Essa estória (é com ”e” mesmo) da trajetória de uma mulher negra que soube da existência da África aos 40 anos. Mas, antes, teve que vencer um medo que sentia de dar um passo em qualquer direção e cair no fosso vazio e profundo que lhe cabia. Ela tinha um sonho: estudar e nunca ser empregada doméstica. Foram vários percalços, atalhos e derrotas até que, um dia, Exu falou com ela no sonho: “Você vai ter de ir, e não vai ser fácil.” E tudo foi real, aconteceu mesmo e ela nunca mais se esqueceu da frase: ”Tome cuidado e vá. Atrás do medo tem um sonho que pede coragem.”

Dona Jacira
Artesã, artista plástica, mulher, mãe, negra e periférica são algumas das características que definem Dona Jacira. A griot, guardiã das histórias de seu povo, nasceu no dia de Natal, em 1964, no Jardim Ataliba Leonel, na Zona Norte de São Paulo. Jacira é filha de Maria Aparecida, de quem herdou a garra e o gênio forte, e protagonista de uma trajetória marcada não somente pela luta – para vencer a opressão, a violência e o preconceito -, mas, também, e, principalmente, pelo riso solto, espontaneidade e franqueza. Mãe de Katia, Katiane, Evandro (Fióti) e Leandro (Emicida), a escritora compilou em seu primeiro livro, intitulado “Café” (2018), publicado pela editora LiteraRUA em parceria com a Laboratório Fantasma, a voz de uma mulher que decidiu perseverar.