A terra está esquentando

28/06/2024

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Todos os anos, os termômetros marcam temperaturas cada vez mais altas, e há mais notícias sobre geleiras derretendo, mares subindo, rios secando, queimadas, tempestades, inundações e outros fenômenos climáticos extremos. Às vezes, parece que o clima do nosso planeta está ficando confuso.

Mas calma, será que é o clima que está ficando confuso ou é o tempo? É importante diferenciar esses dois termos, muito usados quando se fala em mudanças climáticas. O tempo é o estado das condições da atmosfera em um período curto, ao longo de um instante, horas ou poucos dias. Você já saiu de casa de manhã com frio, de casaco, e ao meio-dia estava morrendo de calor? Nesse caso, foi o tempo que mudou. Já o clima é um panorama médio mais prolongado e completo dos padrões do tempo, sendo medido em décadas, séculos e até milhões de anos1. O clima do planeta muda mais lentamente, e essas mudanças só são percebidas durante um longo período. Quando olhamos os padrões da temperatura global do planeta, verificamos que o clima está ficando mais quente com as décadas. Isso porque temos dados desde o século XIX, que podemos comparar com as atuais temperaturas.

Apesar de as mudanças climáticas e o efeito estufa serem fenômenos naturais, que permitem a existência da vida na Terra, as ações humanas intensificaram (e muito!) esses processos e suas consequências. Tal aumento da temperatura torna impossível que seres vivos e ecossistemas se adaptem a tempo.

O mundo é uma estufa

Desde a Revolução Industrial, que começou na Inglaterra no século XVIII e logo se espalhou por todos os cantos do mundo, a emissão humana dos chamados gases de efeito estufa (GEEs), que incluem o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), por exemplo, acelerou de forma radical as mudanças climáticas. A queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural, carvão mineral e animal, além da liberação do gás metano pela criação de bois e outros animais, liberam para a atmosfera grandes quantidades de GEEs. Esses gases retêm o calor do Sol que entra na nossa atmosfera e impedem que ele retorne para o espaço, tornando a Terra mais quente com o tempo. A medição histórica da temperatura global ajuda a visualizar melhor esse fenômeno.

Dados do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (mais conhecido pela sigla em inglês IPCC) indicam que o planeta estava, em média, 1,1ºC mais quente no período de 2011 a 2020 quando comparado à média de 1850 a 19002. Pode parecer pouco, à primeira vista, mas um aumento médio de temperatura como esse traz consequências catastróficas para a Terra e todos os seres vivos que nela habitam, como mortes relacionadas ao calor extremo, doenças transmitidas por mosquitos, escassez de água, crescimento do nível dos oceanos, perda de colheitas e insegurança alimentar, inundações, tempestades, perda de biodiversidade marinha e terrestre, entre outros. Se a temperatura continuar a subir, a situação só vai piorar. E a previsão não é nada animadora: os indicadores acusam um aumento de até 2ºC até 2050 e até 4ºC até 2100. Mas isso, atenção, só se nada for feito.

Racismo ambiental

Tais efeitos não são iguais para as diferentes regiões do planeta. Hoje, de 3,3 a 3,6 bilhões de pessoas vivem em contextos altamente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Os cientistas do IPCC, no último relatório divulgado, indicam que as comunidades mais vulneráveis, as que menos contribuíram historicamente para a emissão de GEEs (os tais gases de efeito estufa) e para o aquecimento global, são as mais afetadas.

Indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras e outros povos e comunidades urbanas tradicionais, que dependem diretamente da natureza para sua sobrevivência e seus modos de vida e tradições, são especialmente impactados. Isso traz à tona um termo importante quando se fala sobre mudanças climáticas: o racismo ambiental.3 A expressão, criada no seio dos movimentos dos direitos civis norteamericanos dos anos 1950 e 60, faz referência à discriminação e aos efeitos mais severos que minorias étnicas e populações periféricas sofrem quando se trata de mudanças climáticas e degradação ambiental em geral. Estes grupos são os menos responsáveis pelas causas dos impactos ambientais, como o consumo desenfreado e a emissão de GEEs, mas ao mesmo tempo sofrem as piores consequências. O racismo ambiental, além disso, tem papel importante na continuidade dos processos de discriminação sofridos por populações marginalizadas. E será que podemos fazer algo para conter essa realidade? Um dos caminhos é compreender e valorizar nosso conhecimento ancestral.

Os saberes das florestas

Povos indígenas e comunidades tradicionais possuem uma relação única e íntima com a natureza. Ao longo de gerações, eles conseguem sustentar seus modos de vida sem destruir os ambientes em que vivem, mantendo a biodiversidade e possibilitando a regeneração da natureza e dos recursos utilizados. Os conhecimentos ancestrais desses grupos são cruciais para o enfrentamento do desafio climático. Portanto, é cada vez maior a necessidade de diálogo constante e permanente entre os saberes científico e tradicional, pois só assim será possível endereçar os desafios atuais e futuros com estratégias inovadoras. O aumento da participação de povos indígenas e outras comunidades tradicionais nas Conferências das Partes sobre as Mudanças Climáticas (as Conferências do Clima, ou COPs), da Organização das Nações Unidas (ONU), é uma evidência dessa mudança de mentalidade.

Na COP 26, em 2021, a jovem indígena Txai Suruí, do povo Paiter Suruí, foi a primeira brasileira a discursar na abertura de uma Conferência do Clima. Já a COP 28, por exemplo, em 2023, foi a que teve mais representantes indígenas na história: 316 líderes de povos de diferentes regiões do planeta estiveram presentes em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para apresentar suas perspectivas sobre o tema e dialogar com lideranças globais. O Brasil foi representado, pela primeira vez, por uma mulher indígena, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Neste cenário, também emerge a discussão global sobre justiça climática, com a participação de movimentos da sociedade civil, grupos comunitários e de ativismo da juventude. Através de diferentes ações, que vão desde protestos nas ruas até incidência junto a governantes, estes grupos chamam a atenção para a urgência do combate às causas das mudanças climáticas. O debate busca endereçar as responsabilidades sobre os maiores emissores de GEEs e encontrar soluções para atenuar os efeitos dessa realidade sobre grupos mais vulneráveis. Ao longo das próximas páginas, você vai descobrir algumas destas ideias e soluções! ⭑

Links para saber mais:

  1. https://bit.ly/44TnNYx
  2. https://tinyurl.com/p5zf2nzy
  3. https://tinyurl.com/mrx4dr35
  4. https://bit.ly/4dQCyiN

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