A Bahia de todos os santos e um rei rasta: Edson Gomes nas tintas de Ricardo Cury
Ricardo Cury é músico, publicitário e empresário no ramo da culinária árabe. Em 2008, lançou um livro de crônicas onde o rock baiano dos anos 90/00 é o cenário (e seus personagens, os protagonistas). Em 2017, fez um crowdfunding para um romance. O crowdfunding deu certo, mas o romance ainda não está pronto. Ele garante que sai esse ano e que nunca mais escreverá romances.
Ilustrações por Heloisa Etelvina, artista gráfica graduada em Gravura pela Escola de Belas Artes da UFMG com mestrado em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. Desde 2005, trabalha com experimentações gráficas utilizando-se de um pequeno acervo tipográfico. Participou de exposições de arte nacionais e internacionais. Garimpando ornamentos de gráficas antigas até ferro-velhos, incorpora as falhas e o improviso para criar estampas e desenhos únicos, ricos em detalhes. Utiliza da linguagem da gravura para construir imagens.
Capa por Ale Amaral – Paulistano e pai da Laura. Trabalha no Sesc São Paulo desde 2004, atualmente como designer gráfico no Selo Sesc. Toca bateria no barulhento duo Bugio e colabora musicalmente com diversos artistas nacionais da cena experimental e de improvisação livre.
Toquei por pouco tempo, na fase embrionária, em uma banda de reggae. O ano é 1995 e a banda se chamava Filhos de Jah. Eu, Alexandre, Francisco, Galeno e Ricardo Reina. Naquele pouco tempo, conheci quase toda a obra de Edson Gomes.
– Man, vamos escrever a biografia de Edson Gomes — me propôs Reina, em 2012, fazendo em seguida uma defesa desnecessária sobre a magnitude do artista.
Reina frequentava o “baba de Edson”, todas as terças, na cidade de São Félix. O baba é sério, todo mundo uniformizado, tem juiz, bandeirinha e uma regra clara: ninguém pode tomar a bola de Edson. Pode cercar, pode interceptar o passe, mas tomar a bola não pode. O juiz marca falta. No final, há uma confraternização na rodoviária, com comida e bebida à vontade, tudo bancado por Edson, que também paga a passagem para que jogadores da região possam ir jogar e voltar para casa depois.
– Nesses momentos de descontração, na cervejinha, Edson tá me contando a história da vida dele e acho que você podia colar.
Achei a ideia ótima e me animei. Reina então marcou numa quarta-feira uma reunião na casa de Edson, em São Félix, para discutirmos a ideia e iniciar o projeto.
– Chegue às 15 em ponto que ele é muito pontual — me advertiu, inúmeras vezes.
Saí de Salvador às 13 horas sob uma chuva torrencial, pegando a BR 324 com fluxo intenso de caminhões, mas consegui chegar na hora marcada.
– Edson não está me atendendo — disse Reina.
Três e meia da tarde e nada. Às 16h, enfim, conseguimos contato com Jeremias, um dos filhos de Edson, que disse que o pai disse que era para a gente dar uma volta pela cidade e voltar em meia hora. Demos uma volta pela cidade, vimos o trem passar, Reina me falou da ponte trazida por D. Pedro II e voltamos. Edson apareceu na sacada. Do meio da rua, olhando para cima, Reina me apresentou.
– E aí, Edson, beleza? Esse é o brother que te falei que vai fazer o livro comigo…
– Venha cá, essa reunião pode ser amanhã? — perguntou o rei, indiferente a minha presença.
– Amanhã? Porra, Edson, o cara veio de Salvador… — defendeu Reina.
– É que agora eu vou almoçar… Tô cozinhando.
Ao voltarmos para o carro, Reina estava visivelmente constrangido e já foi me pedindo mil desculpas. O tranquilizei rapidamente:
– Relaxe, esse vai ser o prefácio.
Nos dias seguintes, ainda decepcionado, avisei que não iria mais até lá para fazer essa iniciação e então Reina lembrou que Edson vinha pra Salvador, onde tinha um escritório, sempre às sextas-feiras, para fechar shows e coisas relativas a sua carreira. O escritório ficava na Av. 7 e achei a ideia mais plausível e confortável.
