Fundamentos da Acessibilidade no Cotidiano

25/09/2024

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Por Marco Antônio Gavério

Quando falamos sobre acessibilidade, quase imediatamente associamos o termo à inclusão e aos direitos das pessoas com deficiência. Geralmente, isso é entendido como algo restrito à criação de recursos e normas técnicas, padronizados e legalmente exigidos, voltados para a adaptação, modificação e modelagem de ambientes, com o objetivo de atender pessoas com deficiência, mobilidade reduzida ou problemas de locomoção.

Entretanto, a acessibilidade, mesmo com esse histórico fortemente ligado às pessoas com deficiência e à inclusão como um direito específico, pode ser compreendida de forma mais ampla, sem perder de vista sua dimensão política. Ela também abrange uma estrutura que molda nossas formas de nos relacionar com o ambiente, o espaço e as interações que construímos cotidianamente.

No dia a dia, a acessibilidade está presente em várias dimensões da nossa vida: na arquitetura das cidades, nas tecnologias que usamos, na forma como organizamos nossas atividades e nas relações que estabelecemos. Quando falamos de acessibilidade, não nos referimos apenas a rampas, elevadores ou sinalizações; estamos falando de interações, relações e de como podemos contribuir para que todas as pessoas, com e sem deficiência, possam exercer seus direitos e participar ativamente da sociedade.

A partir de uma série de práticas e saberes, a acessibilidade tem sido vista como uma maneira de organizar e promover a participação em diversas dinâmicas da vida social. Quando reduzida a normas técnicas e associada unicamente à representação social e cultural da pessoa com deficiência, a acessibilidade corre o risco de perder sua capacidade crítica, transformadora e emancipatória. A acessibilidade é mais do que uma exigência técnica, uma obrigação jurídica ou um direito garantido a determinadas pessoas. Acessibilidade é uma prática cultural. Ela exige que repensemos as relações de poder que se manifestam na organização dos espaços e na forma como a sociedade é estruturada nas interações complexas, mas cotidianas, entre corpo, ambiente, indivíduo e sociedade.

Marco Antônio Gavério é Doutor pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A partir de perspectivas sociológicas e antropológicas investiga saberes e práticas em torno da deficiência como uma categoria sociocultural e histórica. Nesse sentido, busca compreender como essa categoria emerge em correlação às teorizações e práticas sobre o Corpo, a Sexualidade e, mais atualmente, a Saúde e a Acessibilidade. 
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