Saiba os motivos pelos quais você não deve subestimar a música urbana que mais empodera a comunidade latina e as mulheres
Roberta Della Noce é comunicóloga, pós-graduada em jornalismo cultural pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em Comunicação Social com Perspectiva de Gênero pela Universitat Autònoma de Barcelona. Publicou, de forma independente, o livro “Curadoria musical: a apropriação do termo curador no universo da música” (2016). Desde janeiro de 2018 está à frente da área de comunicação do Sesc Avenida Paulista, tendo trabalhado anteriormente no Sesc Pompeia. Desde 2008 acompanha a cena reggaetonera da América Latina e, em 2011, criou a Gente Fina, Elegante e Sincera, festa que apostava em sons do “terceiro mundo”, entre eles a cumbia, ritmos tropicais e, claro, o reggaeton! “Mi norte es el Sur”.
Capa por Ale Amaral – Paulistano e pai da Laura. Trabalha no Sesc São Paulo desde 2004, atualmente como designer gráfico no Selo Sesc. Toca bateria no barulhento duo Bugio e colabora musicalmente com diversos artistas nacionais da cena experimental e de improvisação livre.
“O reggaeton é o novo pop”, foi assim que o colombiano J. Balvin, premiado no Grammy Latino 2018 por seu álbum Vibras (categoria Música Urbana), definiu a expressão musical mais pop e recente das Américas. Ao lado de outros latinos, Balvin figura como um dos artistas mais ouvidos no mundo. Na lista de músicas da Global Top Charts 50 do Spotify, consultada na primeira semana de novembro de 2018, pelo menos um quinto delas apresenta versos cantados em espanhol, como I Like It, de Cardi B, norte-americana com raízes dominicanas, em parceria com J. Balvin e o porto-riquenho Bad Bunny. Esse é um dos muitos exemplos de como refrãos latinos têm sido intercalados com versos em inglês (e vice-versa) ou, ainda, de como os imigrantes que vivem nos Estados Unidos usam o dialeto informal ‘spanglish’ como um recurso estilístico em suas canções. As duas músicas mais executadas no mundo naquela semana eram de artistas latinos, cantadas em espanhol: Taki Taki, com Selena Gomez, Ozuna e Cardi B, e Mia, de Bad Bunny, com a participação de Drake.
Há pelo menos dez anos acompanho a cena reggaetonera que, já em 2008, dava sinais que a língua não seria barreira ao soar em bares da França, frequentados pela comunidade latina. As viagens ao cone sul (Argentina, Chile e Uruguai) e ao caribe (República Dominicana) entre os anos de 2009 a 2012 sinalizavam que o ritmo não estava apenas “de moda”, ele vinha para ficar. Entre 2011 e 2013 discotequei muito reggaeton pelas pistas por onde passei. O ritmo provocava balanço, mas ninguém se mostrava interessado em pesquisar que tipo de som era e de onde vinha. Soava como “bailável”, som latino de festa (e muita gente não entendia o que era dito nas letras). No início de 2016, já vivendo na Espanha, ofereci uma pauta quente para uma revista especializada em música pop: falar sobre o fenômeno reggaeton — já consolidado na Europa e América Latina — e então realidade promissora no Brasil. Para sustentar o texto, uma provável entrevista exclusiva com ninguém menos que Maluma, o “príncipe do reggaeton” e um dos nomes mais importantes na atualidade por firmar a Colômbia como um dos países da cena musical neste gênero. A pauta não vingou, mas o reggaeton sim. E veio com Anitta.
De 2014 a 2017, a busca por música latina no mundo aumentou 110% com, em média, dez canções entre as cinquenta mais executadas, alcançando números inéditos na indústria musical: seis dos dez vídeos mais assistidos no Youtube são de artistas latinos. Outro fator notável é o aumento de colaborações entre gringos e latinos, como Beyoncé cantando em espanhol em Mi Gente, canção de J. Balvin; Cardi B e Selena Gomez que gravaram com Ozuna; Bad Bunny com Demi Lovato e Drake; Justin Bieber com Luis Fonsi e Daddy Yankee, e mais dezenas de outros artistas que viram nesse novo mercado uma oportunidade. Anitta percebeu a brecha e se aproximou de produtores gringos que já trabalhavam com astros do reggaeton, se aventurando pelo ritmo pela primeira vez em 2016, com Ginza, um remix de J. Balvin. Neste momento, Anitta ainda cantava em português, mas rapidamente se deu conta de que para penetrar no mercado latino e mundial era preciso lançar-se cantando em espanhol e inglês. Na série Vai Anitta, recém-lançada pela Netflix, é possível entender os passos dados pela artista para firmar-se como a primeira reggaetonera brasileira.