Marcamos um encontro, parei o carro em um estacionamento e, saindo a pé, ouvi “Adultério” (Rastafari, se desligando desse sistema) tocando. Era o porteiro do estacionamento. “É um sinal”, pensei. Atravessei a rua, achei o prédio onde ficava o tal escritório e mais uma vez o som de Edson Gomes entrava em meus ouvidos. “Não acredito que seja isso”, pensei, enquanto subia os dois lances de escada e a música “Hereditário” ficava cada degrau mais alta.
Chegamos no andar e era aquilo mesmo: Edson Gomes ouve Edson Gomes. Fomos recepcionados pelo secretário particular dele, que nos ofereceu uma água mineral. Aceitamos e sentamos no sofá, para esperar. Um PC estava aberto ao meu lado, no perfil de Edson no Facebook. Estiquei a cara e vi que ele tinha duas notificações. Fomos chamados.
Em seu território, depois de um baba, bebendo com os seus, os detalhes contados pra Reina eram incríveis, porém, num escritório calorento, com o barulho da Av. 7, no sol das 13 horas, de frente para um estranho, as histórias não saíam. Depois de duas horas de conversa truncada, nos despedimos com a promessa de outro encontro. O Facebook ainda estava aberto quando passei. De novo estiquei para ver. Agora haviam 197 notificações.
Cinquenta anos atrás, em Cachoeira, cidade histórica do Recôncavo Baiano, um sisudo senhor, de pouca conversa, que não brincava com as crianças e era o juiz de futebol mais respeitado da região, expulsou o filho de casa.
– Vou ser músico — disse Edson, com 13 anos de idade.
– Vai ser músico na puta que pariu — disse o pai sisudo, botando o adolescente para fora.
O que o incomodava, é que Edson ficava na calçada o dia inteiro, segurando o violão, tentando tocar alguma coisa. Ser músico já era visto como coisa de vagabundo, daquela forma então, era demais. “Filho de pobre tem que trabalhar”, dizia o pai.
Durante toda a adolescência, Edson viveu fugindo dele. Quando o pai saía para jogar dominó, a mãe pedia para alguém o procurar. Era a chance dele entrar em casa, comer e tomar um banho. Apesar de tocar o dia todo, ele não evoluía no violão. Tocava de uma maneira tão grotesca que o instrumento tinha mossas nas primeiras casas, pois aquelas eram as únicas usadas por ele, já que não sabia colocar pestanas e acordes mais complexos. Só ficava no sol, lá, ré, mi, dó até que aquele encontro, que analisado agora, parece ser destino, aconteceu.
– Olá, eu sou Roque — disse um cara um pouco mais velho, 21 anos, se aproximando e pedindo o violão. Edson entregou e ficou fascinado com as coisas novas e ainda simples que aquele então desconhecido apresentava.
Em busca de conhecimento e pelo prazer da amizade, Edson colou em Roque, passando a frequentar a casa do novo amigo com regularidade e começando uma parceria que geraria uma primeira composição chamada “Todos devem carregar a sua cruz”. Como Roque tinha problemas respiratórios, Edson ficou com a missão de cantar quando se apresentaram, em 1972, no festival do Colégio Estadual de Cachoeira. Ali, aos 17 anos, Edson ganhava o seu primeiro prêmio, porém, um tempo depois, perdia o seu primeiro parceiro. Os problemas respiratórios eram sérios e, com perdão do trocadilho, Roque morreu.
Mesmo sem ter tido tempo de aprender mais o instrumento, os novos acordes que descobriu com o amigo já eram suficientes para compor sem limites. Em 1977, ganhou outro festival, iniciando assim um pequeno reconhecimento artístico, mesmo que apenas ali, na sua cidade. Porém, na contramão dos seus sonhos, o recôncavo estava em decadência, sobretudo financeira, e Edson decide ir para o Rio de Janeiro a procura de Adelzon Alves, radialista (o amigo da madrugada) que ele conheceu e que tinha sido responsável por colocar uma música dos Tincoãs em uma novela da Globo. No Rio, com apenas o violão, Edson mostrou duas novas músicas para ele. Uma chamada “Samarina” e outra chamada “Malandrinha”.
