama muita atenção para a responsabilidade de cada um de nós no reaproveitamento do que consumimos: cerca 70% dos brasileiros não separam o lixo seco do orgânico em suas casas. Essa é uma etapa crucial para a cadeia da reciclagem, pois é a partir da separação inicial que o lixo pode ser destinado de forma adequada para as etapas posteriores, e não ser enviado como rejeito para aterros ou lixões. Mas, além da responsabilidade de cada um, é importante apontar que apenas aproximadamente 15% da população urbana nos municípios brasileiros é atendida com a coleta seletiva de porta a porta.

Destino final

Grande parte do lixo no Brasil tem destinação inadequada. Cerca de 39% dos resíduos coletados em 2022 (ou quase 28 milhões de toneladas) iam para lixões a céu aberto, aterros controlados, valas, vazadouros e outras estruturas semelhantes. Esses locais não possuem as proteções necessárias para evitar que o chorume alcance o lençol freático, que gases tóxicos sejam liberados na atmosfera ou que, de outras formas, a poluição prejudique o meio ambiente ao redor. Já 61% do lixo coletado naquele ano foi encaminhada para os aterros sanitários, estruturas que incluem impermeabilização de base, coleta e aproveitamento ou queima de biogás, drenagem, coleta e tratamento de chorume, além de contar com monitoramento ambiental e geotécnico. Estes são locais considerados mais adequados para o descarte dos resíduos sólidos que não podem ser reutilizados ou reciclados, ou rejeitos.

Mesmo o lixo orgânico que produzimos poderia ser melhor aproveitado. E isso pode ser feito nas próprias residências. O processo de compostagem transforma a matéria orgânica do lixo caseiro em adubo natural, que pode ser usado na agricultura e nos jardins. O composto produzido neste processo substitui de forma natural os adubos químicos sintéticos. Além disso, o método contribui na luta contra as mudanças climáticas, já que o lixo orgânico nos aterros e lixões libera gás metano, que contribui para o aquecimento global.

Consumir menos é proteger o planeta


Apesar da importância enorme da separação do resíduo nas casas, há um passo anterior que é ainda mais necessário: o consumo consciente. É essencial que estejamos atentos aos produtos que adquirimos, para evitar o desperdício e, consequentemente, o lixo que produzimos. Ao fazer isso, deixamos de incentivar um modelo prejudicial ao planeta, que gera poluição, aumento dos gases de efeito estufa e desigualdades sociais. Infelizmente, é muito comum que as pessoas comprem por impulso ou na esperança de alcançar um bem-estar ilusório e passageiro. Um levantamento3 realizado no Brasil há alguns anos mostrou que 36,3% das pessoas entrevistadas viam o ato de fazer compras como uma forma de aliviar o estresse do cotidiano. Além disso, 41,8% dos jovens disseram ficar entusiasmados e se divertirem ao comprar produtos não planejados.

Somos bombardeados o tempo todo por anúncios e comerciais que nos prometem alegria instantânea se comprarmos alguma coisa, seja um hambúrguer, um videogame ou um celular novo. No entanto, estudos indicam que o consumismo é ineficaz na geração de felicidade. Ao invés de comprar coisas, seríamos mais felizes fortalecendo nossas relações com as outras pessoas e adquirindo novas habilidades e experiências. Além disso, ao comprar menos coisas, contribuímos menos para a geração de poluentes e para a destruição do planeta. ⭑

Links para saber mais:

  1. https://bit.ly/450tJin
  2. https://bit.ly/3UYv5pg
  3. https://bit.ly/3R0FrUy
  4. https://bit.ly/3yGLQOc

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.