A diversidade da arte feita pelas juventudes

02/01/2025

Compartilhe:

Diferentes perspectivas e estéticas atravessam as obras de jovens artistas presentes na 31ª edição da Mostra de Artes da Juventude

Por Maria Júlia Lledó 

Leia a edição de JANEIRO/25 da Revista E na íntegra

O Brasil é lar de quase 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, que vivem diferentes realidades sociais. Como descreve a plataforma de dados e pesquisas Atlas da Juventude, grande parte dos jovens brasileiros habita os centros urbanos e áreas periféricas, concentrando-se em ruas, vielas e morros das regiões metropolitanas do país. “Ainda que, enquanto geração, compartilhem um mesmo momento histórico, há muitas juventudes em nosso país. Assim, para apoiar as juventudes é preciso entender a diversidade que existe dentro dela”, informa a plataforma. O campo das artes visuais lança-se como uma lupa poética voltada a compreender e dar visibilidade a parte desses jovens, permitindo-nos enxergar mais de perto as camadas que compõem esse complexo tecido populacional.  

Desde 1989, a Mostra de Artes da Juventude – MAJ, realizada pelo Sesc Ribeirão Preto, assume esse exercício de aproximar-se da produção artística de jovens, ampliando o alcance do público a diferentes narrativas, estéticas e formatos por eles produzidos. Em sua 31ª edição, dos mais de 700 inscritos, 46 foram selecionados para a exposição coletiva, em cartaz até 8 de junho na unidade do Sesc no interior paulista [leia mais em Abrir janelas]. Sob curadoria de Tiago Gualberto e Camila Fontenele, a MAJ dispensa qualquer tentativa de rótulos às obras, por ser, segundo Gualberto, um espaço que oferece condições para a reflexão crítica. “Isso se dá à medida em que o conjunto de trabalhos rejeita agendas prescritivas, que definiriam conjuntos de obras por semelhanças ou pontos de intersecção únicos – seja raça, gênero, tema, regionalidade etc. O que esses e essas jovens artistas demonstram de forma vigorosa é a confiança na capacidade do público acessar nuances, sutilezas e vinculações nada óbvias”, ressalta o curador.  

Entre os pontos de fricção das obras selecionadas, a corporeidade em sua natureza, identidade e condição social se faz presente. “O corpo se afirma na exposição como uma dessas poderosas conexões – não apenas o corpo humano, mas também o corpo em descanso, em gozo, o corpo dos animais, dos cursos d’água, o corpo etérico dos espíritos”, descreve Gualberto. A curadora Camila Fontenele dá como exemplos algumas das produções selecionadas pela mostra. “A obra Um homem chamado cavalo é meu nome (2024), de Lorre Motta, funde-se ao cavalo para fabular sobre a construção de uma masculinidade trans não-binário possível e, acima de tudo, sobre os modos de ser e existir. Além disso, os trabalhos Não separe a arte da artista (2019-) de Diez, Me agarro ao pouco que ficou: memórias de um receptáculo (2023), de Isabella Motta, e Travesti Amada (2022), de Níke Krepischi, constroem e se reconstroem diante de um corpo fragmentado.”  

Também é possível observar que esses jovens artistas apontam uma flecha para outros amanhãs. “De forma paradoxal, esse futuro possível já se faz presente quando observo a consulta realizada por esses jovens artistas a estratégias de sonhar e coexistir herdadas de seus antepassados. Essas obras nos informam não apenas sobre a vitalidade do que é produzido fora dos regimes de validação acadêmicos, mas, sobretudo, sobre as alternativas encontradas por essas poéticas para continuar existindo”, arremata Gualberto.  

Performance Me leve com você, da série “Não Separe a Arte da Artista” (2023-2024), de Diez (SP). Impressão gráfica em faixa de lona e ziplock. 

Flavio Freire 

Sem título (2024), de Isabela Picheth (PR). Silicone e madeira. 

