Por Alberto José Niituma Ogata
Muitas vezes se pensa na saúde através do modelo biomédico, ou seja, no tratamento da doença, quando ela ocorrer, utilizando as ferramentas disponíveis para uma “cura”. No entanto, cada vez há mais evidências de que muitos outros fatores são relevantes para a saúde, como o ambiente de trabalho, a cultura, o clima, o lazer, o suporte da família e amigos e as conexões com a comunidade.
O local de trabalho é um espaço estratégico para adoção de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças. Considerando-se que os empregadores têm a responsabilidade de fornecer um local de trabalho seguro e livre de riscos, eles também têm oportunidades para promover a saúde individual e um ambiente de trabalho saudável. A utilização de programas de saúde no local de trabalho pode reduzir os riscos para a saúde e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
Para melhorar a saúde de seus empregados, as organizações podem criar uma cultura organizacional de bem-estar centrada no trabalhador, fornecer ambientes de apoio onde a Saúde e Segurança no Trabalho (SST) são asseguradas e se obtêm melhores desfechos em saúde; prover oportunidades e acesso para seus empregados se envolverem em uma variedade de programas de saúde no local de trabalho.
O envelhecimento da população e o estilo de vida não saudável têm levado ao aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) – como as doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, doença pulmonar crônica, câncer e diabetes entre os trabalhadores. As DCNTs estão entre as mais prevalentes, caras e evitáveis de todas as condições de saúde. Elas afetam negativamente a qualidade de vida dos indivíduos, o sistema de saúde e a produtividade do capital humano da sociedade.
Cada empresa tem sua própria cultura e necessidades únicas sob a perspectiva da gestão de saúde. A cultura da saúde pode ser definida como um ambiente de trabalho que tem a saúde como um valor e que favorece a saúde e bem-estar do trabalhador. Não se limita a ações isoladas e integra a saúde na maneira como a organização opera, pensa e age em diferentes frentes. Ela deve ser focada na população-alvo e não apenas no indivíduo.
As organizações podem promover a saúde dos trabalhadores através das seguintes áreas:
A oferta de programas de promoção de saúde que não estejam alinhadas e integradas às demais áreas, particularmente no que se refere à cultura de saúde pode trazer alguns riscos, a saber:
A cultura de saúde pressupõe:
Por outro lado, o ânimo dos funcionários pode ser negativamente impactado se os programas de saúde no local de trabalho forem projetados e implementados sem respeito às suas necessidades e interesses, sem sua participação no processo de desenvolvimento ou sem respeito pela privacidade individual.
Uma abordagem coordenada da saúde no local de trabalho resulta em um conjunto planejado, organizado e abrangente de programas, políticas, benefícios e apoios ambientais concebidos para satisfazer as necessidades de saúde e segurança de todos os trabalhadores. Os programas devem incluir intervenções que abordem múltiplos fatores de risco e condições de saúde simultaneamente e influenciar vários níveis da organização, incluindo o trabalhador e a organização como um todo.
Não há uma fórmula única que se aplique a todos os programas e a todas as organizações. Deste modo, a simples adoção (ou aquisição) de soluções ou produtos para adoção nas empresas, sem que os pressupostos mínimos citados acima sejam contemplados parece ser uma das causas dos resultados limitados observados em muitas iniciativas.
Ainda hoje, em muitas organizações, o capital humano não é valorizado, o que é expresso pela cultura organizacional e, de acordo com Schein1, influencia o modelo de gestão, o clima organizacional, os parâmetros de avaliação e interpretação. Neste contexto, a construção de uma cultura de saúde é fundamental para que se consiga um real engajamento dos trabalhadores, a adoção de programas bem construídos, baseados em evidências científicas e a transformação dos ambientes de trabalho em locais mais saudáveis.
A gestão dos programas de saúde nas empresas deve considerar os determinantes sociais de saúde e buscar a integração com o sistema nacional de saúde, particularmente com a atenção primária, mas com atuação em rede com os cuidados secundários e terciários.
Referência
1. Schein, Edgar H., and Schein, Peter. Organizational Culture and Leadership. Hoboken, NJ. John Wiley & Sons Inc., 2017.
Alberto José Niituma Ogata é doutor em saúde coletiva (FMUSP), mestre em medicina (Unifesp), mestre profissional em economia e gestão da saúde (Unifesp), médico (Faculdade de Medicina de Jundiaí). Professor do mestrado profissional em gestão da competitividade de saúde populacional (FGV-EAESP). Professor do MBA em programas de promoção da saúde nas organizações e gestão avançada de programas (Centro Universitário São Camilo), pesquisador associado do Centro de Planejamento em Saúde e Gestão (GV Saúde). Presidente (2018-2019) do International Association of Worksite Health Promotion (IAWHP). Autor e organizador de livros e manuais em saúde. Diretor titular adjunto de responsabilidade social da Fiesp. Diretor e membro de entidades sociais e ligadas à área de saúde e bem-estar.
Este conteúdo integra o projeto Inspira – Ações para uma Vida Saudável, que acontece de 10 a 21 de abril, com programações que estimulam reflexões sobre saúde e qualidade de vida. São mais de 170 atividades, a maioria gratuita e aberta a todas as pessoas, em 38 unidades do Sesc no estado de São Paulo. Consulta a programação em sescsp.org.br/inspira.
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