*Por Paulina Chamorro

A sorridente Berna Barbosa é uma daquelas pessoas que são exemplo de simpatia. Há mais de 35 anos a paraense, original de Oriximiná, chegou ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, o primeiro nesta categoria do Brasil, e de lá nunca mais saiu.

O Arquipélago dos Abrolhos, no sul da Bahia, é como se fosse um recanto especial de amor. É para lá que vão várias espécies para se reproduzir em diferentes períodos do ano. O movimento mais conhecido de todos é o das baleias jubarte, de julho a novembro. Por todo o caminho navegando, saindo de Caravelas, nestes meses é possível ver baleias saltando ou copulando.

Julho também é o período de reprodução do atobá mascarado, uma espécie de ave muito amada por Berna. E foi neste mês que chegamos para conhecer de perto o trabalho de educação ambiental e de acompanhamento de estudo e pesquisa feitos nas ilhas, realizados com tanta dedicação por Berna Barbosa.

Todo este amor foi reconhecido internacionalmente em 2023 com o prêmio “International Ranger Awards”, organizado pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN). Berna se tornou então, aos 60 anos, a primeira brasileira a receber este prêmio, que é um reconhecimento aos profissionais que atuam diretamente em Unidades de Conservação.

A rotina de Berna, que é uma servidora do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), é no mar e nas ilhas. Além de receber os turistas que chegam para experiências no Parque Nacional, Berna também faz o monitoramento dos ninhos das diferentes espécies de aves que chegam e se reproduzem em Abrolhos. A rotina também é no mar: quando não estão em período reprodutivo, as espécies de tartaruga-marinha que chegam até Abrolhos passam pela vista de Berna e ela mergulha com uma velocidade impressionante para capturar e marcar, ou monitorar, o estado de saúde de muitas delas. Por meio de uma marcação colocada nas tartarugas é possível acompanhar peso, crescimento, alimentação e muitas outras informações, que servem para importantes pesquisas sobre a biodiversidade brasileira.

A paraense Berna Barbosa é uma das  figuras mais queridas da conservação marinha do Brasil. Reconhecida como a maior guarda-parque do planeta em 2023, ela recebe visitantes no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos há mais de 35 anos.

Foto: João Marcos Rosa/Nitro

Berna saiu do Pará, da Amazônia brasileira, para chegar ao mar pela primeira vez aos 25 anos de idade. Acompanhando seu antigo companheiro, que gostava muito de mergulhar, logo de cara não se identificou com o ambiente cercado de água salgada. Mas foi depois de um trágico incidente, com o falecimento deste companheiro, que Berna decidiu enfrentar o destino e resolveu ficar na ilha. Logo se tornou servidora do órgão de conservação do governo brasileiro e passou ser uma das principais responsáveis pela manutenção da biodiversidade marinha do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

“Eu me sinto muito honrada em atuar nesse lugar maravilhoso, fazer essa contribuição com a conservação dos oceanos, da natureza, e saber que deixei minha marca aqui. Às vezes, a gente nem precisa de nada, não precisa ganhar muito; precisa só ter olhos e o coração abertos para cuidar de um lugar como esse. Então, me sinto super agradecida por fazer parte dessa conservação dos oceanos, de Abrolhos e saber que consegui deixar este ensinamento a várias pessoas, que vão cuidar de um lugar como este. Porque você tem que ter olhar e coração. E uma coisa que sempre falo para todo mundo é com relação à necessidade de sermos humildes para conquistar as pessoas e elas terem um olhar para esse lugar maravilhoso. Então, sou só agradecimento à natureza, por ter feito parte dessa história.”

“Quando cheguei em Abrolhos e comecei a participar das pesquisas, quando vi meu nome sair nas pesquisas, quase nem acreditei. Eu não sou doutora, não sou nada. Mas fiquei muito feliz e acho que foi o esforço que fiz de conhecer o lugar. Porque quanto mais você fica no lugar, mais você conhece. Se você não tiver o olhar para tudo isso, para a natureza, para tudo, você não aprende. E eu gosto muito de escutar. E esse aprender, eu ia levando para a frente, espalhando para as pessoas. E aí fui aprendendo. Agora já sou ajudante de pesquisador”, diz Berna Barbosa.

O amor pela natureza e pelos animais exala de Berna Barbosa em cada palavra e gesto de generosidade voltados a educar e conversar.

Por isso mesmo, ela é uma das figuras mais queridas de todo o litoral brasileiro.

E como está escrito em uma pedra ao chegar à Ilha principal  do Arquipélago: Abrolhos é para quem sabe amar!