Leia a edição de dezembro/22 da Revista E na íntegra Ilustrações: Luyse Costa
Megaron, sobrinho de Raoni, contemplava infinitamente o céu e, com seus olhos de águia, penetrava o universo como quem busca o ponto certo e focal, a definição de uma resposta aos problemas sociais, políticos, étnicos e existenciais dos povos indígenas unidos pela linha da vida e a linha dos clãs do povo Xinguano, escolhido propositalmente pelo Universo para fazer acontecer as mudanças que precisam acontecer na Terra.
Os invasores destruíam o meio ambiente Xinguano, do Brasil e do mundo. Precisava de um basta!
O comando estelar no universo, unido à força das luas crescente e cheia, foi captado pelo guerreiro Kayapó e seu povo, e ajudado pela força da avó ou mãe do mundo, da mulher que não precisa estar presente em nada ou em nenhum lugar porque ela já está em todos os lugares em alma e força espiritual. Ela está viva no espírito, no coração, na cultura e na língua dos guerreiros e guerreiras para que ela possa fazer exercer e abastecer a grande transformação, que virá cedo ou tarde. Ela é decidida. Ela existe como a Grande Mãe, a Grande avó do mundo. Ela não é carne e osso e ela é carne e osso e mais alma, essência, vida, espírito e luz.
A humanidade pode vê-la e ouvi-la, basta um fio de luz que ligue a existência terrestre a ela e permita, através da alma e coração, o acesso do amor entre os povos.
É só ouvir! E para os mais sensitivos, senti-la ou vê-la através dos tempos e da história é um presente divino. Ela é a mulher que percorre por debaixo dos leitos dos rios, é a mulher que cria o leite quente para saciar a fome dos desesperados e despossuídos. É a mulher que ao mesmo tempo nasce, morre e nasce de novo para perpetuar as gerações indígenas deste país. É a mulher que possui o casco duro nos pés pelas andanças! É a mulher cuja voz ecoa no passado e no presente! É a força da mulher. Ela troca de pele todos os dias…
No norte do planeta, montados a cavalo e montados à Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e à Declaração Universal dos Direitos Indígenas, entre outros instrumentos jurídicos, olhares de lince e cabelos negros bisbilhotam ações dos governos e tratados.
Esses instrumentos jurídicos foram trabalhados arduamente por guardiões do fogo criativo e assimilados por líderes políticos que convocam Assembleias para que esse “tempo” utilizado pelos ancestrais não seja desperdiçado pelo descrédito.
Tempo para os ancestrais tem um significado muito superior ao significado que levamos na Terra. É outra dimensão a ser incorporada aos que sabem.
As famílias espirituais da flora, fauna, mares, rios, cachoeiras, montanhas, serras, morros, cavernas, vales, seres encantados e animais do céu, das águas e das terras e de todas as espécies, enfim, toda a biodiversidade da Terra escolheu a dedo os líderes indígenas pontuais e geográficos para assegurar as leis que definem, garantem e fortalecem a política dos povos indígenas do Brasil e do mundo.
Um homem jovem sentado em seu barco, ora em seu cavalo, ora em seu jumento, proseia em suas preces e é abençoado pela Mãe Terra. É a Pachamama para os que vivem nas três Américas, a mãe natureza, as benzedeiras, as curandeiras e pajés disfarçadas pelo grande poder estelar cósmico da categoria “indígenas”.
Povos indígenas! Sigam os sinais que são apresentados para a fortaleza futura e para garantir a cultura e espiritualidade. Farejem como animais! Unam-se fortes pelo objetivo único comunitário: nações, grupos, etnias ou comunidades com ou sem Rio+20 ou + 100 anos.
Só existe um inimigo: aquele que não deseja ver a sua prole prosperar. Na fé e confiança, ouçam a voz que sai das entranhas da Terra. “Eu moro, miro e admiro sobre uma copa de árvore robusta numa casa branca iluminada pela luz eterna, e quero o reflorestamento da Terra. Ali faço ninho com as irradiações das luas crescentes e cheias, e recebo ordens do comando estelar”, diz a avó do mundo disfarçada em pajé, aquela que anda por baixo do leito dos rios e espia o mundo.
Ela diz: “Aquele que crê em mim ajudará na evolução de uma nova mentalidade da juventude indígena”. Dizem que ela é uma bruxa! Ela é apenas a “mulher que sabe”, a que possui o olhar desconfiado das sábias!
Megaron continua a olhar para o infinito e sente as evocações do espaço e coloca na prática os enunciados dos que sabem, homens ou mulheres, pois ele atingiu o significado dos gêneros do planeta Terra.
A EDIÇÃO DE DEZEMBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!
Neste mês, discutimos como os cursos livres de EAD (educação a distância) democratizam o acesso ao conhecimento, aproximam especialistas em diversas áreas de alunos interessados em se capacitar em novos saberes, e com isso ampliam o repertório cultural. A reportagem principal de dezembro aproveita o crescente número de matriculados em espaços de educação a distância, principalmente depois da pandemia, para apresentar a plataforma EAD do Sesc São Paulo, onde estão disponíveis, gratuitamente, 13 cursos livres.
Além disso, a Revista E de dezembro/22 traz outros conteúdos: uma reportagem que mostra como manuscritos borram a fronteira entre documento e obra de arte, propondo um olhar possível por entre frestas do tempo; uma entrevista com o diretor Miguel Rubio Zapata sobre as convergências do teatro peruano com o Brasil e a defesa da criação coletiva como atitude, e não método; um depoimento com a atriz Julia Lemmertz sobre os 40 anos de carreira e a dedicação ao teatro; um passeio visual por imagens que celebram o legado do pensador utópico Darcy Ribeiro no ano em que ele faria um século de vida; um perfil do romancista Lima Barreto, morto há 100 anos e um dos mais brilhantes nomes da nossa literatura; um encontro com o canto sagrado da cantora Virgínia Rodrigues; um roteiro por cinco espaços culturais da capital paulista que mantêm lojas e livrarias abertas ao público; um conto inédito da escritora e poeta Eliane Potiguara; e dois artigos que refletem sobre a coragem.
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