Sesc Belenzinho recebe mostra da produção audiovisual do artista que realiza performances e fotografias cultivadas na natureza
A foto se constroi no instante. Um fragmento de tempo eternizado pelo clique do fotógrafo. Provavelmente, esta é uma definição recorrente quando estamos falando de fotografias, fotógrafos e seus trabalhos. Jeff Wall, artista canadense, foi um pouco mais a fundo e dividiu fotógrafos em duas categorias: caçadores, mais próximos da definição do começo do texto, e os agricultores, fotógrafos que constroem a imagem antes de capturá-las – ou apanhá-las, se preferir.
Partindo daí, o ICCo – Instituto de Cultura Contemporânea, idealizou a exposição Agricultura da Imagem, tendo como norte o trabalho de Rodrigo Braga. A trajetória de Rodrigo o coloca como uma escolha no mínimo interessante: filho de biólogos, o artista nasceu na Amazônia, mudou-se para o Recife quando pequeno e reside no Rio. Essa migração virou matéria para a performance Tônus, presente na 30ª Bienal de Arte de São Paulo, colocando o homem, no caso o próprio Rodrigo, em contato bruto com a natureza.
“Costumo dizer que trabalho com dois grandes prazeres na minha vida, que é a arte e a lida com o meio ambiente, algo que vem dos meus pais e é uma formação que tive, está embutida em mim” (sic). Na exposição que habitará o galpão do Sesc Belenzinho de 4/9 a 30/11, Rodrigo explorou o Rio Negro, o litoral de Pernambuco e os cursos d’água do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Recolheu peixes descartados por pescadores ou encontrados na maré baixa. O uso das carcaças, uma marca em seu trabalho, também o ajuda a retratar o sentido cíclico da morte, de transformação e integração, tão marcante na natureza e presente nas obras de Agricultura da Imagem.
“Trabalho com o conceito da mimesis, que significa representação em grego”, conta. Durante a concepção das fotografias, ele mistura os elementos e mostra como se complementam e se assemelham. “Um peixe pode se transformar numa folha, assim como uma folha pode se parecer com um peixe”, diz.
Recentemente, o Belenzinho recebeu Gênesis, de Sebastião Salgado, bem menos provocativa e, até certo ponto, mais estéril que a produção audiovisual de Rodrigo, uma vez que, se havia o contato direto com a natureza, isto não respirava para fora da obra, além das imagens embasbacantes num preto e branco maravilhoso, afinal. Tratava-se mais de transportar o olhar do espectador do que passar uma leitura do artista sobre a fotografia e o meio ambiente.
Para Helena Bartolomeu, técnica da unidade, a obra de Rodrigo ainda vai numa chave diferente, “eu acho que ele vai um pouco mais além: não é o que o Rodrigo propõe para o espectador, mas sim o que o ele propõe pra si ao realizar esta ação. Ele constrói a imagem para si, a partir das perspectivas que ele tem de natureza e fotografia, retratando suas experiências pessoais, sua pesquisa, sim. Mas, sobretudo, uma visão que ele tem sobre arte contemporânea e sobre natureza”.
O convite e a provocação estão feitos – você concorda com a gente ou discorda veementemente? Vamos levar essa discussão para o facebook do Belenzinho? A exposição abre nesta quinta, 4/9 – não se esqueça!
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