Autodidata e vencedor de um Grammy, o bandolinista lista seus três shows favoritos no Na Plateia
É muito fácil vê-lo transitando entre diferentes formações musicais e sendo um dos responsáveis pela revigoração de um gênero genuinamente brasileiro: o choro. Empunhando o bandolim de dez cordas e tocando com destreza, Hamilton de Holanda já convenceu que as gerações conservadoras e liberais tem mais é que esquecer das desavenças estilísticas e se jogar nessa harmonia toda.
E foi durante a passagem de som de um dueto com Armandinho, eterno guitarrista idealizador do trio elétrico, que Hamilton listou os três shows que fizeram sua cabeça pro “Na Plateia”. No afã de contar as coisas bonitas de se ver e ouvir ao vivo, o relato passeia pela história do instrumentista na adolescência, durante uma turnê em um dos maiores festivais que existem e com a família no “maior espetáculo da terra”. Assista ao vídeo abaixo e o relato na íntegra vem na sequência.
“Um primeiro que eu me lembro assim foi um show de um projeto chamado “Tom Brasil”, que era sobre música instrumental. Nesse dia… Eu morava em Brasília, devia ter os meus 16 anos por aí…15…16. No final do show quem tocava era o Hermeto Pascoal, então quando eu vi o Hermeto pela primeira vez assim, eu fiquei chapado. Eu tinha 16 anos e eu vi ele fazendo uma improvisação sobre temas do Luiz Gonzaga.
Em determinado momento ele foi para o piano, tava tocando um monte de coisa e, de repente, ele se sentou no piano e começou a misturar um monte de tema do Luiz Gonzaga de um jeito que eu falei “Como é que pode?”, porque a impressão que eu tinha, é que não tinha o tempo da cabeça, do pensamento e da realização, não existia diferença, era a mesma coisa, ia direto assim, eu fiquei “Caramba!”. Ia assim na hora, você via que era uma coisa de momento, então aquilo para mim foi marcante. Naquele show eu fiquei chapado.”
“Teve um outro show, aí eu já tinha 20 e poucos anos e eu fui participar do Rock in Rio em Lisboa, tocando com o Trio Curupira. E ai eu assisti lá o show do Metallica, eu fiquei “Caralho, como é que pode?”. Porque era o seguinte, bicho, era o fundo do palco inteiro de amplificador, com uma torre assim, torres né, uma não, eram torres de amplificadores, inteiro assim, aquele som mais alto do mundo. Só que, bicho, perfeito e não incomoda. Não era aquele som que incomoda, era um som alto perfeito, e eu fiquei de cara com aquilo, eu fiquei impressionado.
Selo Sesc: Mas você curtia Metallica?
Curtia. Não curtia de ter discos, mas eu sempre curti. Iron Maiden também. Tenho amigos que… Sempre foi coisa que passava ali. Não foi igual o samba e o choro na minha vida, claro que não, mas eu também curtia. Eu gosto de música, né.”
“E um outro que na verdade, o terceiro não é bem um show, mas é um espetáculo. Foi a primeira vez que eu fui assistir o desfile das escolas de samba lá no Rio de Janeiro. Eu fiquei chapado. Uma vez eu desfilei, mas eu achei mais legal quando eu fui assistir em um camarote daqueles lá.
Selo Sesc: Você se lembra quando?
Deve ter sido em 2005, 2004, 2005, por aí. Minha filha já era nascida, minha filha devia ter um aninho de idade, hoje ela tem 13. Então quando eu vi, e era uma escola atrás da outra. A parte mais emocionante era quando a bateria passava na frente da gente assim, que é um negócio forte aquela energia, mais de quatrocentos músicos tocando ao mesmo tempo e mantendo aquele trem, aquela coisa. Esse foi, eu diria que, tanto desses três eu também fiquei muito impressionado, muito emocionado.
Além disso, a mobilização de tanta gente, o pessoal das comunidades se mobilizam só por aqueles, são 80 minutos, né, de desfile, 70 minutos de desfile ali, a mobilização de um ano inteiro, e as pessoas para construir aqueles carros alegóricos, aquelas fantasias todas, aquilo eu fiquei realmente emocionado com o resultado de muito tempo de trabalho de pessoas comuns, assim, mas que fazem realmente, se não for o maior, um dos maiores espetáculos da terra, com certeza.
Selo Sesc: Teve um samba enredo?
Não, nesse dia eu não me lembro de um samba enredo específico. Foi a emoção, na verdade a sinestesia de ver, ouvir, sentir, porque é como, não sei se vocês já foram nas Cataratas de Foz do Iguaçu, que só de você chegar lá já vem um negócio de energia. Não é aquilo, mas é parecido com aquilo, você sente uma energia, então aquilo ali pra mim foi chapante.
“Ah, tem um show que eu vi uma vez, quando eu vi pela primeira vez o Nico Assumpção tocar, o baixista Nico Assumpção. Tinha um curso de verão, ainda tem até hoje lá em Brasília na Escola de Música, muito bacana, que vai gente do Brasil inteiro. E aí é música, bicho, 24 horas por dia. Cada cantinho da escola nego tocando, e toda noite tem um show dos professores, dos alunos, e tal, e em uma dessas noites.
Isso deve ter sido em, sei lá, 97, eu devia ter uns… Não, menos ainda, devia ter uns 18, 17 anos de idade, por aí; e aí era um show que o Nico Assumpção ia tocar e eu fui assistir. Era no Galeria, num barzinho que tinha na 304 Norte, ali em Brasília, Galeria que chamava, embaixo assim. Eu entrei, quando eu vi, eu fiquei na primeira fila. Fiquei de cara com o Nico. Eu fiquei também chapado, eu falei “Caramba!”. A facilidade, né? Como é que um baixo consegue ter esse tamanho todo? Porque normalmente o baixo tem aquela função que é do caramba também e é fundamental, que é a função de pilar da música. Mas o Nico, além de fazer essa coisa do pilar, ele ainda botava um monte de coisinha bonita assim. Eu fiquei também muito impressionado, muito emocionado de ver aquilo pessoalmente ali ao vivo.”
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