Teatro Mínimo: O Teatro que Aproxima

21/03/2025

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O público frequentador do Sesc Ipiranga habituou-se a assistir espetáculos tão diversos quanto inovadores no auditório da unidade. Mas a troca entre os artistas e público se dá de uma forma diferente neste espaço que, tem como características marcantes, a proximidade e a intimidade.

Criado em 2011 pela equipe de programação do Sesc Ipiranga, o projeto Teatro Mínimo foi concebido com o objetivo de apresentar temporadas de espetáculos teatrais que discutem a experimentação das linguagens cênicas, por meio de encenações focadas no trabalho de atuação, em proximidade e na relação direta com a plateia.

Para o ator Eduardo Mossri – que estreou dois espetáculos no projeto, Ivan e os Cachorros de 2012 e Cartas Libanesas de 2015 – alguns pontos foram importantes para a construção do trabalho apresentado neste ambiente de proximidade com o público: “A possibilidade de fortalecer uma atuação como resultado de uma relação franca e direta com a plateia, num jogo de cumplicidade com as pessoas que estão presentes naquele dia, com ou sem interatividade, mas tornando cada dia como realmente um dia único. Também ter tido a chance de desenvolver a habilidade com a improvisação, uma vez que nada se perde de olhos tão próximos, e a beleza está justamente em jogar com isso a favor da atuação e do espetáculo”. Logo após essas temporadas, os espetáculos seguiram trajetória dentro e fora do país. Cartas Libanesas abriu o 10° Festival Internacional de Teatro do Tanger / Marrocos de 2016 e esteve também no Théâtre Monnot de Beirute e na The Holy Spirit University of Kaslik / Líbano em 2017.

Eduardo Mossri em ‘Cartas Libanesas’. Foto: Felipe Stucchi

O Teatro Mínimo é um espaço democrático, que apresenta ao público temáticas pertinentes da sociedade, com obras oriundas de diversos lugares do Brasil.

O espetáculo carioca Se eu fosse Iracema, que cumpriu temporada em 2017, pôde apresentar ao público paulistano uma temática urgente em toda a nossa sociedade. “Se eu fosse Iracema é um trabalho concebido para espaços intimistas – a parte ser um solo, é uma peça que pretende fazer reverberar no espectador questionamentos e reflexões acerca dos povos indígenas brasileiros e que, portanto, traz consigo temas que dizem respeito à maneira como comumente o homem branco urbano contemporâneo vê e cria as relações políticas, econômicas e sociais no mundo e, mais precisamente, no Brasil. Assim, a relação aproximada com o espectador representa diálogo livre e direto com cada olhar, cada presença”, conta a atriz Adassa Martins, indicada ao APCA e Shell por este trabalho.

Adassa Martins em ‘Se eu Fosse Iracema’. Foto: Imatra

Ainda que em menor medida, o Teatro Mínimo bebeu da fonte do diretor polonês Jerzy Grotowski na obra Em Busca de Um Teatro Pobre, publicado pela primeira vez em inglês no ano de 1968. Sem muitas alegorias, o tipo de teatro apresentado aproxima ator e público e estabelece uma relação de cumplicidade que dificilmente aconteceria em espaços amplos como uma sala de teatro tradicional.

“Grotowski mostra em detalhes que o fundamento principal do teatro é a relação de atores e atrizes com os espectadores” ― Marcus Vinícius Faustini, diretor teatral, documentarista e escritor.

O Teatro Mínimo é o lugar justo, sem sobras, na forma da sala e no conteúdo do projeto, para a expressão de obras que pedem a proximidade e a intimidade em algum nível. Em conexão com as necessidades do tempo presente, oferece condições ideais para o desenvolvimento da sensibilidade da presença, do corpo do ator e de sua ligação com o corpo do público. Equipada em todos os sentidos, permite excelência técnica e humana das obras, que são pequenas no tamanho e não na dimensão da comunicação ou na relevância para a vida”, opina Georgette Fadel, que esteve presente em 2017 como atriz na experimentação Afinação I e como provocadora cênica em Instabilidade Perpétua. “”.

Georgette Fadel em ‘Afinação I’. Foto: Julia Zakia

O Teatro Mínimo foi indicado para o Prêmio Aplauso Brasil de Teatro (criado pelo jornalista Michel Fernandes) como destaque em 2018. Em 2019 venceu o mesmo prêmio como destaque pela votação do júri.

Por todas essas razões e afetos que compuseram a história do projeto, em 2025 o Auditório do Sesc Ipiranga permanece recebendo montagens com textos inspiradores, atuações marcantes e discussões que aproximam ainda mais o público e o Teatro.

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