Quais são os três shows que mais vem a memória do multiartista paulistano
Paulo Miklos encarnou Chet Baker no teatro, mas já foi Adoniran Barbosa, jurado de um programa de talentos e atuou em uma novela da Rede Globo, por isso fica um pouco difícil associá-lo somente a motivo primevo de seu sucesso: o lendário grupo Titãs, de quem seu afastou em 2016, para seguir a dupla carreira.
Retomar uma conversa sobre música com Paulo Miklos parece uma tarefa que não requer muito esforço. Sentado Na Plateia do teatro do Sesc Santana em janeiro de 2018, ele deixou pra gente seus três shows memoráveis, além de uma história sobre um bootleg que virou música dos Titãs. Assista abaixo e leia a íntegra da entrevista logo na sequência.
“Bom, shows memoráveis… Na verdade, eu fui, eu escolhi estudar numa escola, porque eu soube que nessa escola havia shows, faziam shows na escola, e eu achei muito interessante isso. Eu ouvi falar isso, e ai falei com os meus pais que eu queria estudar nessa escola, especialmente porque tinha festivais de música. Eu não sabia muito bem o que era, mas ouvi dizer, e eu já era louco por música. Enfim, esse colégio era o colégio Equipe na época, e nós tínhamos um centro cultural na escola que promovia shows no pátio da escola. Isso foi na década de 70, final dos anos 70. 79, 77, por ai. Os artistas faziam o circuito universitário, faziam o circuito do Sesc, tocavam no Sesc. Eu vi muitos shows no antigo Sesc Vila Nova, que é atual Consolação, shows fabulosos, que realmente foram minha formação. E na escola a minha formação foi mais no pátio assistindo aos shows, do que dentro da classe. Eu tenho a memória maravilhosa de ver no palco, aliás, no chão da quadra de esportes, por exemplo, os Novos Baianos tocando com a formação original completa. Eu vi a Vanguarda Paulista. Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, esses caras fizeram minha cabeça, e a vontade de também ser músico, de também ter uma banda. Isso tudo pré a formação dos Titãs. A música popular brasileira em si eu vi na escola, ainda eu vi Alceu Valença só no violão, hoje eu faço o show aqui só no violão.”
‘Vi shows memoráveis, por exemplo, no Sesc Consolação eu vi Jards Macalé. Tantos shows importantes, por exemplo, Gilberto Gil só com violão, que pra mim é a grande escola, a grande influência da musicalidade de um Gil, por exemplo, a gente na plateia cantando. Tem até u1ma história interessante, porque eu levei um gravadorzinho cassete, botei no colo dentro da bolsa, abri um pouquinho e gravei o show do Gil. Eu era louco pelo Gil, sou louco por ele. E ai passaram-se anos, e assim, a fitinha cassete daquelas… Cassete pra quem não sabe é uma fitinha, enfim. Mas eu gravei. Você botava pra gravar e tal, gravei aquilo, e cantando né. Então a fita era eu cantando com o Gil, e todos nós cantando perto, minha namorada, etc e tal, a fita era isso. Mas o Gil cantou umas musicas inéditas nesse show, e eu guardava isso com o maior carinho. Ai passam-se vários anos, a gente, enfim, começa uma carreira e tudo, e o Gil convidou a gente para participar de ’20 Anos Luz’, uma grande comemoração de 20 anos de carreira do Gilberto Gil, com os Titãs. Ai eu falei pra banda “Olha eu tenho uma fita com uma música, uma música que tem tudo a ver com a gente, mas é uma musica inédita do Gil, chamada TV Punk. Vamos fazer um arranjo surpresa pro Gil” e ai todo mundo falou “Pô, genial, que coisa bacana, vamos fazer”. E ai eu levei aquela minha fitinha gravada na plateia há muitos anos antes, e fizemos o arranjo e na hora de apresentar fizemos o nosso ensaio, a nossa passagem de som junto com o Gil. Eu coloquei a letra assim no chão e não falei nada pro Gil, começamos a tocar e tal. Daqui a pouco eu vejo o Gil passando do lado, do outro, olhando e tal com uma cara amarrada, “Ih, ele está reconhecendo a musica”. Ai quando terminamos a música ele falou assim “Gozado, tenho uma música muito parecida com essa”, ai eu falei “Mas Gil, é a sua música mesmo. É que eu gravei um show”, “Como assim minha música?” ficou super encanado, da onde é que eu tinha tirado aquela música, como é que eu tinha entrado na cabeça dele, uma música que ele nunca tinha gravado. Eu falei “Gil, sou super fã seu. Do público eu gravei essa música, passaram-se anos e eu guardando essa fitinha e finalmente estamos aqui fazendo uma homenagem pra você”. Então a gente fazia essas loucuras como fã, no público e tal. Hoje em dia tem celular, a gente briga com as pessoas né, porque elas não assistem o show, estão querendo filmar, fotografar, guardar uma lembrança né, e a gente pouco que vivencia na hora, porque tá todo mundo com o celular né. Não posso reclamar então, sou um deles.’
‘Puxa, fora do Sesc, shows incríveis né. Desde estádios, de assistir o show dos Stones, por exemplo. Ou então outro no Morumbi, por exemplo, eu fui assistir o show do Bob Dylan e eu não reconheci quase nenhuma música dele, porque ele canta cada vez de um jeito diferente as músicas. Então eu estava no público junto com todo mundo “O que está acontecendo? Essa não é aquela música?”. Bom, ele realmente se dava o direito. Eu acho que ele tem todo o direito de fazer isso, mas o público querendo reconhecer as melodias e ele fazendo, enfim, a letra estava lá, a ideia estava lá. Então, enfim, shows memoráveis, mas esses shows que são perto, que você tem a possibilidade de ver o artista de perto são os meus preferidos, não só de assistir mas de fazer também, porque você sente, você tem uma troca imediata, próxima do público, então eu gosto muito.
‘Eu vi agora recentemente no Sesc Pinheiros o Letieres Leite, o maestro baiano tocando Moacir Santos, num show especial da Orkestra Rumpilezz. Que fabuloso, que maravilha. O Letieres Leite escreveu um arranjo pra esse meu disco mais recente “A Gente Mora no Agora”, e eu fui prestigiá-lo, eu fui assistir ao show. É um banho de musicalidade, uma coisa fabulosa. Lotado, cheio, que dizer, você oferece ao público música de qualidade, e as pessoas vão carentes e desejosas de ver as coisas.’
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