O que antes era um subgênero discreto no mundo da música pop, hoje é um fator de mudança no mercado. Cada vez mais, públicos distintos, que não dominam o espanhol, consomem reggaeton, e artistas, incluindo de outros gêneros, se rendem às batidas para salvarem suas carreiras. Estrelas pop dos anos 1990, como Thalia, Shakira, Enrique Iglesias e até Maná, que, em parceria com Nicky Jam lançou De Pies a Cabeza, são bons exemplos. Thalia se juntou aos cubanos do Gente de Zona e à novata dominicana Natti Natasha; Shakira, por sua vez, lançou recentemente o videoclipe da canção Clandestino com o compatriota Maluma; e o espanhol Enrique Iglesias se rendeu de vez ao estilo, assinando parcerias com Gente de Zona, Wisin e Nicky Jam.
Outra mulher que flertou com o gênero, mas nem por isso pode ser considerada reggaetonera na essência é Goyo, a alma feminina do grupo Chocquibtown, embaixadores da música colombiana que já se apresentaram no Brasil. Ao lado de Tostao, seu esposo, e Slow Mike, seu irmão, a produtora e cofundadora da banda, gravou Hasta que Amanezca, um hit com o frescor do verão que mescla as batidas de reggaeton com os ritmos tradicionais do litoral pacífico colombiano. Chocquibtown é conhecido por seus hits Somos Pacifico, De Donde Vengo Yo e Calentura, parceria com um dos precursores do reggaeton, o lendário Tego Calderón.
Saindo da América Latina, também encontramos outras artistas que usaram o gênero para expandir seu público. É o caso de Bebe, cantora e atriz espanhola que ainda não tivemos o prazer de ver ao vivo no Brasil. No final de julho de 2018, Bebe lançou Corazón e recebeu inúmeras críticas de seus fãs que a acompanham desde o início de sua carreira (meados dos anos 2000). Com estilo pop indie, Bebe rompeu com os preconceitos e inseriu batidas de reggaeton em seu mais novo single.
“Não há como falar de reggaeton sem falar de sexismo.”
Embora tenha citado algumas mulheres neste texto, são os homens que dominam a cena reggaetonera no mundo. Não há como falar de reggaeton sem citá-los. E não há como falar de reggaeton sem falar de sexismo. Precursores do gênero, os homens controlavam 99% do mercado até meados dos anos 2000, se não fosse por um único nome: Martha Pesante, mais conhecida como Ivy Queen, a porto-riquenha que leva a alcunha de “la reina del reggaeton”. Com frases impactantes que rechaçam a estigma do gênero (Somos rapperos, no delincuentes) e verdadeiros hinos feministas, como Quiero Bailar (¡Mujeres, pa la disco a perrear!, pero que él no se crea que puede jugar), a “reina” lançou seu primeiro álbum em 1997. En Mi Imperio já exigia paridade entre homens e mulheres e reivindicava seu lugar como cantora e rapper num ambiente exclusivamente masculino. Pelos nomes dos álbuns seguintes, já se nota que Ivy Queen sempre foi uma feminista: The Original Rude Girl, de 1998, e Diva, de 2003. Canções como No Pueden Pararme e Que se Jodan mostram a afinidade com o hip hop e como rapper. Que lloren, trilha sonora do game FIFA 2007, a fez conhecida em outros territórios.
