Unindo criatividade à precisão matemática, o pintor, desenhista e escultor Luiz Sacilotto agregou novas geometrias à arte concreta, ao abstracionismo e à op art
POR MARCEL VERRUMO
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O sobrenome grafado com dois ts anuncia um artista que parece ser desenhado a partir de duplos. A duplicidade do branco e do preto sobre as telas; do criar a partir da liberdade da abstração e da exatidão do cálculo matemático; de uma vida dividida entre o olhar para fora, mirando as vanguardas europeias, e a conexão com o contexto local. Entre polos por vezes tão dissonantes, Luiz Sacilotto (1924-2003) consagrou-se como um dos expoentes da abstração geométrica, uma figura fundamental para entender o modernismo paulista da segunda metade do século 20.
Nascido em Santo André, no ABC paulista, o artista ainda é pouco estudado no universo acadêmico, apesar de sua relevância histórica e da presença de sua obra em circuitos e espaços culturais tradicionais. Ligado ao movimento expressionista no início de sua carreira, a partir do final dos anos 1940 passou a se dedicar a um trabalho influenciado pelo concretismo, no qual as formas geométricas, linhas e cores ganham destaque.
Essa nova linguagem, pela qual seria conhecido, desenvolveu-se no território paulista, mas também em outros centros urbanos latino-americanos que atravessavam um período de industrialização e urbanização. A poética de Sacilotto é uma expressão da modernidade, remetendo a um design urbano marcado pela exatidão dos tempos industriais.
“O processo de criação do Sacilotto é, essencialmente, baseado na pesquisa. Ele era um artista que estudava muito. E não apenas assuntos ligados à arte, mas também a outras expressões e linguagens, como a literatura e a música. Lia em francês, italiano, alemão, inglês, e buscava nesses textos algo que pudesse aplicar no próprio trabalho. Gostava de visitar museus, onde sempre fazia anotações. Depois dessa pesquisa, partia para a aplicação em um suporte específico, que poderia ser madeira, papel, tela, metal”, resume o historiador de arte Reinaldo Botelho, curador da exposição Sacilotto BioGráfico, em exibição no Sesc Santo André.
Sem desprezar a abstração, buscou na matemática a exatidão dos tons, dos tamanhos e das formas para compor sua obra, calculando cada elemento. “Sacilotto ocupa os espaços, seja da tela ou de uma peça de metal, com muita objetividade, explorando o corte, a dobra, os positivos e os negativos, os cheios e os vazios, os contrastes entre as cores. Sua abstração se revela de uma maneira muito concreta. É uma abstração geométrica feita por meio de cálculos matemáticos”, descreve Botelho.
O expoente andreense dividiu-se entre o exato e o experimento, a herança concretista e a novidade, desaguando em criações fundamentais da op art, com a qual, por meio de formas, linhas e cores, criou efeitos de ilusão de ótica. Ao conjugar a técnica à abstração, transformou-se em um artista matemático, caracterizado por uma última duplicidade: a de quem abraçou os traços do ontem e desenhou a inspiração para um amanhã com novas geometrias.
para ver no sesc
Grafias de vida e arte
Exposição Sacilotto BioGráfico celebra trajetória de artista andreense
Desde a abertura do Sesc Santo André, em 2002, seus visitantes podem contemplar dois grandes painéis geométricos que provocam uma ilusão de ótica. Agora, todos têm a oportunidade de descobrir mais sobre o seu criador, Luiz Sacilotto, artista andreense que tem vida e obra apresentadas na exposição Sacilotto BioGráfico, em exibição até 27 de julho na unidade.
Sob curadoria do historiador de arte Reinaldo Botelho, a mostra integra uma série de ações comemorativas do centenário de Sacilotto, completado em 2024. A partir de centenas de materiais reunidos por Botelho e sua equipe, foram selecionados para a exposição 17 obras e 22 itens do acervo pessoal do artista, além de documentos originais, conteúdos fac-similares, ferramentas e materiais de trabalho. Destacam-se a mesa onde ele trabalhava, as tinturas que testava para eleger os tons de suas criações e os croquis transformados em grandes esculturas.
Segundo o curador, além da importância para a cidade, a efeméride é uma oportunidade para que um dos expoentes do concretismo brasileiro, e grande nome da arte local, possa ser conhecido por novos públicos. “Sacilotto entendia que a arte precisava alcançar mais pessoas, para além dos espaços tradicionais como uma galeria e um museu. Ele pensava a arte como um processo de emancipação da sociedade. Acredito que o Sesc faça isso de forma exemplar, democrática e com grande qualidade”, defende.
Potencializando os conteúdos da mostra, são realizadas ações educativas gratuitas e para todos os públicos. São atividades que expandem os conceitos e práticas de Sacilotto, propondo diálogos criativos entre as artes gráficas e outras linguagens, como dança, música, fotografia e literatura. Um convite para explorar as conexões feitas pelo artista em seu processo criativo.
Santo André
Sacilotto BioGráfico
Até 27/7. Terça a sexta, das 10h às 22h. Sábado, domingo e feriados, das 10h às 19h. Grátis.
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