28/06/2024
Imagine uma tecnologia capaz de absorver a poluição, purificar o ar, equilibrar o clima e transportar água do subsolo para a atmosfera. Agora imagine que tudo isso funciona há milhares de anos, provado e comprovado, e não gasta nem energia elétrica!
Tudo o que você leu ali ao lado não é nada mais que a descrição breve (e bastante simplificada) de algumas das coisas que uma árvore é capaz de fazer. E nós, seres humanos, ainda não conseguimos criar nenhuma tecnologia que faça tudo isso de forma tão eficiente. Então, por que não aprender com as árvores e a natureza de forma geral, que funcionam de forma tão harmônica e efetiva, quando buscamos caminhos para reduzir os impactos das mudanças climáticas?
É justamente essa a ideia das Soluções Baseadas na Natureza (SBN)1, um conjunto de estratégias de engenharia inspiradas e baseadas nos processos naturais, que promovem benefícios ambientais, sociais e econômicos e ajudam a construir resiliência. Como fazer isso? Basta olhar para como a natureza funciona, verificar o que ela faz e pensar em estratégias que se baseiam nesse modo de funcionamento.
As SBN, termo criado pela União Europeia, trazem mais diversidade e aumentam a presença da natureza onde são aplicadas, contribuindo para o enfrentamento de desafios como as mudanças climáticas, insegurança alimentar e hídrica, desertificação e perda da biodiversidade, entre outros. As SBN têm a vantagem de serem eficientes em termos de custo e poderem ser adaptadas a diferentes ecossistemas e contextos, incluindo cidades, áreas desmatadas, rios, oceanos e por aí vai. Estimativas indicam que as SBN podem contribuir com até 37% da mitigação necessária dos gases de efeito estufa (GEEs) e atingir as metas do Acordo de Paris até 2030. Para se ter uma ideia, mais de 130 países já incluíram estratégias de SBN em seus planos de enfrentamento às mudanças climáticas no âmbito do Acordo.
Importante destacar que as SBN se beneficiam do diálogo constante com as populações locais, povos indígenas e comunidades tradicionais5. Elas devem ser desenhadas e implementadas levando em conta as necessidades, valores e conhecimentos dos diferentes setores da sociedade, prestando especial atenção aos grupos historicamente marginalizados, de forma a contribuir para a correção de injustiças. Confira alguns exemplos de SBN para entender melhor o que são essas tecnologias e soluções:
Nas cidades, principalmente na época de chuvas, é comum ocorrerem inundações por causa do acúmulo de água que não consegue ser escoada devido ao concreto e asfalto. Os jardins de chuva6 são uma alternativa eficiente para isso. A localização, geometria, composição de solo e vegetação dos jardins fazem com que a água seja retida e absorvida no solo. As plantas dos jardins recolhem a água do solo, transportam-na para os ramos e folhas e de volta para a atmosfera pela evapotranspiração, reduzindo bastante o impacto das inundações e limpando a água retida.
Um outro problema das grandes cidades é a falta de espaços com natureza. Para aliviar essa ausência, é cada vez mais comum ver telhados verdes. São espaços com vegetação em cima de edifícios, criando pequenos ecossistemas que contribuem para a biodiversidade urbana. As plantas ajudam a reduzir poluentes no ar, a poluição sonora, a reter água das chuvas, a atenuar o calor e a melhorar a qualidade de vida.
A falta de áreas naturais nas cidades também pode ser enfrentada através da criação e manutenção de parques e praças urbanas, preferencialmente com presença de vegetação nativa, cursos d’água, lagos e gramados, por exemplo. E lagoas e espelhos d’água podem ser construídos para lidar com a seca, falta de biodiversidade e ondas de calor, além de, por meio de processos físicos, químicos e biológicos, contribuírem para o tratamento de água poluída proveniente de diversas fontes.
Os sistemas agroflorestais (SAF)7 são muito eficientes para reduzir o carbono na atmosfera. Eles são sistemas em que árvores são plantadas em meio a culturas agrícolas, dividindo a mesma área. A ideia é que as diferentes espécies trabalhem juntas e produzam diversos alimentos. As árvores contribuem também para melhorar a qualidade do solo e da água e a reduzir a degradação. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que os sistemas agroflorestais são uma forma efetiva de reduzir a perda de culturas agrícolas devido às mudanças climáticas.
Como é possível ver nos exemplos (e existem muitos outros8), as SBNs são importantes aliadas no enfrentamento de alguns dos grandes desafios e impactos das mudanças climáticas. Elas nos ajudam a reduzir nossa vulnerabilidade aos efeitos do aquecimento global e contribuem para nossa adaptação. As soluções evidenciam como a natureza é essencial para a qualidade de vida das pessoas. Sem ela, e sem os serviços que ela nos oferece, a vida na Terra seria insuportável. Esses benefícios gerados pelos ecossistemas são chamados de serviços ecossistêmicos9 e podem ser divididos em quatro categorias: serviços de provisão, de regulação, culturais e de suporte.
A discussão traz outro termo parecido, mas que tem um significado próprio. São os serviços ambientais10, que podem ser definidos como as atividades humanas que favorecem a manutenção, a recuperação ou melhoria dos serviços ecossistêmicos. Ou seja, são as ações que podemos tomar para garantir o funcionamento da natureza e os benefícios que ela nos proporciona. Aqui, vale dar mais um exemplo. Quando um grupo de pessoas se reúne para reflorestar as margens de um rio (ação que envolve o plantio de espécies nativas daquele lugar, o que por si só é uma SBN), está colocando em prática um serviço ambiental que vai ter como efeito a melhoria do ecossistema daquele rio. Isso vai possibilitar serviços ecossistêmicos como a retenção das águas das chuvas, a oferta de água limpa e o equilíbrio do clima local. ⭑
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