Até pouco tempo, vozes femininas eram emprestadas apenas para coros, sem serem creditadas, sendo Ivy Queen a grande exceção. Ela trouxe o sentimento e a denúncia feminina que faltavam. Hoje, aos 46 anos, Martha Pesante segue na ativa e é a maior referência para as jovens da atual geração. Por quase duas décadas, as vozes femininas foram passivas e sem protagonismo, como a de Glory, “a gata gangster”, que apesar de sua voz inconfundível como parceira de Daddy Yankee em La Gasolina, vivia à sombra de grandes intérpretes homens (com Don Omar gravou Dale Don Dale e La Traicionera, e com Hector y Tito, Baila Morena). Em carreira solo, Glory lançou as polêmicas La Popola e Suelta como Gabete, tendo sido censurada com a primeira canção em alguns países (na República Dominicana, país de origem da artista, popola é como o órgão genital da mulher é vulgarmente chamado). Numa rápida busca pelo Google, é notável que seu nome esteja sempre associado ao de Don Omar e Daddy Yankee e que, mesmo interpretando a maior parte das canções, ele não aparece nos créditos.
Da mesma injustiça padece Demphra, a fundadora do grupo panamenho La Factoría. Embora tenha nascido na República Dominicana como Marlene Romero, Demphra se naturalizou panamenha e foi neste país que fundou um dos grupos mais conhecidos de reggaeton. Os hits Perdóname, de 2007, e Hay Otro en mi Vida, de 2009, seguem sendo as canções mais executadas da banda no Spotify e ambas, no Youtube, levam apenas o nome do grupo e não o de Demphra. A cantora segue na ativa, atualmente em carreira solo.
De uma geração mais atual de mulheres do reggaeton, está a porto-riquenha La Sista, que após um EP homônimo, lançado em 2002, lançou Majestad Negroide (2006) e mostrou por que a consideram uma das vozes femininas mais potentes do reggaeton. La Sista já colaborou com grandes nomes como Tego Calderón, Daddy Yankee, Tito El Bambino e Zion & Lennox.
Embora apontem o ritmo como sexista, machista, pobre em conteúdos musicais, culturais e reprodutor de violência contra a mulher, há quem justifique que a violência está em toda parte e que uma mulher cantando os mesmos versos que poderiam sair da boca de um homem é sim uma atitude igualitária.
“A música não é o problema, o problema são os cérebros”
No recém mini-documentário Hasta abajo: feminism, sexuality and reggaeton, lançado pela Red Bull, DJs, rappers, cantoras e compositoras rompem com a posição secundária da mulher nesse universo em que são cultuadas como troféus e a colocam na posição de protagonistas, ocupando postos de “reina”, “gangster”, em uma crítica à misoginia (ou não). Nota-se que a mudança tem ocorrido também com outros gêneros musicais, como o funk carioca e o feminejo: as mulheres passaram a estar nos palcos como a atração principal, expondo seus desejos fúteis e a sua posição de poder. Para a cantora e ativista feminista argentina Miss Bolívia, os gêneros musicais urbanos são crônicas do que se passa numa sociedade. “Parece divertido e provocador apropriar-se do reggaeton e utilizá-lo para reverter a situação, fazer reggaeton ou cumbia repudiando o machismo clássico. A música não é o problema, o problema são os cérebros”. Assim faz o grupo argentino feminista Chocolate Remix, que até inclui as palavras “mamita” e “culo” em suas músicas, mas em um código lésbico, uma fala de garotas para garotas. Miss Bolívia não é radical, já abriu shows de Maluma, que viu recentemente sua música Cuatro Babys ser motivo de uma petição na Colômbia exigindo a retirada da canção das plataformas de streaming. Muitas mulheres foram às redes sociais denunciar o quanto se sentiam agredidas pela letra misógina.
Elas ditam moda, desfilam em carrões, usam joias, falam de sexo com naturalidade e buscam diversão da mesma forma que os homens sempre o fizeram. Versos como os de Mi Cama, da colombiana Karol G, tratam de relações fugazes, amores que nascem na pista de dança e frases com indiretas para os homens. Atitudes parecidas estão presentes em clipes de Karol G e Maluma, dois fenômenos colombianos. Nos versos de Karol, uma mulher avisa que está cansada de traições e que a cama dela não está vazia — já está “sonando”, fazendo barulho (No te preocupes, tu tren ya pasó, eso te pasa por andar con dos, la matemática a ti te falló, y te lo dije yo: mi cama suena y suena).
