Leia a edição de janeiro/23 da Revista E na íntegra POR MARIA JÚLIA LLEDÓ
Assim que chegou do Mercado de escravos, com uma argola de ferro no pescoço, arrastando os grilhões, enfraquecido e nu, os brancos do Engenho marcaram suas costas com um ferro quente e lhe deram o nome de José. Mas seu nome verdadeiro era Jata, e ele foi pego perto do rio Zaire”. Assim começa O Nome, primeiro conto do mais recente livro da escritora cubana Teresa Cárdenas, Awon Baba (2022), lançado pela editora Pallas. Premiada por obras que desvelam rostos, dores, mas também alegrias e memórias de antepassados africanos, a autora de Cartas para minha mãe (1997), Cachorro Velho (2005) e Mãe Sereia (2018) traça rotas de fuga, mapeia florestas e faz trilhas secretas para a liberdade, assim como suas personagens.
Sua obra devolve aos leitores o que ela própria encontrou nos livros: um refúgio. E, principalmente, o que ela não encontrou: protagonistas negros. “Nenhuma daquelas personagens era como eu. Nunca havia alguém dormindo com sua mãe, cozinhando com carvão, sem televisão em casa, sem todas essas coisas. Ninguém com um rosto como o meu: um rosto negro”, disse em entrevista exclusiva à Revista E, durante a 20ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em novembro passado. Ainda que a maioria dos livros de Cárdenas, por vontade da escritora, sejam direcionados a um público de crianças e jovens, leitores de diferentes idades e culturas – sua obra já foi publicada em países da América Latina, nos Estados Unidos, Suécia e Coreia do Sul – têm contato com enredos que falam de um conhecimento ancestral sobre plantas, relações e humanidade. Nesta Entrevista, Teresa Cárdenas conta como foi o primeiro contato com a literatura, a influência de autoras brasileiras, seu processo de escrita e de que forma os antepassados são guias de sua literatura.
Como a literatura nasceu na sua história? Como foi esse primeiro encontro com os livros?
Eu sempre amei muito os livros e a literatura. Eu vivia com a minha mãe num quartinho muito pequeno, em Cuba, num lugar que chamamos de “solar”, que é como um corredor, onde moram diferentes famílias em quartos separados. Éramos oito famílias e compartilhávamos apenas um banheiro. Era muito difícil, mas era como um lugar encantado para mim, quando menina. No quintal havia uma árvore e, do quarto, eu via o movimento dos galhos. Era como fugir para um mundo encantado ali e nos livros. Como éramos muito humildes, eu sempre me refugiava em histórias onde havia castelos, princesas, cavaleiros que brigavam pelo amor de uma rainha. E eu me sentia muito à vontade nesses lugares de escape, por fugir desse mundo tão humilde, muito bom e de muito carinho que era o mundo da minha mãe. Porém, às vezes eu não tinha as coisas de que precisava. Era muito difícil para comer, por exemplo. E eu dormi na mesma cama da minha mãe até os meus 23 anos. Foi um pouco complicado. Mas, esse tempo também me deu uma fortaleza e eu me refugiava nos livros para saber que havia algo mais que eu podia conquistar.
Foi a partir desse contato que você pensou em ser escritora?
Não sabia ainda que seria escritora. Me refugiava nos livros, mas não encontrava ninguém que se parecesse comigo. Nenhuma daquelas protagonistas era como eu. Nunca havia alguém dormindo com sua mãe, cozinhando com carvão, sem televisão em casa, sem todas essas coisas.
Ninguém com um rosto como o meu: um rosto negro. Nenhuma família negra como a minha. Então, isso foi o motim e, com o tempo, fui resgatando essas famílias, esses rostos, essa realidade que não aparecia nos livros. Em minha literatura, tento abordar esses espaços vazios e incluir essas histórias. Porque eu senti muita falta da representatividade nos livros. E não só da minha, como também das minhas primas, irmãs, vizinhas. Essa é uma das missões, como eu sempre digo, da minha literatura: que apareçam esses rostos, essas histórias, essas famílias nos livros, e como protagonistas. Porque muitas vezes apareciam, mas ao fundo.
E quais foram as suas referências literárias?
