Essa lenda trata-se, especificamente, de uma bananeira mágica. Uma bananeira onde se era possível ouvir coisas, próximo a ela. Dona Yolanda, minha mãe, uma feiticeira de mão cheia, a batizou como mágica. Todas as suas partes, inclusive seus frutos, eram utilizados para as magias da senhora
Certo dia, Dona Yolanda me chamou para ouvir a bananeira e presenciar as magias que ali aconteciam. Claro que eu naquele momento, como era pequena, pensei “Ouvir o quê? Até parece que essa bananeira vai falar alguma coisa!”. Mesmo duvidando do que poderia acontecer, fui vencida pela curiosidade. Quando cheguei à bananeira, vi Dona Yolanda fazendo um corte quadrado no caule e, ali dentro, colocou uma espécie de pó. Em seguida, fechou a bananeira com o mesmo pedacinho que cortou, selando a fissura com a própria sica da bananeira.
Em poucos minutos, ficamos em silêncio. Foi então que minha mãe falou: “Agora você terá a honra de ouvir o que a bananeira irá nos dizer!”. Se passaram alguns minutos e nada. Até pensei que minha mãe poderia estar imaginando coisas. Mas, de repente, começou uma ventania forte e a bananeira começou a chacoalhar, fazendo um barulhão! Comecei a ouvir algumas coisas, mas estava um pouco incompreensível, meio confuso. E claro, perguntei à minha mãe: “O que a bananeira está falando?? Não estou conseguindo entender!”. Minha mãe completou: “Ela está nos avisando para tomarmos cuidado ao sair de casa.”. Como se fosse um mau presságio.
Neste mesmo dia, não arredamos o pé de casa. Não fui à escola e minha mãe não foi ao trabalho. Porém, meu padrasto saiu. Não acreditando no que minha mãe estava falando, achando até que estava ficando louca. Pois bem, ele a ignorou! Simplesmente, pegou o carro do dono bar em frente a nossa casa para dar uma volta e, quando ele menos esperava, aparece um outro carro. Esse carro bate de frente com o que ele dirigia. O resultado? Perda total do carro do vizinho e vários machucados.
Ele não quis ouvir o conselho que a bananeira mágica havia nos dado. Dona Yolanda, por sua vez, pôde ouvi-la e evitar que o acidente pudesse ser ainda maior.
Conto “A Bananeira Mágica” por Mih Chilena | Mih Chilena é moradora de Registro/SP, oficineira, palestrante e escritora.
Ilustrações por Sávio Soares.
*Esse conteúdo editorial faz parte da série online “Histórias Míticas do Vale do Ribeira” que integra a programação especial em comemoração aos 100 anos do prédio histórico do Sesc Registro, nominado “KKKK”, como ficou conhecido o conjunto arquitetônico instalado em 1922 pela Companhia Ultramarina de Desenvolvimento (de cujo nome em japonês -Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha- deriva a sigla dos quatro Ks). No canal do YouTube do Sesc, o público também pode acompanhar o processo de criação das ilustrações pelo artista Sávio Soares. Além de lendas e causos populares que povoam o universo da cultura tradicional regional, as publicações trazem também crônicas sobre locais, acontecimentos, paisagens e personagens históricos do Vale do Ribeira.
Acesse a playlist da série no YouTube.
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.