Nicola Perullo no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em 2016.
Foto: Cris Komesu
Gosto, afinal, se discute?
Para o filósofo italiano Nicola Perullo, sim. Ele vem ao Brasil para participar da conferência O Gosto como experiência, no Sesc Pinheiros, que acontece entre os dias 20 e 22 de outubro, parte do projeto Experimenta! Comida, saúde e cultura.
Nicola Perullo é filósofo do alimento e professor de Estética do Gosto na Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo (Itália), fundada em 2004 pela Associação Slow Food Internacional. Fizemos a seguir cinco perguntas para ele, que dão um “gostinho” do que abordará:
1. Como o gosto se relaciona com a cultura e a sociedade?
Eu nem diria que o gosto está relacionado à cultura e à sociedade; prefiro dizer que o gosto é uma expressão da cultura da sociedade, ele cresce e se desenvolve com a cultura e a sociedade, de forma inescapavelmente entrelaçada.
2. Ele pode ser educado?
O gosto é parte do crescimento de qualquer ser humano, e como qualquer outra coisa pode ser educada. Muitas vezes muda. Se considerarmos, seguindo John Dewey, a educação como um caminho aberto de experiências contínuas, a percepção do gosto sempre está imersa neste processo dinâmico.
3. De suas experiências em diversos países, você notou diferenças na forma como as pessoas percebem a comida?
Claro que existem diferenças gerais. Mas hoje, em nossas sociedades líquidas e pós-modernas, temos que ir muito mais além da consideração das diferenças em diferentes países. Diferenças também ocorrem entre pessoas do mesmo país, na mesma família e até na mesma pessoa, em relação à variedade da nossa vida diária com a comida. Eu acho que é muito mais interessante e profundo observar o comer e beber em múltiplos planos de diferenças cruzadas, onde o local de nascimento, a educação, a família, o conhecimento e o estilo pessoal estão sempre em jogo.
4. Em 2016, você esteve no Brasil e realizou palestras no Sesc. Quais suas impressões sobre a visita e os hábitos brasileiros?
Minha visita ao Brasil no ano passado foi incrível, porque foi a minha primeira vez no país. Fiquei ocupado tentando adaptar minha percepção ao novo ambiente que encontrei. Então não posso dizer muito sobre “como o brasileiro percebe a comida”; no meu curto período de tempo, eu notei uma abordagem muito aberta e curiosidade em relação à experiência de comer e beber. Encontrei uma cena muito viva em São Paulo. Espero entender e aprender muitas coisas novas este ano.
5. Quais são as diferenças entre a sua conferência no Brasil em 2016 e agora, em 2017?
Desde então, minha pesquisa se concentrou mais na educação e na percepção. Então, abordarei o gosto e a comida mais diretamente através dessas lentes. E vou tentar deixar claro como a educação do paladar é uma ótima maneira de desenvolver uma melhor compreensão da vida. E também, um novo compromisso perceptivo é necessário para criar novos significados para ter uma vida criativa mais rica e feliz.
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