DA CEREJEIRA AO FLAMBOYANT | Um passeio visual pelas obras de Takeo Sawada

01/05/2023

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No Brasil, aquarelista japonês Takeo Sawada dedicou sua carreira ao ensino da arte para crianças e adultos

Por Luna D’Alama

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Para conseguir lidar com o luto pela perda precoce da mãe, aos 10 anos, o japonês Takeo Sawada (1917-2004) começou a pintar. Ganhou um kit de desenho do pai, na cidade de Yuki, a 100 quilômetros de Tóquio. Participou de duas exposições e, aos 12 anos, conquistou o Prêmio Imperial do governador da província de Ibaraki. Contudo, com a promessa de uma vida melhor, decidiu emigrar para o Brasil, então com 16 anos de idade, e seguir os passos dos familiares que se estabeleceram em Rancharia, no oeste paulista.

Sem conhecer a língua portuguesa e os costumes do país, teve ajuda de um tio comerciante e trabalhou em plantações de café e algodão. Sua sensibilidade artística foi aguçada pelos elementos da natureza, e uma árvore frondosa de flores vermelhas foi a que mais chamou sua atenção: o flamboyant. Sawada gostava de admirá-la, pintá-la e fotografá-la pela cidade, num convite à contemplação. Sete décadas depois, o artista nascido na terra das sakuras (cerejeiras) ainda se lembrava dela: “Essa flor que desabrocha no caminho da vida de todos nós”, dizia.

Na década de 1970, residente no Brasil há quase 40 anos, o artista começou a ensinar japonês na Associação Cultural, Agrícola e Esportiva de Presidente Prudente (Acae), onde depois fundou um curso de artes visuais para crianças. Ao longo de três décadas, cerca de 4 mil alunos – incluindo adultos – tiveram aulas com o sensei [mestre ou professor], que se tornou referência em arte-educação. “Frequentei as aulas de Sawada em 1987, aos 25 anos.  Lembro-me de sua voz tranquila, dos óculos pendurados por um cordão e de muitos pincéis e lápis no bolso da camisa”, recorda-se a artista visual, pesquisadora e educadora Carmo Malacrida, uma das curadoras da exposição À Sombra do Flamboyant: Takeo Sawada, em cartaz no Sesc Registro [Leia mais em Infindável viagem].

As aulas do artista incluíam desde passeios ao ar livre a exercícios de técnicas de desenho e pintura no ateliê. Em entrevista a um canal de televisão, Sawada – que também fazia poemas [haikais e tankas], crônicas e escrevia em diários – definiu sua atuação: “Ensinar criança não é para criar artista, é para formar uma boa pessoa, uma pessoa de paz, de boa índole, que possa se dedicar ao Brasil, à sociedade”. Inspirada pelo mestre, Carmo dá aulas de artes para crianças há 22 anos, e diz que aprendeu com ele a ver o mundo de forma poética. “Ele nos preparava para a vida, queria que criássemos livremente. Dizia para não termos medo do vazio do papel, que na folha grande há muito espaço para desenhar e pintar”, conta.

Aquarelista, Sawada dedicou-se a telas figurativas, paisagens coloridas em transformação, naturezas-mortas e autorretratos. Suas pinceladas densas tinham a força da caligrafia japonesa. Voltou a seu país de origem em 1976 e 1992, onde expôs obras de sua autoria e de alunos – fez o mesmo no Brasil, onde também ganhou prêmios. “Sua obra e pesquisa nos convidam a olhar para a poética do cotidiano”, analisa Valéria Prates Gobato, também cocuradora da exposição. No dia de sua partida, um aluno resumiu (no documentário Takeo Sawada e a Criança do Próximo Passo) o sentimento de muitos colegas: “O que podemos fazer daqui para a frente é não esquecer os ensinamentos do professor”.

Infindável viagem

Em cartaz no Sesc Registro, exposição narra, em imagens, vida e obra do artista Takeo Sawada

As várias facetas de Takeo Sawada inspiraram o projeto Infindável Viagem: Takeo Sawada – artista, educador, realizado entre 2021 e 2022 pelo Sesc Thermas de Presidente Prudente, e do qual fez parte a exposição À Sombra do Flamboyant, que agora ocupa o Sesc Registro, no Vale do Ribeira. Dividida em cinco núcleos, a mostra reúne cerca de 180 obras – entre pinturas, desenhos, fotografias, documentos, registros biográficos e livros, bem como trabalhos de alunos. Além da exposição, que vai até o fim de julho, estão previstos ateliês e oficinas artísticas, contações de história e apresentações de música e dança. 

“A curadoria da exposição foi desafiadora, pois queríamos dar visibilidade ao educador, artista, poeta e agricultor que foi Takeo Sawada. A organização em constelações possibilitou uma apresentação aprofundada, revelando suas referências e práticas artístico-pedagógicas. Priorizamos a possibilidade de tornar visíveis os trabalhos realizados no interior de São Paulo, no contexto do processo de imigração japonesa no país. O visitante pode conhecer, refletir e aprender a partir do contato com esse rico arquivo, que convida a tecer relações entre a arte e a própria vida”, afirma a pesquisadora, educadora e curadora Valquíria Prates, que se debruçou em seu doutorado na Universidade Estadual Paulista (Unesp) sobre arte e educação na mediação cultural.

O coordenador de programação do Sesc Registro, Jefferson Valentin, acrescenta: “Takeo Sawada foi um artista e educador apaixonado por cuidar, incentivar e desenvolver as novas gerações. Com sua paixão por educar através das artes, sempre procurou provocar nos seus alunos uma reflexão sobre o desacelerar, o contemplar e a busca do bem-estar”.

O projeto Infindável Viagem abarcou, ainda, ações como formação de professores da rede pública, o documentário Takeo Sawada e a Criança do Próximo Passo, produzido em parceria com o SescTV, um intercâmbio artístico com apoio da Fundação Japão e oficinas de arte para crianças.

REGISTRO

Exposição À Sombra do Flamboyant: Takeo Sawada

Curadoria de Carmo Malacrida, Valéria Prates Gobato e Valquíria Prates.

Visitação até 30/7. Terça a sexta, das 13h30 às 21h30. Sábado, domingo e feriado, das 10h30 às 18h30. GRÁTIS.

SESCTV

Takeo Sawada e a Criança do Próximo Passo

Documentário dirigido pelo jornalista Hossame Nakamura reúne alguns dos principais momentos da vida e da produção de Takeo Sawada, com depoimentos de filhos, alunos e amigos.

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