A catedral de papelão de Olivier Grossetête

03/10/2018

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Construção efêmera erguida em 2015 na cidade de Clermont-Ferrand (França) | Foto: Olivier Grossetête

De que são realmente feitos os símbolos de um centro urbano? Que monumentos parecem eternos e o que acontece com a memória das estruturas que se desfazem? A experiência artística participativa que o francês Olivier Grossetête traz para o Sesc Parque Dom Pedro II em outubro é um convite a essas e tantas outras reflexões sobre o espaço, a matéria, a arquitetura e o fazer colaborativo.

Na performance coletiva Arquitetura Efêmera, o público será orientado pelo artista visual e seus assistentes na construção de um monumento gigante, de 24 metros de altura, inspirado na Catedral da Sé, feito a partir de aproximadamente mil caixas de papelão e bastante fita adesiva. Sem o uso de guindastes ou maquinário, será erguida pelos participantes da atividade uma obra de cerca de uma tonelada.

Olivier Grossetête nasceu em Paris, em 1973, e atualmente reside no sul da França, na cidade de Marselha. Foi no quarto ano da Escola de Belas Artes de Valença que decidiu se afastar dos espaços confinados das galerias e passou a desenvolver sua arte em espaços abertos, públicos, coletando caixas e impressos de várias dimensões, justapondo e ressignificando poeticamente materiais corriqueiros. 


Artista francês Olivier Grossetête ceracado de caixas de papelão, seu material de trabalho © François Moura

Ainda na faculdade criou, já com participação popular, seu primeiro grande monumento feito de caixas de papelão. Os voluntários ajudaram tanto na construção das partes da estrutura quanto na montagem da obra e, por fim, ajudaram também, com entusiasmo, a trazer abaixo a edificação – etapa que faz parte da experiência artística proposta por Olivier.

Desde 2003, o artista vem aprimorando sua técnica e tem levado o projeto de Arquitetura Efêmera a diversas cidades, principalmente da Europa, mas também no México, Sri Lanka, Taiwan, China, Marrocos, Austrália, Tailândia, Estados Unidos, Colômbia e, agora, Brasil. Em cada cidade, constrói uma espécie de réplica de uma edificação local, seja ela um prédio público, uma ponte, arcos, torres ou até mesmo vilas inteiras – sempre à base de caixas de papelão, fita adesiva e o engajamento de dezenas de participantes interessados. O perfil dos voluntários é o mais variável possível, envolvendo crianças, adultos e idosos em uma experiência poética e colaborativa.

As mais de 200 construções erguidas até hoje por Olivier foram sempre fruto de um diálogo com a arquitetura da cidade em que estava realizando o projeto no momento. Em São Paulo e, especialmente para quem frequenta o Sesc Parque Dom Pedro II, a Catedral da Sé, a cerca de 20 minutos de distância a pé da unidade, dispensa apresentações. Situada na praça da Sé, no marco zero da capital, a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Assunção e São Paulo foi inaugurada em 1954, no quarto centenário da cidade, e desde 2016 é patrimônio tombado pelo estado. Além da relevância religiosa, a igreja foi palco de importantes manifestações e eventos históricos do país, como o ato ecumênico realizado em 31 de outubro de 1975 em resposta à morte do jornalista Vladimir Herzog pelo regime da ditadura civil-militar (1964-1985).


Catedral da Sé, no centro de São Paulo | Foto: Domínio Público

OFICINAS

No Sesc Parque Dom Pedro II, a experiência artística colaborativa proposta por Olivier Grossetête, realizada aqui pelo Sesc com apoio do Institut Français e da Embaixada da França no Brasil, terá início com oito oficinas – nos dias 23, 24, 25 e 26/10, das 10h30 às 13h30 e das 14h30 às 17h30 – para a preparação dos materiais e montagem de determinados segmentos da obra final, com caixas de papelão e fita adesiva. Para participar, os interessados podem se inscrever pelo e-mail oficinas@carmo.sescsp.org.br ou diretamente na Central de Atendimento da unidade, a partir de 3/10.


Etapa de construção em Trignac, na França, em 2014 | Foto: David Gallard

DIA DA CONSTRUÇÃO

No sábado, dia 27/10, a partir das 10h da manhã, acontece a grande montagem do monumento, ao ar livre. Olivier Grossetête e seus assistentes orientam o público quanto a cada etapa do processo. A montagem começa pelo topo da torre. Novas caixas vão sendo montadas e adicionadas à estrutura monumental, coladas com fita adesiva. A edificação de papelão vai ficando cada vez mais pesada e a ajuda de mais pessoas se faz necessária para erguê-la. Horas depois, concluída a construção, as pessoas podem circular sob a estrutura e ao redor dela, admirando o curioso trabalho realizado a tantas mãos.


Etapa de desconstrução em Marselha, na França, em 2013 | Foto: Vincent Lucas

EXPOSIÇÃO E DESCONSTRUÇÃO

Nos dias 31/10, 1, 2 e 3/11, das 10h às 18h, a catedral de papelão poderá ser contemplada pelos visitantes do Sesc e, dependendo do ângulo, poderá ser vista até mesmo por quem estiver transitando ao redor da unidade. No domingo, dia 4/11, às 16h, é finalmente hora de colocar abaixo, mais uma vez com a ajuda do público voluntário, o monumento efêmero. As centenas de caixas que restarão espalhadas sobre o solo tornam-se um trampolim para mais um último instante de diversão.

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ATUALIZAÇÃO (registros em vídeo das atividades realizadas em 2018)

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