“Arvore-se” (v. arborizar, arvorar-se)
É a partir desse chamamento que uma iniciativa cultural e científica reúne pessoas em torno da ÁRVORE simbólica e real.
A partir de um tributo à ÁRVORE e sua multidimensionalidade, pretendemos arborizar, (re)florestar, arvorar-se, colocando-se a prumo diante deste cenário de crise climática, no qual as árvores estão, cada vez mais, perdendo seu espaço na paisagem das cidades.
Um primeiro encontro foi realizado em 2022. Recém-saído do período mais agudo da pandemia e uma vontade imensa de sair daquele estado social covídico, havia ainda no ar, um certo “otimismo ecológico” quanto à reversibilidade do quadro de aquecimento global. Várias vozes surgiram em meio a uma miríade de expressões e linguagens, formatos acadêmicos e não acadêmicos, manifestações artísticas, culturais e políticas em torno de uma rica e fértil programação do ARVORE-SE I. Por meio de metáforas da ÁRVORE, os vários temas se desenvolveram a partir das seguintes abordagens: ANTROPOFÁGICA (a árvore da vida e o sagrado; a árvore e os guardiões da floresta; a árvore Baobá, símbolo da África e a árvore genealógica); DARWINIANA (a árvore filogenética; a árvore subversiva – um contraponto à filogenia; a árvore no plural – a floresta e a árvore no concreto); MACUNAÍMICA (a árvore do conhecimento; a árvore e quilombolas; o “cansaço” das árvores e “árvores, não há mais” e FREIREANA (as árvores professoras; a árvore na localidade e a árvore numa pegada freireana). Ao final e coroando esse encontro – a elaboração de um texto do manifesto ARVORE-SE.
O segundo encontro será em 2024, dois anos depois do primeiro encontro. A Covid ainda presente, atenuada, é verdade (graças à vacinação), mas ao lado de outras epidemias. Os extremos climáticos se acirrando de forma descontrolada e (ir)reversível. Os 4 elementos da Terra – água, ar e fogo revoltos e a terra arrasada – “estamos desterrados, onde aterrar?”. A ÁRVORE se faz presente com toda força, querendo fincar suas raízes na (terra)Terra. É neste novo regime climático que a programação do ARVORE-SE II se delineia: em outubro iniciam-se os primeiros movimentos – uma série de oficinas de plantio de árvores nas escolas e espaços urbanos da cidade, promovida por professores em formação inicial; e em novembro, a programação científico-cultural, tendo como tema central, a árvore no plural – a FLORESTA e sua relação com outras existências – seres vivos humanos e não-humanos. E desta vez, ao lado daqueles que habitam e guardam a floresta – os povos da floresta, os indígenas brasileiros (Programação do SESC/RP).
Arvore-se é o chamamento para esta iniciativa científico-cultural em torno da árvore simbólica e real, que traz reflexões e ações sobre o papel da arborização urbana e da (re)floresta no atual cenário da crise climática. Ao oferecer uma programação diversificada que inclui intervenções urbanas, espetáculos circenses, teatro, oficinas e debates, cria espaços de diálogo entre meio ambiente, arte, sustentabilidade e ação social, fomentando discussões em torno das relações ser humano, natureza e culturas.
Idealização e coordenação:
Clarice Sumi Kawasaki (FFCLRP-USP; NAP EDEVO DARWIN-USP)
Bióloga, pós-graduada em Educação e docente da FFCLRP-USP. Atua na formação de professores de Biologia/Ciências (licenciaturas) e no tripé pesquisa-ensino-extensão voltado para as áreas de Ensino de Ciências Naturais e Educação Ambiental. Atualmente vem direcionando sua atuação acadêmica para o eixo da cultura e extensão universitária, promovendo ações e produções culturais tendo como foco as questões socioambientais. Preside a Comissão de Cultura e Extensão da FFCLRP-USP (2024-26) e faz parte do Conselho Deliberativo do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução “Charles Darwin” (NAP EDEVO DARWIN, Pró Reitoria de PG/USP; 2023-25).
Fernanda Keila Marinho da Silva (DFQM-UFSCar/Sorocaba)
Professora da UFSCar Sorocaba, pesquisadora em ensino de ciências e afins, admiradora das gentes e jardineira aos finais de semana.