Eu não tive essas influências literárias, porque eu não as conhecia. Eu conhecia uma gente que me rodeava, gente apaixonada, barulhenta, que dançava, que comia e falava com a boca aberta, que ria e chorava ao mesmo tempo. E é essa gente que está dentro da minha literatura. Por essa gente é que eu escrevo. A minha literatura está cheia desses personagens anti-heróis, que é o que eu reflito. Portanto, são pessoas humanas em suas ações, em suas histórias de vida. Pessoas que podem ser violentas, que podem ser tristes, que podem amar desmesuradamente sem dizer uma só palavra. Minha mãe, mesmo, me amava muito, mas ela não conseguia falar. E eu lembro que, quando era menina, nunca estive descontente comigo, mas na relação com os outros, porque não me viam como uma menina bonita. Eu era uma “negrinha feia”, com os lábios muito grossos… Fui à minha mãe e lhe perguntei: “Eu sou bonita?”. Eu precisava que ela me abraçasse com esse “sim” que eu esperava, mas ela não fez isso. Claro, ela também viveu e experimentou essa discriminação. Ela me respondeu: “Filha, eu te amo”. Só que não era isso o que eu queria e precisava escutar. Na minha literatura, há muitos desses momentos, como em Cartas para minha mãe. Há um momento em que a personagem se encontra com um pedaço de espelho, e isso aconteceu comigo. Quando ninguém me considerava bonita, somente eu, me olho no espelho, vejo meus olhos cor de amêndoa, vejo meu nariz e meus lábios como os lábios de Nefertiti, muito bonitos, e falo: “Eu sou tão bonita. Como não veem isso?”.
Como foi esse processo de se ver no espelho pelo seu olhar e não dos outros? E como isso influenciou a sua forma de escrever?
A princípio, tratei de me acomodar à visão dos demais. Fiz coisas no meu cabelo. Mas quando eu comecei a me conhecer um pouco mais, a me relacionar não só com essas pessoas que me rodeavam, mas também com os livros de histórias, com os livros de poetas cubanas como Georgina Herrera (1936-2021) e Nancy Morejón, ou quando eu conheci a obra de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), quando comecei a ler os livros de Conceição Evaristo. Quando esse poder começou a me abraçar, eu comecei a me levantar. Então, tive que destruir aquela Teresa que as demais pessoas queriam, para fazer a Teresa que sou, e que eu não conhecia. Comecei a me conhecer e a saber o que eu sempre senti: que sou uma mulher negra bonita, valiosa e poderosa. Essas são as minhas influências. Influências de um empoderamento, influências espirituais, do saber, da minha identidade, da minha memória, do meu sangue. São essas coisas que me influenciaram muito, mais do que ler determinados livros.
Como é seu processo de pesquisa e de escrita, uma vez que há uma minúcia de detalhes nas histórias que escreve, como em Cachorro Velho ou nos contos de Awon Baba?
É muito difícil e poderíamos falar sobre isso até amanhã [risos]. Em cada livro é diferente. Por exemplo, em Cachorro Velho, no momento em que a personagem Beira oferece uma xícara de café adoçado com mel, ali está uma das coisas que eu investiguei. Há também muitas coisas que vêm da memória, que são assistências espirituais, ancestrais, quase. Por exemplo, meus filhos me dizem: “Mãe, o que você está fazendo?”. Porque eu estou olhando para a minha mão, vendo como ela se move e, até transferir isso para o papel, levo uma semana. Talvez isso possa equivaler a duas ou três orações do texto. Mas, eu tenho que ver o movimento e tentar traduzi-lo para a escrita. Sempre realizo muitas oficinas e, às vezes, eu digo: “Não escreva. Esse não é um trabalho fácil, é muito duro, é desgastante, é sofrido. Não faça isso, faça outra coisa. Porque é muito lacerante”. Tem vezes que não estou escrevendo, mas a história continua sendo escrita na minha cabeça, no meu coração, no meu peito, e eu tenho que arrancá-la para fora. E, como mãe preta que escreve – assim eu me apresento, porque não sou uma autora, mas uma mãe preta que escreve – é muito difícil encontrar o momento de silêncio para poder escutar o que estou pensando. Com três filhos e uma netinha, é muito difícil ter esse momento de paz para escrever. Mas, quando eu consigo, é como uma bomba, uma explosão. Talvez por isso a literatura seja tão forte, porque tenho que aproveitar esses poucos momentos para colocar tudo isso para fora.
Seus dois primeiros livros publicados no Brasil, Cartas para minha mãe e Cachorro Velho, estão na categoria infantojuvenil. Havia a intenção de que essas obras fossem dirigidas, principalmente, para crianças e jovens?
