Várias plataformas de reunião online, seis atores, quatro cidades, dois textos e um sentimento.
Tudo isso é o Coletivo Libertas, que produziu uma performance teatral para a Semana Modos de Acessar do Sesc São Paulo, e é formado a partir da conexão de vários atores e pessoas engajadas com a luta da pessoa com deficiência.
Depois de muitos encontros virtuais, realizados no início de 2020, várias pessoas passaram pelo começo do projeto, mas apenas algumas se mantiveram e constituíram o grupo. Atualmente, o coletivo conta com Aline Prado, Arthur Baldin, Carol Antunes, Davyd Vinicius, Lírio Paper e Giulli Granado.
O nome do Coletivo surgiu como uma reflexão aos tempos que a humanidade vive, segundo Arthur Baldin. “Por estarmos enclausurados e fechados, principalmente no início de 2020, havia uma discussão a respeito da necessidade de liberdade e assim, de ressignificar isso”, conta Arthur.
Dessa maneira o nome do coletivo tem a sua origem na palavra “liberdade”, do latim Libertas. “A gente se juntou e, de repente, Libertas, já que estamos falando de uma certa Liberdade que a gente não tem”, completa Carol Antunes.
Apesar da quarentena criar obstáculos, no que diz respeito a encontrar novas pessoas, isso não foi um impeditivo para o coletivo, formado por pessoas que não se conheciam. Os laços foram fortalecidos com as reuniões virtuais. “A gente começou a se reunir [virtualmente], tinha reuniões semanais e estava todo mundo sem saber em que terreno a gente estava pisando, assim como todo o mundo no início da quarentena”, relata Lírio Paper.
A dinâmica para se conhecerem, e estreitar laços, foi fundamental para constituir o grupo e, consequentemente, servir de inspiração para performance. A cada início de reunião, em meados de março de 2020, a primeira pergunta era “como estavam se sentido. Isso acabou humanizando todo processo”, relembra Lírio.
“A gente acordava com uma angústia muito grande, parecia que a vibe do planeta estava muito pesada, e tinha dias que dava vontade de abrir a janela e sair gritando. As pessoas estavam brigando por papel higiênico. Então, foi muito isso, cada um pegou o seu momento e trouxe para um pedacinho do texto”, relata Carol Antunes, relembrando como foi o processo inicial do grupo.
Ao mesmo tempo em que a criação da performance se baseava nesses relatos, havia uma outra sugestão de texto em desenvolvimento, baseado em um conto de Carol sobre borboleta, com muitos significados, sendo símbolo da transformação e do cadeirante. Mas, principalmente, o sentido que, para se libertar, a borboleta antes se fecha em um casulo e precisa passar pela metamorfose para ganhar asas.
“A borboleta não tem muito tempo para pensar nas consequências, ela não tem tempo para ficar quietinha e não viver. Ela não pode ficar no casulo, se não, morre. Ela tem que produzir de alguma maneira a vida, a liberdade dela, e isso eu acho que foi muito vivenciado no nosso grupo”, descreve Lírio Paper, complentando o relato de Carol sobreo sentimento no que diz respeito à formação do grupo e aos temas tratados na performance em vídeo do Coletivo.
A vinda de Péricles, convidado para fazer a direção, foi essencial para encontrar a solução de qual texto o grupo trabalharia. Sobre os sentimentos durante a quarentena ou sobre a borboleta e a liberdade? O diretor trouxe uma reposta: as duas coisas. “Foi um trabalho de escuta e eu perguntei para eles: ‘o que vocês querem fazer? Vocês querem montar qual texto e a partir daí trocamos ideias’. Li os dois textos e achei incríveis, tem os relatos deles, tem a metáfora da borboleta. Eu falei: ‘gente, isso daqui é só costurar, é só pegar os trechos que conversam entre si e os que se contrastam'”, completa o diretor.
O exercício do trabalho audiovisual com a captação de imagens do cotidiano e espaços domésticos foram importantes para ressignificar e unir os sentimentos durante a quarentena: a falta de liberdade e a metáfora da borboleta.
“Essa questão da liberdade eu lembro que, no processo já de gravação mesmo, eu tinha muito isso, a gente tinha que utilizar o espaço da casa, mas já era sufocante, eu queria gravar lá fora, eu queria fazer um take na rua, e não tinha como, ou até mesmo quando eu queria gravar da minha janela, mas não tinha como, pois, ela tem grades. Então, era bem angustiante o processo. Mas foi bem significante, pois serviu para ressignificar esse espaço, foi um processo gostoso”, conta Davyd Vinicius.
Todos do grupo possuem experiências com o teatro, entretanto o audiovisual foi uma novidade, incluído o processo de gravação. Para que essa nova forma de fazer teatro fosse incorporada, o grupo ensaiava de sexta à segunda, pela internet durante aproximadamente 3 horas, e na etapa das realizações das gravações houve a necessidade de mais encontros, por isso, o grupo se reunia duas vezes ao dia.
Assim como todos que fizeram e fazem o uso da internet tem questões com a rede, eles não ficaram de fora. Mesmo quando problemas aconteciam, o grupo dava um jeito. Quando alguém não conseguia se conectar por problemas de internet por diversos motivos, eles descobriam sempre uma forma de reunir o grupo. “Às vezes, a solução encontrada era realizar chamada por WhatsApp e compartilhar o áudio da pessoa na plataforma de reunião virtual, isso durante horas”, conta Arthur Baldin. Força de vontade, criatividade e talento não faltaram e foram essenciais para concluir o trabalho à distância.
Assista a seguir à performance inspirada nas experiências dos artistas, durante o início da quarentena em 2020, e como isso pode ser ressignificado, assim como a borboleta e a sua metamorfose.
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A Semana Modos de Acessar, ação do Sesc São Paulo, aconteceu de 3 a 10 de dezembro e promoveu diversas atividades para incentivar a participação social das pessoas com e sem deficiência. Diante do momento de pandemia, o evento aconteceu inteiramente no ambiente digital.
A apresentação do Coletivo Libertas é uma das sete que compõem a apresentação proposta pelo Coletivo Home Art.
Acompanhe mais apresentações em www.sescsp.org.br/modosdeacessar.
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