*Na infindável viagem/ floresce vermelho/ o flamboyant.
Infindável viagem que começa em 10 de julho de 1917 – um dia quente de verão, com muitos insetos barulhentos, conforme relato da tia do menino que, nesse dia, nasce em Yuki-shi, cidade próxima a Tóquio. Menino que, aos dez anos, perde a mãe e encontra conforto no futon feito com o quimono dela pela avó e no estojo de pintura, dado pelo pai.
O menino já não é mais criança e, aos 17 anos, desgostoso com o segundo matrimônio do genitor, segue sua viagem. Sob o lamento das cigarras e o grasnar das gaivotas, embarca em Kobe no “África Maru”, partindo para uma terra de sonho, o Brasil, onde aporta cinquenta e sete dias depois.
Do navio para o trem, de Santos a Rancharia: é lá, na cidade em que residem os familiares que haviam imigrado anteriormente, que Takeo avista pela primeira vez a rubra flor do flamboyant. Em terra firme, a terra de sonho é solo a ser cultivado, yama. Takeo trabalha na lavoura do café e do algodão, torna-se arrendatário e, depois, proprietário rural. Nesse ínterim, do Japão, chega a jovem Tiyo com uma carta: seu irmão pede ao amigo Takeo que cuide dela. O amigo morre na guerra; Takeo, aos 22 anos, atende ao pedido e casa-se com Tiyo, com quem tem seis filhos.
Para as crianças, as suas e as de outras famílias, Takeo constrói uma escola, leciona japonês e pintura – atividade que volta a exercer em meados da década de 1950. Se outrora Takeo era o discípulo do Mestre Kenji Tamura, o menino que recebeu o Prêmio Imperial na Exposição Nacional de Pintura Infantil, agora é um artista de inspiração impressionista; é o Sensei que, ao longo de três décadas, ensina a mais de quatro mil crianças o valor de se expressar livremente por meio da arte.
“Minha vida, as montanhas e os rios que atravessei, foram sempre inusitados”, declarou Sawada. Mesmo posta a travessia da existência física, em 18 de maio de 2004 – quando morre em um acidente de automóvel, a caminho de um concurso de desenhos em que seria jurado – Sawada recebe láureas, como a Honra ao Mérito Kasato Maru, conferida a apenas 130 japoneses, já falecidos, quando do centenário da Imigração ao Brasil (2008).
Infindável viagem. O flamboyant, que empresta seu nome a um livro de poemas da autoria de Sawada, publicado no ano de 1990, continua a florescer. À sombra do flamboyant nos reunimos nesse momento para aprender com Takeo Sawada – artista, educador – a olhar de forma sensível para a beleza que há no outro e no mundo.
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*O hai kai que abre o texto é da autoria de Takeo Sawada.
Texto escrito a partir da pesquisa realizada por Carmo Malacrida e Adriana Pedrassa Prates sob encomenda do Sesc Thermas de Presidente Prudente.
Exposição: À sombra do flamboyant – Takeo Sawada
Curadoria: Carmo Malacrida, Valquíria Prates e Valéria Prates Gobato
Realização: Sesc Thermas de Presidente Prudente
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura de Presidente Prudente, Secretaria Municipal de Educação de Presidente Prudente, Fundação Japão e TV Fronteira.
No Centro Cultural Matarazzo, R. Quintino Bocaiúva, nº 749, Vila Marcondes, Presidente Prudente, SP. Terça a sexta, 9h às 20h; e sábados, 9h às 18h. Grátis. Livre.
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