Sim. Eu queria, para, de alguma maneira, responder àquela Teresa criança, as muitas perguntas que eu tinha. Eu queria trabalhar para crianças e jovens, apresentar personagens negros a crianças negras e brancas, mas para que vissem rostos negros como os seus nos livros. Essa era minha intenção. Logo, foi crescendo um pouco, e sim, agora, eu escrevo para todo mundo. Segundo os críticos do meu país, sou caracterizada como uma autora de temas difíceis. E algumas vezes, as pessoas acham que esses livros são muito fortes, porque falo da escravidão, mas a escravidão aconteceu, havia muitas crianças lá e agora há muitas crianças que descendem daquelas pessoas escravizadas. E elas têm que saber sobre sua história. Saber que ela não começou na escravidão, porque nós erámos livres na África. E na África, éramos pessoas que podiam ser curandeiros, artistas, griôs, cantores, reis. Essa é uma história da sua vida que você não conhece. Então, para mim, é fundamental escrever para os jovens leitores.
E quais respostas recebe desses jovens leitores?
Ah, muito carinho. Às vezes, eu penso: “Meu Deus, que sorte eu tenho”. Sorte de receber tanto carinho dos leitores, e não somente dos latino-americanos, porque recebi muito carinho de leitores cuja cultura não é a cultura afrodescendente. Por exemplo, publiquei na Coreia do Sul e lá fui seguida pelas pessoas nas ruas, não somente porque era a única mulher preta ali. Nas universidades e nas escolas, me diziam: “Muito obrigado por vir até aqui para contar a sua história”. Conheciam meu livro da primeira à última página, todos os personagens, e se identificavam com eles. Aqui, no Brasil, também. Lembro que quando estive na Bahia, como dizem os cubanos, “me sacaron el kilo” [perdi um quilo, em tradução literal]. Porque eram três dias de conferências, e quando eu perguntava quanto tempo durariam, me diziam: “Ah… quatro”. Ou seja, quatro horas todos os dias, o teatro cheio, não sabia mais o que compartilhar, e as pessoas queriam saber meu processo de criação de personagens, histórias, queriam saber tudo. Em São Paulo, fui convidada algumas vezes pela Universidade Zumbi dos Palmares, e recebi, em 2018, o prêmio Raça Negra. Foi muito bom! Já o Rio de Janeiro é minha casa. E digo: tenho mais amigos no Rio do que em Havana. Também estive no Ceará, em Pernambuco, em muitos lugares, e sempre sou muito bem recebida. Agradeço ao povo brasileiro.
Você viaja para muitos países europeus, asiáticos, e está presente em diversos eventos literários, como a Festa Literária Internacional de Paraty, que em 2022 homenageou a obra da escritora Maria Firmina dos Reis (1822-1917), junto a autores de várias partes do mundo. Que reflexão você faz sobre o atual cenário mundial da literatura e que desafios ainda estão presentes para que mais vozes negras sejam publicadas, lidas e homenageadas?
Acho que demorou, isso tinha que ter acontecido antes. Falamos muito de racismo, tanto em Cuba como no Brasil, e é preciso lembrar sempre que o Brasil foi o último país a libertar as pessoas escravizadas, em 1888, dois anos antes foi Cuba. Refleti há pouco tempo sobre isso numa entrevista: como é possível que nestes 30, 40 anos, o homem tenha alcançado um desenvolvimento na tecnologia, mas siga com pensamentos colonialistas e escravizantes? Seja pela cor de pele, pelo gênero ou pela orientação sexual? É uma brutalidade ser racista. O racismo não é inteligente, é um crime de desumanidade, porque ele corrompe tudo. E há quem ainda não se dê conta dos danos que o racismo provoca sobre as pessoas.
A literatura acaba se tornando esse espelho sobre o qual você falou, e um meio de contar outras histórias sobre a população afro-cubana e afro-brasileira, por exemplo?
A literatura que eu faço, mas a que fez Carolina Maria de Jesus, que faz Conceição Evaristo, Lilian Rocha, Ana dos Santos, muitas escritoras afro-brasileiras. Elas trazem esse empoderamento da mulher negra, mas de todo povo afro-brasileiro. Trata-se de dizer: Nós estamos aqui, e você não tem direito sobre a minha pessoa. Você não pode violentar a minha vida com seus pensamentos racistas. Acho que a literatura que estamos escrevendo agora, tanto no Brasil, em Cuba, quanto na Colômbia e em Costa Rica, por exemplo, é escrita por mulheres pretas e é um instrumento de resistência, de luta, de “estamos juntas”, de “ninguém solta a mão de ninguém”, de que agora, sim, estamos vendo que o futuro vai ser melhor. Nos fortalecemos umas nas outras. Eu tenho amigas, irmãs, escritoras negras como eu, com filhos, com lutas, com momentos tristes, com momentos de valentia, de paixão pela vida e, sobretudo, pela literatura e por deixar esse legado para os que virão. Não é só para os outros, mas para os que virão e que não podem começar a luta da estaca zero como nós. Aqueles que virão têm que encontrar as coisas mais avançadas. Sendo assim, escrevemos por nós e por eles: nossos filhos, nossos netos.