A tradição musical do recôncavo é de roda com maraca, tumbadora, timbal e um violão para fazer a harmonia, o tradicional sambão, como foi batizado. E eram assim as suas músicas, bem diferentes das versões que conquistariam o Brasil inteiro só 10 anos depois. Elas até podiam ser reggae no protesto, na letra, mas no contexto musical, não.
Adelzon, um tanto desinteressado com aqueles sambas, deu uma desculpa qualquer e sugeriu a ele que voltasse depois do carnaval. Sem dinheiro e sem esperanças, Edson ainda foi para São Paulo, de onde viu na TV uma notícia que naquele momento não teve muito impacto para ele: um tal de Bob Marley tinha morrido. Por outro lado, de Cachoeira, chegava uma notícia com um impacto maior: volte, sua filha nasceu.
Agora de volta, com mais experiência, percebeu que aquele pequeno reconhecimento local ainda existia e podia ser melhor explorado. Voltou a perambular pelas ruas, a compor novas músicas, apresentando ao público pelas ruas da cidade.
“Tim Maia vai tocar na beira do rio”, era o burburinho na cidade. Tim Maia era o seu apelido e até aquele momento, seu nome artístico involuntário. De frente ao imponente e decadente Hotel Colombo, cuja a carcaça está lá até hoje, Edson, com caixas de som emprestadas e um fio ligado ao violão (um soundsystem raiz) tocava os sucessos dos seus ídolos Tim Maia e Raul Seixas, colocando pouco a pouco suas músicas no repertório.
Ali, naquele cenário onde ele se sentia extremamente à vontade, a pequena e imponente plateia que o acompanhava de forma cativa, passa então a exigir dele que tocasse apenas as músicas autorais. “Sombra da Noite”, gritavam uns, “Malandrinha”, gritavam outros, fazendo Edson ganhar confiança, autoestima e a se apresentar agora aos sábados, domingos e em outras cidades vizinhas, como Muritiba, Maragogipe e Santo Amaro, conquistando cada vez mais gente e ficando conhecido como o Bardo do Recôncavo. Os relatos de quem presenciou esses eventos são de catarse coletiva. Os bares e ambulantes comemoravam o sucesso do Tim Maia local com as vendas de todo o estoque de cerveja.
Empolgado, Edson se apresenta em todos os cantos em busca de notoriedade, daquela chance de ir além e vai pela primeira vez a Salvador. Lá chegando, com apenas o violão e as composições que ainda se transformariam em hinos, subiu ao palco do Troca de Segredos para deixar em êxtase a plateia que lotava o circo. Dizem que Caetano estava nessa noite. Nessa soma de aparições, o destino o apresenta a outro músico de Cachoeira. Ao ver Edson no palco, Nengo Vieira fica hipnotizado pela força daquelas letras e melodias. Conseguia mentalmente construir os arranjos de cada instrumento enquanto ouvia Edson tocar, enxergando em sua frente um cara com um nível de composição que ele não via em ninguém. “Achei”, ele pensou.
Nengo tinha a Studio 5, banda experiente que já tinha tocado com o cantor Lazzo Matumbi, e convidou Edson para fazer uma participação especial num show, em Cachoeira, um pouco antes do próprio show de Edson na porta do Hotel Colombo. Edson aceitou o convite e, cada vez mais íntimo daquele momento, fez outra apresentação arrebatadora, avisando ao público que iria continuar ali do lado. Quando desceu do palco, o povo todo foi atrás. A quadra esvaziou, Nengo parou o show e os músicos todos também foram embora junto com o público. “Temos que chamar esse cara para banda”, disseram.
Com uma ajuda nos editais, a Studio 5 ganhou um projeto da Bahiatursa chamado Bairro a Bairro, para tocar nos bairros da cidade, e Nengo achou que era o momento certo para uma aproximação mais concreta. A proposta era Edson tocar seis músicas no meio da apresentação que, com o acompanhamento da banda, passaram a flertar finalmente com o ritmo jamaicano. Foi com esses novos amigos que Edson passou a conhecer mais a obra de Bob Marley e a enxergar no reggae um meio naturalmente mais adequado para a sua mensagem de luta e liberdade, fotografia do que via e ouvia pelas ruas da sua cidade.