Flavio Freire 

Coreografias da contemplação artística-institucional, da série “Museum Sutra” (2023), de Diego Rocha (SP). Impressão em cores sobre papel (Fotoperformance). 

Todo dia a mesma coisa (2024), de Mariana Simões (SP). Óleo sobre tela. 

Fotos: Flavio Freire 

Comunhão (2023), de Vitor Alves (SP). Serigrafia sobre papiro. 

Flavio Freire 

Um homem chamado cavalo é o meu nome (2022-2023), de Lorre Motta (RJ). Vídeo-performance.  

Fotos: Divulgação 

Viver é hmm-ma delícia! Ifood (2024), de Nat Rocha (MG). Assemblage. 

Quatro mola (2024), de O Tal do Ale (SP). Papelão, papel pardo e cola quente. 

Fotos: Flavio Freire 

Herdades (2022-2023), de Mar Yamanoi (SP). Grãos de arroz gravados com nanquim sobre madeirite. 

Me agarro ao pouco que ficou: memórias de um receptáculo (2023), de Isabella Motta (SP). Fotografia sobre papel offset com intervenções em linha de algodão e pregos galvanizados. 

Flavio Freire 

Amar, cuidar e admirar (2024), de MAVINUS (PE). Acrílica e bordado sobre tela. 

Epítome da domesticidade para meninas (2023), de Giovanna Camargo (SP). Tinta PVA e imagens transferidas sobre MDF. 

Abrir janelas 

Mostra de Artes da Juventude – MAJ celebra 35 anos com número recorde de inscritos e seleção de obras de 46 novos nomes das artes visuais 

Território de visibilidade da produção de artistas com idade entre 15 e 30 anos, a Mostra de Artes da Juventude – MAJ promove o incentivo desses novos talentos desde 1989. Realizada pelo Sesc Ribeirão Preto, em parceria com o Centro de Comunicação e Artes da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), a MAJ busca facilitar o acesso ao universo das artes, além de difundir e projetar novos artistas para o cenário nacional e internacional.   

A equipe curatorial, composta por Camila Fontenele e Tiago Gualberto, selecionou 46 entre mais de 700 inscritos, número recorde na história da mostra. “A MAJ é um projeto de formação e reconhecimento de artistas jovens, extremamente importante porque oferece a oportunidade para pesquisas em estágio de desenvolvimento, de amadurecimento. É uma mostra que se organiza em torno do aprendizado coletivo, desde o educativo, a expografia, a curadoria e, claro, das ações formativas que envolvem a profissionalização do fazer artístico”, explica o curador.   

Aberta para visitação até 8 de junho, a exposição coletiva é composta por distintas manifestações artísticas, como pinturas, gravuras, esculturas, intervenções e performances. A diversidade étnica e regional também fez parte do processo curatorial, que incluiu artistas brancos, pardos, pretos, amarelos e indígenas de nove estados e do Distrito Federal. Ao longo de mais de três décadas, a MAJ também atuou como um trampolim para esses jovens, caso da artista plástica e visual Vulcanica Pokaropa, poeta e performer travesti indicada ao Prêmio PIPA 2024, um dos principais de arte contemporânea no país. 

RIBEIRÃO PRETO  

MAJ – Mostra de Artes da Juventude  

Até 8/6. Terça a sexta, das 13h30 às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h. GRÁTIS.

A EDIÇÃO DE JANEIRO DE 2025 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Para ler a versão digital da Revista E e ficar por dentro de outros conteúdos exclusivos, acesse a nossa página no Portal do Sesc ou baixe grátis o app Sesc SP no seu celular! (download disponível para aparelhos Android ou IOS).

Siga a Revista E nas redes sociais:
Instagram / Facebook / Youtube

A seguir, leia a edição de JANEIRO na íntegra. Se preferir, baixe o PDF para levar a Revista E contigo para onde você quiser!

Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.