Por Lourence Alves

A alimentação saudável é um pilar fundamental para uma vida equilibrada e sustentável. Em um mundo onde o ritmo acelerado frequentemente nos afasta das práticas alimentares saudáveis, é essencial resgatar os princípios básicos de uma dieta equilibrada. Utilizar ingredientes acessíveis e respeitar a sazonalidade dos alimentos são práticas que não só promovem a saúde, mas também beneficiam o meio ambiente. Para nos auxiliar nessa difícil missão, os guias alimentares são importantes ferramentas, mas como aplicar essas orientações em nosso dia a dia?  

Para aplicar as orientações dos guias alimentares em nosso cotidiano, é essencial transformar essas diretrizes em ações práticas e acessíveis. Uma das maneiras mais eficazes de fazê-lo é planejar as refeições semanalmente, priorizando alimentos in natura e minimamente processados. Outra estratégia é criar uma lista de compras que contemple a sazonalidade dos produtos, garantindo frescor e economia. Participar de feiras livres, comprar diretamente de produtores locais e incentivar a agricultura familiar são práticas que não só promovem a saúde, mas também fortalecem a economia local e reduzem o impacto ambiental. 

Olhar para a alimentação sob uma perspectiva sistêmica é crucial para compreender as interconexões complexas entre agricultura, meio ambiente, economia e saúde. Políticas públicas e práticas agrícolas sustentáveis podem impactar positivamente o sistema alimentar global, criando um ciclo virtuoso que beneficia tanto o indivíduo quanto o planeta. É necessário discutir e implementar soluções inovadoras e sustentáveis para erradicar a fome e a insegurança alimentar, problemas persistentes que exigem ação concreta e coletiva. 

A alimentação também é uma expressão cultural profunda. A diversidade culinária do Brasil e do mundo destaca como diferentes culturas integram e celebram a comida em suas tradições. Exibições gastronômicas, feiras de comida típica e apresentações artísticas refletem a riqueza da herança cultural através dos sabores e aromas. No entanto, é importante reconhecer a interseccionalidade e a influência das relações raciais na alimentação. Fatores como raça, classe social e gênero afetam o acesso a alimentos saudáveis, e é fundamental promover um sistema alimentar mais justo e inclusivo. 

Além disso, a autonomia culinária e o retorno às práticas culinárias tradicionais são aspectos essenciais para uma alimentação saudável. Aprender a preparar refeições nutritivas e saborosas em casa, utilizando ingredientes frescos e locais, empodera os indivíduos e fortalece a conexão com a comida. Essa prática também facilita a aplicação das diretrizes dos guias alimentares, que são ferramentas poderosas para orientar nossas decisões diárias e promover hábitos alimentares saudáveis. Envolver a família nas escolhas alimentares e na preparação das refeições cria um ambiente propício para a adoção de hábitos saudáveis, tornando a alimentação equilibrada uma realidade tangível e sustentável. 

Transformar a nossa relação com a comida requer uma reflexão crítica e ações práticas que visem um futuro mais saudável e sustentável para todos. Promover a educação alimentar, valorizar a diversidade cultural e lutar por equidade no acesso à alimentação de qualidade são passos essenciais para alcançar esses objetivos. Ao resgatar os princípios básicos da alimentação saudável, adotar uma perspectiva sistêmica e respeitar as interseccionalidades, podemos construir um sistema alimentar que seja benéfico para todos e sustentável ao longo do tempo. 

Lourence Alves é cozinheira, historiadora e pesquisadora de gastronomia e afrobrasilidades, com enfoque afrocentrado. Professora Adjunta no Departamento de Ciência dos Alimentos da UFBA. É doutora em Alimentação, Nutrição e Saúde/UERJ, mestre em História das Ciências e Saúde/Fiocruz, Bacharel em Gastronomia/UFRJ e História/UERJ.