Cédulas do Real e Dólar – Foto: Lúcio Érico
Apresentar experiências de economia solidária e criativa é uma das propostas da ação em rede Nós: criação, trabalho e cidadania. Um dos temas abordados pela programação é a moeda social. Você já ouviu falar?
Segundo o Banco Central do Brasil, “a moeda social” é uma tecnologia de autofinanciamento: um instrumento de natureza e estrutura contratual, com potencial para resolver ou atenuar o problema do ‘desencaixe’ entre disponibilidade de capital (recursos disponíveis) e necessidades não atendidas”, VII Seminário Banco Central sobre Microfinanças – 2008.
Selecionamos exemplos de moeda social que se destacam na programação do Nós: criação, trabalho e cidadania para você conhecer.
A moeda que vem da borda
Em 2009, a Agência Solano Trindade, localizada na zona sul de São Paulo e que tem como objetivo fomentar a ação sociocultural, criou uma moeda social que não é um sistema alternativo, mas complementar à economia. “A nossa sociedade é desprovida de uma escola de qualidade, de acesso à educação, portanto a pessoa não compreende como funciona muitas vezes o sistema financeiro, e quem mais sofre é o povo da periferia. Então o banco comunitário é um banco na comunidade onde a gente articula o consumo e produção”, relata Thiago Vinicius, da Agência Solano Trindade.
Thiago Vinicius apresenta uma das cédulas da moeda social fomentada pela Agência Solano Trindade – Foto: Lúcio Érico
As moedas sociais Sampaio e Solano, com abrangência nas regiões do Campo Limpo, Capão Redondo e adjacências na zona sul da capital, têm como objetivo auxiliar as relações de produção, consumo e comercialização de serviços, produtos e conhecimentos culturais e, assim, contribuir com o desenvolvimento da economia criativa local, além de potencializar a interligação dos produtores, ampliar a capacidade de circulação destes bens simbólicos e materiais e a efetiva relação entre arte, cultura e mercado.
“A gente parte do pressuposto que nós não somos pobres, nós somos empobrecidos à medida que a gente consome fora do nosso local. Todo mundo da favela gera renda, todo mundo trabalha na sua comunidade. Então são pessoas consumindo e produzindo”, reforça Thiago.
Assista à entrevista de Thiago Vinicius sobre a moeda social, a partir da experiência da Agência Solano Trindade.
Banco Comunitário
Outra iniciativa é a do Banco Comunitário de Desenvolvimento Padre Leo Commissari, que trabalha com serviços financeiros solidários e pode ser usado pelos moradores das comunidades Jd. Silvina, V. S. José, Golden Park e Pq. Selecta. O banco contribui com o desenvolvimento local e oferece dois tipos de créditos: o produtivo – em real – e o crédito de consumo – em moeda social, usada para comprar nos comércios locais e contratar serviços profissionais da região que estejam cadastrados no Banco. Todos os moradores dessas comunidades podem utilizar esses serviços do Banco.
Feira de Economia Solidária
Quem quiser ver de perto outras experiências pode visitar a Feira de Economia Solidária, realizada no Sesc São Caetano, que reúne algumas iniciativas de economia solidária da região do ABC. São trabalhos diversos de sustentabilidade com a venda de orgânicos, empreendimentos de saúde mental, artesanato, finanças solidárias e alimentação na geração de renda.
História do dinheiro
Agora que você já conhece algumas iniciativas, que tal fazer uma viagem pela história do dinheiro?
Segundo Niall Ferguson, historiador da Grã-Bretanha, que leciona na Universidade de Harvard e na London School of Economics além de ser pesquisar na Universidade de Oxford, em seu livro A Ascenção do Dinheiro “é costume dizer que o dinheiro é um meio de troca, que tem a vantagem de eliminar as ineficiências do escambo; uma unidade de valor, que facilita a avaliação e o cálculo; e um recipiente de valor, que permite que as transações econômicas sejam conduzidas durante longos períodos e também a despeito das distâncias geográficas. Para desempenhar todas essas funções da melhor maneira, o dinheiro tem que estar disponível, e ser durável, fungível, portátil e confiável”.
Os primórdios dessas transações se deram com o escambo, em que um produto/serviço era trocado por outro. Entretanto, à medida que essas operações se tornavam mais complexas, foi necessário criar uma ferramenta que conseguisse garantir a portabilidade e a confiança da negociação.
Surgem então as primeiras moedas, que não eram necessariamente de metal, mas chamadas de moeda mercadoria. Elas serviram como uma unidade de medida, baseada no bem mais precioso para aquela cultura ou região, ou seja, a criação de um lastro que passa a definir o valor agregado a uma moeda, possibilitando a troca. Por exemplo, com 10 grãos de cacau –moeda mercadoria da civilização mesoamericana Maia – era possível comprar um coelho.
Com o surgimento de países e estados modernos, foi necessário ampliar o sentido dessa “promessa de troca” para além da moeda mercadoria de uma região, visando ampliar geograficamente as relações comerciais. Dessa necessidade se desenvolveu o dinheiro, que é uma moeda emitida e certificada por um Estado. Por questões de influência europeia, os metais preciosos acabaram por se tornar um conceito de riqueza, sendo o ouro adotado como principal unidade de medida por muito tempo. Determinadas moedas também passaram a ter mais influência que outras em razão do poder político-econômico de seus países de origem. Por exemplo, até a Segunda Guerra Mundial, a Libra do Reino Unido era a referência mundial juntamente com o ouro.
Atualmente, o lastro do dinheiro funciona a partir do câmbio flutuante, em que operações financeiras de compra de moedas, papéis de dívidas públicas, entre outras transações, fazem com que o dinheiro de um país tenha o seu valor alterado. E mesmo que haja inúmeras flutuações, o uso do dinheiro garante a confiança na troca.
Nos primórdios do escambo, a primeira forma de transação comercial, o objetivo era conseguir novos bens que possibilitassem a sobrevivência e melhoria da qualidade de vida. Por que, atualmente, com tantos bens produzidos, ainda há falta desigualdade na distribuição do dinheiro?
Para exemplificar, o alimento é a base da sobrevivência para a humanidade, sendo a primeira mercadoria negociada à época do escambo e hoje é passível de ser perdido ou desperdiçado.
Se há falta de dinheiro para comprar alimento, e se o dinheiro tem o seu lastro em operações financeiras, as experiências de economia solidária e criativa, como as exemplificadas acima, são alternativas para melhorar o compartilhamento de riquezas a partir do trabalho. E há muito mais iniciativas para você conhecer no Nós: criação, trabalho e cidadania.
Até 17 de novembro, a ação em rede realizada nas unidades do Sesc da Grande São Paulo, Interior e Litoral destaca projetos, pesquisas e experiências com foco no trabalho coletivo, inclusão produtiva, geração de renda e desenvolvimento comunitário, com a proposta de incentivar a construção de parcerias entre as comunidades e as organizações presentes nos territórios nos quais as unidades se inserem.
Para conhecer mais projetos, acompanhe a programação completa clicando no botão abaixo.
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