Em 1985, enquanto a axé-music já está com os dois pés nas multinacionais, a Studio 5, agora com Edson, participa do festival Canta Bahia, em Feira de Santana, com ele ganhando o prêmio de melhor intérprete, e a banda como melhor banda, sendo um dos prêmios a gravação de um compacto. Sem a experiência regueira que a banda viria a ter e, muito menos, sem a experiência em gravação, o disco fica muito mal gravado, o que não tira de Edson a vontade de fazer algo acontecer.
Com o vinil na sacola, pegou um ônibus para Salvador e passou uma tarde em Itapoan. Itapoan FM, rádio do poderoso Cristóvão Rodrigues, que o ignorou até o último momento, o deixando a tarde inteira esperando. Com má vontade, o atendeu no fim do expediente, colocando o disco para tocar, dizendo, sem cerimônia, que era muito ruim, que jamais iria investir naquilo.
Decepcionado, voltou para casa melancólico com aquela resposta e passou a questionar a carreira. Estava fazendo o nome dele, já tinha música no cenário popular, mas de fato nada acontecia. “Faço sucesso, mas não ganho dinheiro”, pensava. Em Salvador, tinha colocado o circo Troca de Segredos na palma da mão, e nada. Ganhou o Festival Canta Bahia, e nada. Lotava as praças das cidades e nada. Cansado e vendo seu sonho se desfazer, a realidade era que ele já tinha 30 anos de idade e sua companheira, mãe de sua filha, era empregada doméstica na casa de um médico. Atordoado, começou a fazer coisas para chocar. Em um sábado, na feira lotada, abriu um coco e despejou nos dreads. Depois passou a correr pela cidade sem parar. Três, quatro, cinco horas correndo e jogando agua de coco na cabeleira rastafári. O assunto do momento era “Tim Maia tá maluco, vai se matar”. Preocupado, um amigo o levou para um sítio na beira do Paraguaçu. Lá, conheceu a macrobiótica, parou de comer carne, de fumar maconha (continua sem fumar até hoje) e voltou a falar de outras coisas, como o futebol, seu outro grande sonho. Torcedor do rubro-negro baiano, Edson jogou bola até pouco tempo atrás. Hoje é técnico do Cão de Raça Futebol Clube, quatro vezes campeão da liga cachoeirana. No recôncavo, futebol é coisa muito séria, faz parte do caráter. Se você sabe jogar, tem moral na cidade toda, inclusive fazendo carreira política.
Com a melhora significativa, Edson retorna para Cachoeira animado, se inscreve no então prestigiado Troféu Caymmi e se reúne com Nengo com a exigência de que não seria mais Studio 5, mas, sim, Edson Gomes e Banda Cão de Raça. Nascia ali o reggae brasileiro. Nengo, sábio e maduro, aceita sem resistência, em um código de coalizão entre pessoas que se respeitam e que tinham interesses em comum, fazendo os frutos, enfim, serem colhidos. Com a música “Rasta”, ganham o Caymmi e marcaram um show numa casa no Rio Vermelho chamada Ad Libitum.
A caminho da sua emissora de rádio, Cristóvão Rodrigues teve dificuldade de passar pelo local e perguntou a um transeunte o que estava acontecendo. “Vai ter show de Edson Gomes”, gritou ele. Rodrigues foi olhar. “Quem perambula é quem pode ver”, cantava Edson. A ficha caiu na hora: aquele cara que ele esnobou dois anos atrás era um verdadeiro sucesso. E, mais que isso: enquanto todos lutavam para entrar na indústria, Edson era a rua que a indústria queria. Um sucesso natural, sem gravadora, sem empresário, sem jabá. Era só a música.
Com a moral conquistada com a EMI, graças ao sucesso de Sarajane que tinha pipocado no Brasil todo, Cristóvão Rodrigues alerta Wesley Rangel, dono dos estúdios WR, templo do Chiclete com Banana, Banda Reflexus, Luiz Caldas (só esses três, nessa época, somavam dois milhões de discos) e único caminho para qualquer artista baiano naquele meio pro fim de década 1980:
– Esse cara vai estourar, é melhor que seja com a gente. Grave a fita que eu consigo um contrato.