Uma questão que a gente percebe tanto no primeiro livro, Cartas para minha mãe, e em Cachorro Velho, é a falta do nome do protagonista. E no recém-lançado Awon Baba, o primeiro conto chama-se O Nome e fala sobre a importância desse nome que foi retirado de mulheres, homens e crianças escravizadas. Por que nos dois primeiros livros há ausência do nome, e nesse último, ele está presente?
Em Cartas para minha mãe, eu terminei completinho o livro. Fiquei muito contente. Sempre que eu termino de escrever, deixo [o livro] descansar, e volto à leitura para corrigir algumas coisas. Nesse caso, quando eu voltei à leitura, me dei conta: eu não sabia que a personagem não tinha nome. Não sei por quê… Eu sempre digo que a literatura tem vida própria. E eu digo que sou portadora de uma mensagem. Sou apenas um instrumento deles, dessa gente que nunca teve voz e que agora pode ter pela minha literatura, mas é a voz dessa gente, não a minha. Então, percebi que a personagem não tinha nome, e comecei uma busca exaustiva por um, mas nenhum se acomodava. Até que entendi que ela não precisava de nome. Porque ela é a representação de muitas meninas que podiam estar passando pelo mesmo. Tanto foi assim, que esse livro, meu primeiro, teve uma explosão de leitores de todas as partes do mundo. Mulheres e homens se aproximaram tanto dessa personagem sem nome, crianças brancas, negras, asiáticas, crianças de todas as partes do mundo, de diferentes culturas. Foi muito interessante. Esse é um dos livros mais cativantes. Um livro “travesseiro”, ou seja, daqueles que você não empresta, porque não te devolvem. É um livro muito amado pelos leitores até hoje. Eu o escrevi quando tinha acabado de ter a minha filha, que agora tem uma filha. Esse livro vai completar 25 anos e segue sendo lido, amado e protegido. Em Cachorro Velho, está um pouco mais explicado esse aspecto de retirada do nome e colocado outro nome “mais civilizado” [no personagem, um homem negro idoso escravizado]. E ao final, o nome é revelado somente para ele. E aí ficamos, os leitores, só de espectadores. Porque o nome só foi revelado a ele, nem sequer a mim, que foi quem escreveu.
Em Awon Baba, os personagens dos contos sabem seus nomes. Por que neste livro você fez essa escolha?
Awon Baba [pronuncia-se abon baba] é uma expressão iorubá que significa “os antepassados”, “os pais”, aqueles que nos deixaram um legado. Na cultura africana, o respeito aos mais velhos e o respeito às tradições são muito importantes. E, por isso, esse livro é como uma homenagem àquelas pessoas que nos deixaram sua resistência e sobrevivência. Graças ao fato de terem sobrevivido ao terror que foi a escravidão, hoje, estamos aqui. Eu começo com o conto O Nome, porque eu considero o nome a primeira posse de toda pessoa. No caso dos africanos, sobretudo o povo iorubá, o nome é dado ao recém-nascido quando ele completa sete ou oito dias. Há ritos para escolher qual será o nome do bebê. Não é uma decisão fácil que se toma de primeira. Dar nome às pessoas é algo que exige muita reflexão e respeito. Eu explico um pouco disso nesse conto, mas me concentrei em como era retirado, não somente o nome, como todo o resto de humanidade desses africanos. Eles eram castigados se falassem como seu povo, não deixavam que adorassem seus próprios deuses. Eles teriam que tirar deles tudo que os recordasse quem eles eram e adotar, com violência e crueldade, aquelas coisas novas que lhes eram impostas: os deuses, a linguagem, a comida. Era como um nascer de novo, mas sob uma violência profunda, e muitos não sobreviveram. Por isso, há uma parte desse conto em que eu falo dessa ruptura espiritual, dessa ruptura da sabedoria. Tive que fazer um estudo aprofundado sobre as vozes religiosas do meu povo. Esse conto, O Nome, fala que mesmo tirando-lhes tudo o que tiraram, eles sobreviveram. E aí um deles, que não teve o nome substituído por um nome cristão “mais civilizado” – porque os brancos não conseguiam pronunciar o nome africano –, esse personagem, o Suyeré, ele lembrava porque sua mãe lhe disse seu nome, de que família ele vinha, como seria celebrado seu nascimento, quem foi seu pai, todas essas coisas. Aí está o legado.
