Foto: Dani Sandrini
A diversidade de alimentos disponíveis na natureza é um dos sete eixos do Experimenta! – Comida, saúde e cultura, projeto que discute o universo da alimentação em todas as unidades do Sesc, durante o mês de outubro. Saiba mais sobre o tema:
Sabia que o Brasil detém a maior biodiversidade do mundo, com cerca de 15 a 20% das espécies do planeta? Pois é, temos uma diversidade imensa, mas, em termos de consumo alimentar, optamos por uma variedade cada vez menor. Como mostra Valdely Kinupp em seu livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil”, apesar de todo nosso potencial, a matriz agrícola brasileira está baseada em poucas espécies, como cana-de-açúcar, café, arroz, soja, laranja, batata, milho e trigo. Não por acaso, muitos desses alimentos também são consumidos no mundo todo, tornando a dieta mais monótona em todo o planeta. Por que não trazer mais variedade para o dia a dia, apostando também em alimentos e sabores tradicionais e regionais?
As PANC, plantas alimentícias não convencionais, vêm sendo (re)descobertas nas cozinhas de todo o país, e são uma forma de trazer mais diversidade para a alimentação. O especialista e pesquisador dessas variedades menos conhecidas, Guilherme Ranieri, explica que o termo PANC não é considerado consensual na literatura, pois há variações de uso regionais para cada alimento. Afinal, um vegetal pode ser considerado convencional para quem é de Minas Gerais ou do Pará, mas não para quem mora na capital paulista, por exemplo.
“Em São Paulo, se a gente chama jambu de não convencional, estamos apagando todas as histórias das tacacazeiras de Belém, de Manaus, que consomem essa hortaliça no cotidiano”
Guilherme Ranieri
Assim, para aprimorar a visão desse assunto, podemos chamar as PANC também de “hortaliças tradicionais”, um termo que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) vem empregando. De toda forma, a diversificação da alimentação com base nos inúmeros vegetais existentes no país traz muitos benefícios: pode enriquecer a dieta do brasileiro, agregando uma variedade de sabores, experiências e nutrientes. E, ainda, contribuir para a manutenção de espécies que muita gente nem reconhece mais como comida. “Estima-se que existam de 12 mil a 30 mil plantas comestíveis pouco conhecidas. Imagine todas as receitas que você conhece e multiplique por pelo menos 15 mil plantas. Ou seja, é muito mais tempero, fruta, castanha, grão… É um mundo à parte de sabores, o repertório se amplia”, diz Guilherme.
“O uso de plantas como taioba, serralha, malvavisco, uvaia, grumixama, evita que algumas culturas desapareçam, especialmente nas pequenas cidades. (…) Algumas dessas plantas eram mais consumidas antigamente e, por inúmeras razões, esse hábito deixou de ser transmitido. As cidades cresceram, as pessoas migraram ou perderam quintal e esse conhecimento não foi passado adiante. Então, a tendência é que ele se perca. Por isso, as PANC têm esse fator importante de preservar as nossas culturas nativas, vários pratos de quilombolas, de populações ribeirinhas, de caiçaras, de população caipira.”
Guilherme Ranieri
Para se aprofundar:
O site Matos de Comer, de Guilherme Ranieri, oferece a descrição de dezenas de hortaliças tradicionais de todo o país, com fotos e nomes científicos, que orienta na hora de identificar e escolher os alimentos.
Conheça mais sobre diversos produtos nacionais com o livro “Alimentos Regionais Brasileiros” (Ministério da Saúde, 2ª edição), que pode ser acessado aqui: sescsp.org.br/alimentosregionais
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