*Por Paulina Chamorro
Dra. Beatrice Padovani (@beapadovani) é uma das pioneiras no estudo da Biologia da Conservação, “uma ciência voltada para o ser humano e o seu lugar no planeta”, como ela própria descreve a disciplina que mais gosta de lecionar. Através de sua experiência, Beatrice ensina como construir políticas públicas em conservação marinha, unindo ecossistemas, espécies da fauna, da flora e comunidades.
A pesquisadora, também é uma orgulhosa professora. Dá aulas de graduação e pós-graduação na UFPE em quatro disciplinas desde 1995, além de comandar um laboratório onde estuda a dinâmica e o ciclo de vida dos peixes. “Ser professora é ser eternamente estudante”, ela ressalta. “Você estuda para ser professora e cada vez que entra numa sala de aula, ou cada vez que orienta um aluno, acaba sabendo mais do que sabia antes”.
Trata-se de uma das mais importantes especialistas em conservação marinha do país. O Brasil possui as únicas áreas de recife de coral do Atlântico Sul e uma das maiores extensões de manguezais do planeta. Com uma série de ambientes interconectados, somos extremamente dependentes do manejo desses recursos marinhos.
Essa combinação faz de Beatrice a pessoa certa, no momento certo, em um lugar onde sua participação promove o desenvolvimento, pesquisa e conservação da biodiversidade e da pesca artesanal.
Beatrice e Dr. Mauro Maida – oceanólogo, marido e parceiro de vida e pesquisa desde 1988 – começaram a estudar os recifes de coral e as interações humanas no entorno do município de Tamandaré, no litoral de Pernambuco, logo depois de chegarem lá, no início dos anos 1990. Apesar do turismo, a região ainda carrega importantes histórias de pescadores, com algumas colônias de pesca artesanal cinquentenárias. Antes do casal, estudos sobre os ambientes costeiros e suas relações com as comunidades, fundamentais para o equilíbrio ambiental, eram poucos, quase inexistentes.
Beatrice tem o diálogo como ferramenta profissional desde o início de sua carreira. Ela primeiro se aproxima das comunidades para compreender as necessidades locais, e só depois começa a desenvolver pesquisas que embasam propostas de gestão pública da biodiversidade.
“Aprendi muito cedo que eles conheciam o mar em todas as suas dimensões, desde climatologia e aspectos oceanográficos a padrões sazonais e ciclos das espécies”, ela diz. “Sempre foram uma fonte de conhecimento. Os pescadores observam padrões de declínios das espécies e às vezes têm referências que a gente não tem – eles estão ali há muito mais tempo”.
“Estamos trabalhando por uma melhor coexistência no planeta. Eu acredito nisso. A sobrevivência de muitas espécies depende da nossa capacidade de compreender o poder e a responsabilidade que temos sobre as outras espécies que habitam neste planeta”.
Beatrice.
Foto: João Marcos Rosa
“Eu tive o grande privilégio, convivendo com pescadores e pescadoras, de ver crescer o movimento da pesca no Brasil. Principalmente da pesca em menor escala, aqui no Nordeste. E também tive o privilégio de vê-los expressarem o ambientalismo que têm”. Comenta Beatrice. Ter fixado residência na região há tanto tempo foi essencial para criar vínculos de confiança entre as comunidades.
“Professora Bea”, como também é conhecida entre alunos, colegas e nas comunidades, também é uma grande referência sobre recifes de coral no Brasil e no mundo. A APA Costa do Corais é um exemplo disso. A área é uma unidade de conservação que abrange 12 municípios nordestinos, e foi criada para conservar os recifes costeiros, os únicos, no Atlântico Sul. E Beatrice contribuiu, e muito, para começar a desenhar a paisagem marinha nessa região.
Parte importante do trabalho pioneiro da pesquisadora vem da experiência que teve na Austrália, onde esteve pouco antes de chegar a Pernambuco. A pesquisadora trabalhou na Grande Barreira de Corais estudando o efeito de áreas protegidas em populações de espécies pescadas. O conhecimento foi trazido ao Brasil e desenvolvido, desde então, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene), órgão filiado ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Apesar do rigor acadêmico, as pesquisas sempre envolvem as comunidades costeiras na discussão e no monitoramento das políticas.
Entre 1993 e 1995, o principal trabalho de Beatrice foi diagnosticar o estado de conservação dos recifes costeiros desta região. Algo até então inédito.
Diagnosticar o estado dos recifes e monitorá-los tem sido a missão da pesquisadora há décadas, entre muitas outras. Atualmente, com o anômalo aquecimento do Oceano nos últimos anos ( e acentuado em 2024), Beatrice e os demais pesquisadores têm visto com sofrimento o branqueamento de importantes áreas de corais no Nordeste.
Recifes de coral são fundamentais tanto para espécies pescadas para consumo humano quanto para preservar a biodiversidade. As caranhas e o mero, por exemplo, utilizam recifes próximos à costa para se desenvolverem. Quando maiores, voltam para a borda da plataforma e seguem o ciclo de vida.
Além dos meros do Brasil e das pesquisas na UFPE, Beatrice coordena outros dois projetos no ambiente coralíneo costeiro mais importante do Atlântico Sul: o Programa de Estudos Ecológicos de Longa Duração (Peld) e o Reef Check. Em ambos, oferece seu olhar de integração, conservação marinha e trabalho com comunidades e pesquisadores.
“Ser uma mulher na conservação é não acreditar quando te disserem que as coisas não são possíveis, não desistir nunca, ter muito amor pelo que se faz e pensar sempre no futuro da humanidade como um todo”, complementa.
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.