Como você observa hoje essa troca entre gerações mais velhas e mais novas? Há uma valorização desse ensinamento ancestral ou ainda é um desafio mostrar aos jovens que a experiência dos antepassados é essencial para compreensão e mudança de desigualdades e injustiças do presente?
Eu tenho muitos contos que falam sobre isso [essa troca entre gerações], muitos contos feitos a Oxalá, que é a representação da sabedoria, do conhecimento e da inteligência – acho que também aqui no Brasil. São esses contos que falam sobre os anciãos ensinando as novas gerações. Um deles se chama Os Velhos, e fala sobre um momento em que os jovens não queriam saber mais nada sobre os velhos. Estavam cansados dos velhos, porque eles sempre diziam o mesmo. Os jovens foram, então, a Olódùmarè, que os levou a um lugar onde não havia velhos. Os jovens ficaram contentes ali: não tinham que ver caras enrugadas, pessoas que caminhavam devagar, tampouco escutar algo que os incomodasse. Mas, com o tempo, eles foram perdendo habilidades. Foram esquecendo coisas que haviam aprendido, e não podiam existir porque lhes faltava experiência. E então, não conseguiram sobreviver. Aí, Oxalá fala com Olódùmarè e diz que quer ajudá-los. E cantando, atravessa um lugar muito extenso até encontrar um jovem e uma jovem, e começa a ensinar-lhes e a passar tudo aquilo que eles haviam esquecido. É só um conto, mas é uma metáfora do que pode acontecer. Acho que, sobretudo, a cultura africana sempre foi passada de boca a boca. E, por isso, eu acho que os jovens têm que ser “orelhas”, eles têm que escutar. É essa a importância de não perder o vínculo, o conhecimento, a sabedoria, o que é passado de geração em geração. Só assim sobreviveremos e seguiremos. Se você se esquece de onde você é, quem você é, você não tem futuro. Por isso, minha literatura sempre volta a essas questões, para que as crianças de agora leiam e saibam. Agora, com toda essa tecnologia, perde-se muito tempo, mas, ainda assim, temos os livros. É muito importante não só para crianças, porque há muitas pessoas com a minha idade que também se esqueceram. É bom que as pessoas tropecem nesses livros e recordem todas essas histórias.
A EDIÇÃO DE JANEIRO/23 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!
No mês em que acontece o Sesc Verão 2023, discutimos a relação entre as tecnologias e a prática físico-esportiva. A reportagem principal desta edição defende que usar o tempo livre para atividades que não movimentam o corpo favorece o sedentarismo, além de elevar o risco de doenças crônicas. No entanto, o texto também aponta que, quando utilizado de maneira equilibrada, o tempo em frente às telas pode motivar a prática de atividades físicas, por meio do uso de aplicativos e aparelhos que medem frequência cardíaca, gasto calórico, qualidade do sono, entre outros indicadores.
Além disso, a Revista E de janeiro/23 traz outros conteúdos: uma reportagem que percorre os caminhos de gestação de uma obra literária, desde o surgimento da ideia original até chegar à mão dos leitores; uma entrevista com a escritora cubana Teresa Cárdenas, que conta sobre sua relação com a literatura brasileira, seu processo criativo e revela de que forma os antepassados guiam sua escrita; um depoimento com a cantora e compositora Ellen Oléria sobre música, teatro e afrofuturismo; um passeio visual por imagens que celebram o universo feminino indígena no universo das artes visuais; um perfil da médica Nise da Silveira (1905-1999), pioneira na humanização do atendimento psiquiátrico por meio da arte; um encontro com o jornalista Tiago Rogero, criador do projeto Querino, que fala sobre popularização de podcasts e luta antirracista no Brasil; um roteiro nostálgico pelas miudezas arquitetônicas de São Paulo, em celebração aos 469 anos da capital paulista; um conto inédito da escritora Natalia Timerman; e dois artigos que discutem a relação entre envelhecimento e inclusão digital.
Para ler a versão digital da Revista E e ficar por dentro de outros conteúdos exclusivos, acesse a nossa página no Portal do Sesc ou baixe grátis o app Sesc SP no seu celular! (download disponível para aparelhos Android ou IOS).
Siga a Revista E nas redes sociais:
Instagram / Facebook / Youtube
A seguir, leia a edição de JANEIRO/23 na íntegra. Se preferir, baixe o PDF para levar a Revista E contigo para onde você quiser!
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.