Paralelamente e em uma grande coincidência, a própria Sarajane conhece as músicas de Edson Gomes e fica encantada a ponto de gravar duas no seu segundo LP, inclusive batizando o disco com uma delas, “História do Brasil”. Ali, o nome dele começou a ventilar pelos corredores da EMI, multinacional que já estava ligada no que surgia na Bahia, o que facilitaria todo o processo.
Com extremo rigor nos ensaios, postura e horários, a convivência entre os músicos era muito boa e o clima era de união e profissionalismo. Todos sabiam que uma real carreira estava em jogo. A banda estava extremamente afiada e se aprofundou mais ainda no reggae, com Nengo estudando todas as texturas de Bob Marley, colocando arranjos matadores nas músicas de Edson Gomes, assim como Family Man fez com os Wailers.
Sem muito trabalho, Rangel grava o primeiro disco, perplexo em como as músicas já estavam prontas, sobretudo nos arranjos de metais que Edson apresentava com a boca. O único incômodo nessa gravação foi quando Cristóvão Rodrigues sugeriu colocar elementos do Olodum no disco, fazendo Edson ameaçar parar tudo.
Com esse disco, Edson disse para si mesmo “agora sou artista”, 20 anos depois de ser expulso de casa porque disse queria ser músico. Era um negro do recôncavo em uma multinacional. A EMI, mesma gravadora dos Beatles, torrou dinheiro no lançamento. Mimos para a imprensa com um kit contendo uma fita cassete, um vinil e uma então novidade chamada CD. Foi o primeiro disco baiano a ser lançado em CD. Segundo a biblioteca nacional, o disco Reggae Resistência, com um rastafári na capa, 80 mil cópias vendidas, gravado em 87 e lançado em 1988, é também o primeiro disco de reggae do Brasil.
Com “Samarina” tocando sem parar e chegando ao topo das paradas nas rádios, Edson Gomes e a Banda Cão de Raça chegam ao Globo de Ouro e ao Xou da Xuxa, em uma época onde isso era extremamente difícil e relevante para qualquer carreira musical, fazendo os executivos da gravadora vibrarem com o contrato de três discos que assinaram.
Desse primeiro contrato com a EMI, Edson gravou ainda mais dois discos. Todos cheios de hits. No terceiro, chamado “Campo de Batalha”, lançado em 1992, uma coisa o incomoda até hoje. Para ele, Nengo, que dirigiu o primeiro e segundo, nesse terceiro trabalho, de repente, ficou desinteressado. Edson tinha total confiança nele e só viu o resultado quando chegou para gravar a voz. “As músicas estão muito arrastadas”, reclamou. Como não tinha mais tempo, o disco ficou assim mesmo. “Não gosto, é muito lento”, diz ele hoje. Indiferente a sua opnião, “Campo de Batalha” teve o lado A inteiro tocado nas rádios. “Criminalidade”, “Árvore”, “Campo de Batalha”, Somos nós” e “Ovelha”, uma a uma alcançou o topo das paradas.
O segundo, lançado em 1990, é o grande clássico, onde Edson mostra que é muito mais do que se imagina. Se o primeiro tinha interferências de Rangel e Rodrigues, esse tinha um Edson mais experiente, com mais moral (orçamento maior) e mais personalidade. Não é à toa que o disco é batizado de “Recôncavo”. “Adultério” abre o lado A, num ataque certeiro, com sua linha de baixo pulsante e arranjos de metais imortalizados. O vinil ainda tem “Lili”, “Guerreiro do terceiro mundo”, “Filhos da terra”, o hit “Fala só de amor” e uma singela peculiaridade na contracapa: uma foto em destaque de Roque, seu primeiro parceiro, que não viu o sucesso que ele fez.
“Edson Gomes: A trajetória de vida de um ícone do reggae nacional. Relações de classe e raça na formação da cultura brasileira”, de Ricardo Reina. Disponível no link.
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