O esporte está presente nas ações do Sesc desde a sua criação. Entendido em um sentido amplo na instituição, compreende o movimento do corpo, inerente à humanidade, que se traduz na intencionalidade de sua prática e que potencializa as possibilidades do ser no mundo.
Como um reflexo da sociedade, o esporte é permeado por inquietações sobre suas representações teóricas, práticas, imagéticas e simbólicas, por isso é plurívoco e abarca em suas concepções desde as formas mais primitivas de movimentos corporais até as práticas de jogos desportivos institucionalizados.
Celebrar o esporte como uma invenção humana dinâmica que comunica, festeja, tensiona e transforma é reconhecer que este fenômeno sociocultural é imprescindível para uma vida com qualidade, solidária e livre. E, mais do que elucidar este ou aquele conceito, é importante compreender sua complexidade a partir de seus multifários entendimentos.
Assim, este dossiê apresenta olhares para o esporte, que percorrem narrativas entrelaçadas e complementares, compondo este universo intrigante que se configura na relação do corpo com o meio, com o outro e sua força criativa.
O artigo de Heloisa Helena Baldy dos Reis, professora titular aposentada da Unicamp e que foi pesquisadora visitante no Centre for Research into Sport and Society at the University of Leicester a convite de Eric Dunning, o homenageia em conjunto com Nobert Elias e Pierre Bourdieu, ressaltando as contribuições desses autores aos estudos sociológicos do esporte.
Luciana Itapema Alves Melher, gerente adjunta do Sesc Ipiranga, apresenta o posicionamento e o pensamento filosófico de Henning Eichberg sobre o Esporte para Todos, refletindo sobre este fenômeno a partir das culturas de movimento.
No texto de Ana Cristina Zimmermann, professora na Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo, o tema central são os Jogos Tradicionais a partir da fenomenologia nos estudos do corpo, passando pelo referencial decolonial.
Neilton Ferreira Júnior, membro da Academia Olímpica Brasileira, analisa os aspectos socioculturais da relação entre raça, racismo e esporte moderno, evidenciados por uma abordagem histórica da instrumentalização colonial e neocolonial das práticas esportivas.
Versando sobre corpos, gênero e sexualidade, Silvana Vilodre Goellner, professora titular aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destaca alguns marcos regulatórios, a produção de discursos e representações que influenciaram no acesso e permanência das mulheres no esporte.
Fabiano Pries Devide, professor associado da Universidade Federal Fluminense, pauta-se na série “Esportes” do artista Alair Gomes e nos Estudos das Masculinidades, concebendo uma interface entre arte contemporânea, história social e esportes.
No artigo escrito por Ronaldo Helal e Leda Costa, professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, são exploradas as narrativas da imprensa brasileira para a construção de heróis e vilões do futebol que compõem o imaginário nacional.
Cleber Dias, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, examina as relações entre esportes, políticas públicas e inclusão social, co- mentando estudos sobre economia política e desenvolvimento no Brasil e em outros países.
O ensaio de Ary José Rocco Júnior, livre-docente em Gestão de Esporte pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, demonstra, em perspectiva histórica, os paradoxos e as contradições da administração dos esportes no Brasil e no mundo.
Escritos por pesquisadores que participaram da programação do Centro de Pesquisa e Formação, os textos da seção seguinte abordam temáticas variadas. O ator-criador mímico Luis Louis relata um momento crucial em sua carreira, marcado pela transformação pessoal e artística durante a sua formação na Escola Desmond Jones que resultaria na criação do conceito central de seu trabalho, a Mímica Total. Na sequência, a artista plástica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais Camila Rodrigues Moreira Cruz reflete sobre o desenho como uma ação ampla e repleta de significados e possibilidades, capaz de conectar memória, experiência e registro.
O rápido crescimento da criptoarte e a promessa de dar início a um campo cultural mais descentralizado e plural é o tema examinado pelo professor Gabriel Menotti no artigo intitulado “Criptoarte: a metafísica do NFT e a tecnocolonização da autenticidade”.
O fenômeno da fome, que voltou recentemente a atingir uma camada mais ampla da sociedade brasileira, é analisado por meio de uma perspectiva geográfica pela professora Maria Leidiana Mendes de Oliveira, trazendo uma reflexão sobre as desigualdades e políticas compensatórias.
Os egressos do Curso Sesc de Gestão Cultural Amauri Celso Martins da Costa, Denise Miréle Kieling, Giovanni Pirelli, Suzie Bianchi e Maria do Carmo Silva Esteves apresentam os trabalhos que elaboraram durante o curso, nos quais trazem reflexões sobre a atuação das igrejas evangélicas como centros culturais, passeios mediados e práticas de educação patrimonial.
Entrevistado para esta edição, o sociólogo Mauricio Murad aborda as contribuições da sociologia para pensar o esporte, a cultura, a sociedade e a violência. A escritora Ana Rüsche contribui com o poema “Moenda de ventos”, e a arquiteta e urbanista Letícia Nardi resenha o livro Cidades sul-americanas como arenas culturais, organizado por Adrián Gorelik e Fernanda Arêas Peixoto e publicado pelas Edições Sesc em 2019.
Na última seção da revista, o fotógrafo Ricardo Rojas apresenta o ensaio “As Paralimpíadas de Tóquio na intimidade do celular”, dedicado à diversidade das arenas esportivas por meio de imagens feitas com celular.
Os artigos que compõem o dossiê desta edição revelam a complexidade do esporte e uma busca por apreendê-lo em diálogo com outras áreas e em sintonia com as questões contemporâneas. Reconhecer o esporte para além do espetáculo competitivo dos grandes jogos e conectá-lo a uma natureza múltipla e presente no universo cotidiano e criativo integra a missão do Sesc, como instituição promotora de bem-estar e desenvolvimento humano que busca combinar prática com pensamento crítico.
Boa leitura!
Danilo Santos de Miranda
Diretor do Sesc São Paulo
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