Nos versos de Maluma, o novo sex simbol de sua geração, ele pede desculpas em Mala Mia, com seu acento colombiano que faz muitas adolescentes suspirarem (Esa es mi vida, es solo mia, tu no la vivas, se te molesta, pues mala mia). Mala mia é uma expressão muito usada em países da América Central, assim como na Colômbia, e seria como um “sinto muito” em tom irônico, algo como “não tenho culpa se incomodo”. As letras reverenciam, por meio de expressões usadas entre os jovens, o amor próprio e a falta de paciência que se notam nas relações líquidas dos tempos atuais. Nos dois casos, a “fila está andando”, tanto para a mulher quanto para o homem.
Além de Karol G, outra popstar que tem visto sua popularidade aumentar consideravelmente após o sucesso Tu Pum Pum é Farina, mais conhecida como “la nena fina”. Farina é a segunda mulher colombiana, além de Shakira, a entrar para a Roc Nation, a gravadora de Jay-Z. A cantora e rapper tem a música em seu sangue, é da família de Totó la Momposina, cantora colombiana que mistura os ritmos tradicionais dos índios sul-americanos com a música afro-latina. A mescla étnica de Farina é potente: ela tem origens árabe, chinesa, peruana e boliviana.
Outras jovens reggaetoneras que já despontam como promessas do gênero são Leslie Gracie, de 23 anos, e Beckie G, de 21, ambas nascidas nos Estados Unidos, porém filhas e netas de latinos.
Sobre as origens do gênero, há quem atribua o início ao Panamá, local que herdou o reggae jamaicano e que o transformou no que, posteriormente, chamariam de reggae panamenho. Nos anos 80, nomes como El General entoavam as primeiras batidas do que viria a ser, anos mais tarde, o pop latino (Te Ves Buena, Muévelo e Tu Pum Pum são alguns dos sucessos), mas foram os porto-riquenhos que criaram o termo (reggae + tón = reggae grande), cantando rap em espanhol, numa espécie de versão latina do hip hop. Foi na ilhota que teve sua morada e segue sendo a efervescência da produção nos tempos de hoje. O gênero urbano, que demorou a desembarcar no Brasil, usa a condição festiva dos trópicos, evidenciando a mestiçagem cultural latina do final do século XX.
Até se firmar, o reggaeton sofreu mudanças e recebeu influência de muitas tribos, numa mistura de reggae, rap, hip hop e funk com outros ritmos afro caribenhos, como a champeta da Colômbia e o dancehall da Jamaica. A explosão a nível comercial chegou nos anos 2000, quando saiu da clandestinidade e projetou nomes que são considerados os líderes do movimento reggaetonero até os dias de hoje: Tego Calderón, Don Omar e Daddy Yankee.
Tego é o membro mais emblemático do underground (assim como já foi Calle 13, muito embora o grupo tenha se afastado do gênero com o passar dos anos), Don Omar é o padrinho dos novos e segue disputando com Daddy Yankee o título de “rey del reggaetón”, e Daddy, bem, esse é mais que um artista, é um empresário completo. Proprietário da gravadora El Cartel Records, já participou de mais de 70 álbuns, com apenas 41 anos. Entre suas parcerias estão Nicky Jam, Snoop Dogg e Luis Fonsi, autor de Despacito (2017), hit que se tornou a primeira música em espanhol a alcançar o número 1 da Billboard Hot 100 desde a canção “Macarena”, em 1996. Com esse sucesso, Daddy Yankee foi o artista mais buscado no mundo no serviço de streaming Spotify (junho de 2017) sendo o primeiro artista latino a conseguir tal feito.
Como toda manifestação urbana, “de calle”, o reggaeton é marginalizado e rechaçado pelas elites culturais, que muitas vezes escutam o som escondido. Por ser um estilo que nasceu nos guetos latinos, ultrapassou a música e se expandiu para a moda, a dança de rua, o grafite e outras manifestações da urbe. Hoje em dia é quase um modo de vida ser um reggaetonero.
