Sesc Franca na perspectiva explodida de Danilo Zamboni  

04/10/2024

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Quando imaginamos uma unidade do Sesc, o que não pode faltar? Algumas pessoas dirão que é a piscina, outras mencionarão as quadras esportivas. Há quem pense nas comedorias, nos teatros ou áreas de convivência. O que todos esses locais têm em comum é a necessidade de pessoas para ganhar vida. Sem elas, restam apenas concreto, metal e outros materiais. 

Danilo Zamboni, arquiteto e ilustrador, recebeu a missão de ilustrar a unidade do Sesc Franca, unidade que foi projetada por César Shundi Iwamizu, Bruno Salvador e Anderson Fabiano Freitas, e que será inaugurada em novembro de 2024. Seu desafio foi não apenas representar a estrutura, mas criar uma experiência visual que antecipa o cotidiano de um ambiente em pleno funcionamento. 

Formado em Arquitetura em 2010, Danilo dedicou-se a uma forma específica de representação arquitetônica: a perspectiva explodida. Esse estilo oferece uma visão detalhada e descomposta das estruturas, permitindo ao observador compreender cada elemento isoladamente, mas integrado ao todo. 

Em entrevista, o arquiteto compartilhou detalhes de seu processo criativo, que começa com um estudo aprofundado do projeto a ser desenhado. Além de analisar a planta da nova unidade, ele visitou o local para observar de perto os detalhes que precisariam estar no desenho final. Vale lembrar que, no momento da visita, a obra ainda não estava finalizada e não havia mobiliário, equipamentos e sinalizações, que são instalados apenas no final.

Ele compara essa etapa inicial à leitura de um livro: “É como se estivesse lendo um livro; se você não passou pelas primeiras páginas, não entende a história inteira. Então, você precisa mergulhar naquilo até entender o problema. Eu gosto de brincar que é um problema.” 

Essa analogia revela a paciência e o cuidado que Danilo dedica à compreensão do projeto antes de começar a desenhar. Ele descreve o desenho arquitetônico como um processo que exige constante revisão, onde erros são corrigidos e detalhes ajustados ao longo do caminho. 

Após toda a pesquisa, Danilo começa a rascunhar. Tudo é feito à mão, com lápis e um papel tamanho A3 em que testa os melhores ângulos e as melhores maneiras de representar os espaços e detalhes arquitetônicos do prédio. Depois escolher o ângulo, começa a trabalhar em uma folha no tamanho final que, no caso do Sesc Franca, mede 1,65 m de largura por 1,05 m de altura. 

“O traço final é feito a lápis e não a caneta. Uso um lápis 5B, porque, como o desenho é muito grande, deixo a linha mais grossa. Além disso, há detalhes que preciso apagar ou ajustar conforme avanço com a limpeza do desenho.” 

Para este desenho, Zamboni utilizou 4 pontos de fuga devido à complexidade da planta. O ponto de fuga é um ponto imaginário para onde convergem todas as linhas paralelas de um desenho em perspectiva. Imagine que você está olhando para uma estrada longa e reta que desaparece no horizonte. À medida que a estrada se distancia, as bordas parecem se encontrar em um ponto distante. Esse ponto é o ponto de fuga.  

Nessa fase, o projeto ganha muito mais detalhamento e os espaços começam a ganhar vida. Se olharmos em detalhes para cada espaço, notamos uma grande diversidade de atividades acontecendo ao mesmo tempo. Nas quadras, por exemplo, podemos ver pessoas descansando enquanto outras estão jogando. Nas piscinas, além de pessoas nadando, há outras sentadas na borda ou conversando. Quanto mais se observa, mais histórias são desenhadas e imaginadas. 

Outro desafio é mostrar as particularidades arquitetônicas da unidade de Franca, como o sistema de ar-condicionado, que normalmente fica escondido, mas no desenho de Zamboni, as tubulações, compressores e outros mecanismos são propositalmente expostos. Assim como o pilar estrutural que sustenta as quadras ou os elementos vazados nos estacionamentos, que proporcionam sombra e ventilação. 

Com essa etapa concluída, inicia a parte mais gratificante do seu projeto: passar tudo a limpo. Uma nova folha é colocada por cima do desenho preliminar e o processo começa novamente. Danilo, sendo destro, inicia sempre de cima para baixo e da esquerda para a direita, para evitar borrar o que já foi desenhado. Esse vai-e-vem na folha é essencial para a precisão do desenho final. Ele finaliza seu trabalho com um pente-fino, revisando cada linha para garantir que nada foi esquecido. 

A técnica da perspectiva explodida reflete sua habilidade em equilibrar a precisão técnica com a sensibilidade artística. Seus desenhos são mais do que representações gráficas; são interpretações cuidadosas que buscam capturar a essência de cada estrutura. 

Danilo Bressiani Zamboni é arquiteto (FAU-USP) e ilustrador. Premiado no 4º Concurso de Ilustração da Folha de S. Paulo, possui um extenso portfólio editorial, incluindo publicações em revistas como Pesquisa Fapesp, Superinteressante, e livros ilustrados para a FTD. Em 2019 participou com 5 desenhos da exposição “Access for All: São Paulo’s Architectural Infrastructures” na Pinakothek der Modern, Architecture Museum of the Technical University of Munich (TUM). 
 

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