Mais arroz e feijão, menos alimentos ultraprocessados 

25/09/2024

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Você já ouviu falar no Guia Alimentar para a População Brasileira? O Guia, que completa dez anos esse ano, é um documento oficial do Ministério da Saúde que oferece recomendações de alimentação saudável para a nossa população. Inovador, foi o primeiro no mundo a adotar o processamento dos alimentos como eixo central de suas orientações. Sua mensagem principal é que a alimentação seja baseada em alimentos in natura ou minimamente processados e suas preparações culinárias, evitando alimentos ultraprocessados. 

Em outras palavras, o Guia estimula que alimentos e pratos tradicionais da nossa cultura, como o arroz e o feijão, sejam a base do que comemos. Isso inclui uma variedade de alimentos da nossa biodiversidade, tais como tubérculos (mandioca, batata), frutas, verduras e legumes. Alimentos de origem animal, como carnes e leites, também podem fazer parte de uma alimentação saudável, desde que em menor frequência e quantidade. Os benefícios dessa abordagem são inúmeros: proteger a saúde, garantir a sustentabilidade ambiental, fortalecer o senso de pertencimento e a sociabilidade em torno do ato de comer, além de promover experiências muito saborosas. 

A alimentação cotidiana deve ter como base os alimentos in natura e minimamente processados, preferencialmente de origem vegental, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira.

Por outro lado, os alimentos ultraprocessados, que o Guia recomenda evitar, são produtos de baixa qualidade nutricional com forte apelo para a conveniência e praticidade. Alguns exemplos são as refeições prontas congeladas, os biscoitos e as bebidas adoçadas. O consumo desses produtos está associado a problemas de saúde, como obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes. A predominância dos ultraprocessados no sistema alimentar tende a apagar culturas alimentares locais, levando a uma padronização do que é consumido globalmente. Sua produção também é dependente de monoculturas e agrotóxicos, impactando negativamente o meio ambiente. 

A boa notícia é que “o arroz com feijão” ainda segue muito presente nas nossas mesas. Dados de 2017 mostram que os ultraprocessados representam cerca de 20% das calorias consumidas no país, quase um terço do que é observado no Reino Unido e nos Estados Unidos, por exemplo, onde esse valor se aproxima de 60%. O principal fator de resistência é nossa cultura alimentar forte, mas é preciso ação política para preservá-la, já que o consumo de ultraprocessados tem aumentado no país. Ainda é necessário superar importantes obstáculos para que todos possam ter uma alimentação saudável e diversa, como a regulação do marketing e a tributação dos ultraprocessados, a facilitação do acesso a alimentos saudáveis e a promoção de habilidades culinárias. 

Apesar desses desafios, a nossa cultura alimentar e a nossa biodiversidade são patrimônios do nosso país e sua valorização é chave para que tenhamos uma boa alimentação. Nesse sentido, o Guia é uma ferramenta poderosa e extremamente pertinente que tem servido ao propósito de induzir ações no sentido de promover uma alimentação adequada e saudável para todos. 

Kamila Tiemann Gabe, nutricionista e pesquisadora de pós-doutorado do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo. Estuda a implementação e o impacto do Guia Alimentar para a População Brasileira na saúde da população. 

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