Antes, quando se falava em pop latino no Brasil, pensava-se em bandas que conseguiram romper a fronteira do idioma e emplacaram, entre elas os mexicanos do Maná, os argentinos dos Los Auténticos Decadentes ou as bandas de Charly García (Sui Generis e Serú Girán). Para a nova geração, quando se fala em pop latino se fala em reggaeton (ou em trap). A penetração do gênero em países que não têm o idioma espanhol como língua materna foi uma surpresa para quem acompanha (e escuta) reggaeton há anos.
O êxito alcançado fora das Américas fica evidente neste mapa, confeccionado pelo Spotify, que afirma que 95% do reggaeton é exportado e que a maior parte das execuções ocorre fora das nações de origem, ou seja, quase todo o reggaeton produzido hoje é criado na Colômbia ou em Porto Rico, o maior polo musical dos Estados Unidos.
Os artistas de lá foram responsáveis por emplacar 27 dos 100 vídeos de música mais vistos no Youtube em junho de 2018. Como atribuir tamanho sucesso a uma pequena ilha de 3,4 milhões de habitantes, reconhecida como estado livre associado aos Estados Unidos? Os porto-riquenhos têm direito à cidadania americana, mas não ao voto em eleições federais e à representação no congresso americano.
Historicamente, esse espaço de protagonismo sempre foi negado ao pop não cantado em inglês e, por este aspecto, o reggaeton empodera a música latina como forma de resistência ao que é “americano” (como se a América Latina não fosse americana!). Essa quebra de um modelo consolidado na forma de consumir música chega a muitas esferas, entre elas a cultural e a social. O reggaeton se firma como um fenômeno de cultura de massa, em tempos de segregação étnica e de crescimento da intolerância no atual governo dos Estados Unidos, impondo um som cantado em um idioma que não o inglês. Recria o imaginário do bairro, do gueto, que sempre existiu pelas ruas de Miami, cidade dos latinos, e também de Porto Rico — são cinco milhões de porto-riquenhos vivendo nos EUA. É uma inversão do que hoje é cool, mas já foi brega (cantar em espanhol para os não latinos parece estar “de moda”, como dizem os hispânicos).
De subgênero de gueto a novo pop, o reggaeton é música de baile, não se pode esperar dela o requinte suficiente para satisfazer eruditos, nem esforços intelectuais para consumi-la. De 90 a 120 pulsações por minuto, o ritmo pegajoso é contagioso se você estiver em uma festa com alguns copos a mais na cabeça. É possível ver uma militante feminista dançando sem deixar-se atingir pelos versos sexistas e pela ostentação do blimbineo (correntes caras e prendas luxuosas). Como os próprios reggaetoneros dizem, esse ritmo “tiene flow” — palavra que se usa no mundo do hip hop e que virou expressão para dizer que algo ou alguém tem fluidez, malemolência.
Também não se pode negar a influência do gênero como produto da indústria comercial, pois fomenta comportamentos, atitudes, valores e consumo, claro. Ainda assim, o reggaeton não deve ser visto como o grande mal da sociedade, afinal, música machista sempre foi criada e consumida, basta ouvir com atenção sucessos que cantamos a vida inteira sem nos darmos conta de seu conteúdo misógino: ‘I Used to Love her’, de Guns N’Roses, história que acaba no assassinato da mulher amada; ‘Every Breathe you Take’, do The Police, canção que afirma o sentimento de posse de um homem por uma mulher que vive em vigilância constante; além das inúmeras canções dos Beatles, todas com teor psicótico (‘Getting Better’, ‘I’ll Cry Instead’, ‘You Can’t do That’, ‘Run for Your Life’ e ‘A Hard’s Day Night’).
Todos esses marcos dão orgulho a qualquer latino/latina e mostram que o reggaeton conseguiu o que parecia ser o mais difícil há dez anos: romper as barreiras do idioma e difundir a cena feminina. A primeira etapa foi alcançada, basta olhar os números. Agora, as amantes da cultura de calle, esperam ansiosas pelo dia em que as mulheres dominarão, pelo menos, cinquenta por cento do mercado. ¿Lo lograremos?
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