Danilo Seithi Kato (FFCLRP-USP/RP)
Docente da Universidade de São Paulo (FFCLRP/DEDIC), líder do grupo de estudo e pesquisa em Interculturalidade e Educação em Ciências (GEPIC), editor da revista Cadernos Cimeac, Educação Popular, atua com formação de professores, metodologias de ensino e aprendizagem e questões socio ambientais e étnico raciais. Capoeirista há 21 anos, pai da Clara e do Cae, e companheiro da Barbara. Caipira do interior de São Paulo e das comunidades periféricas da cidade de ribeirão preto.
manifesto ARVORE-SE
Nós, signatários deste MANIFESTO, repudiamos o extermínio das florestas e de todas as fisionomias de vegetação natural e defendemos o direito de cada ÁRVORE cumprir o seu CICLO de VIDA.
“A coisa mais civilizada do mundo é uma bela árvore”. Por concordarmos integralmente com a belíssima frase de Millôr Fernandes, fazemos desse manifesto um convite para reflexões e ações dedicadas à ÁRVORE e ao que ela representa para a vida humana e não-humana. Pretendemos que a ÁRVORE represente os diferentes ecossistemas e que se apresente como um símbolo para a construção deste texto e para a ação política, possibilitando a expressão de resistências, lutas, resiliências, esperanças e utopias.
Como ser vivo, a ÁRVORE tem direitos e o mais fundamental é o direito à vida. À vida com dignidade. Às árvores deve ser garantida a tutela jurídica do Estado, com os mesmos instrumentos administrativos, criminais e cíveis aplicáveis a outros seres vivos. Defendemos que cada ÁRVORE do planeta deva ser reconhecida como um “sujeito de direito”, mesmo se incapaz de postular respeito a seus direitos.
O reconhecimento da crueldade contra um ser vivo deve se estender à ÁRVORE. Ao derrubar uma ÁRVORE está sendo assassinada uma vida (ou várias), está sendo morto um indivíduo (ou vários) que teria muitos descendentes, todos indispensáveis para a sobrevivência de muitos seres vivos, humanos inclusive, desta e de gerações futuras. Cada ÁRVORE tem uma constituição genômica única, tal qual qualquer indivíduo.
Destruir uma floresta deve ser visto como ato de genocídio, como deliberada intenção de exterminar uma população ou populações. Motosserras devem ser vistas como armas de destruição da vida em massa no planeta.
Em meio a incêndios criminosos, céus vedados por densos blocos de fumaça e fuligem, sol avermelhado e notícias de grave crise climática, nos inquietamos e, num ímpeto de vida, nos ARVORAMOS.
Vamos cuidar para que a ÁRVORE possa manifestar-se em toda a sua plenitude, cuidando de todas as árvores desse encontro e de quem lê este manifesto.
Vamos cuidar da ÁRVORE ancestral e cósmica que vimos preservando ao longo de toda a história da humanidade! Vamos cuidar da ÁRVORE real e das árvores-símbolo, do baobá africano, do ipê-amarelo brasileiro, do resistente hibaku-jumoku, árvore “veterana” japonesa, sobrevivente à bomba atômica.
Vamos garantir o direito à ÁRVORE permanecer junto aos seus, em comunidade – a ÁRVORE no plural, preservando as nossas florestas, para que mantenham as suas vidas secretas, para que possam fazer circular as águas superficiais e subterrâneas e permitam, ainda, a perenidade dos rios voadores.
E junto com a proteção das florestas, vamos cuidar para que as nações indígenas continuem demarcando as suas terras e cultivando as nossas florestas, já que são elas as verdadeiras guardiãs da floresta.
Vamos cuidar da ÁRVORE de nossas cidades e nossas metrópoles, que resistem ao duro chão de asfalto e cimento.
Vamos cuidar da ÁRVORE do conhecimento, menos arbórea e mais rizomática, para que não se dilua no “mundo líquido” das ramificações algorítmicas da rede internacional.
Vamos cuidar do direito dessa ÁRVORE cumprir o seu CICLO de VIDA! Uma sequência de fenômenos da evolução desse ser vivo, de caráter periódico que partem de um ponto inicial e terminam com a recorrência desse, onde não há início e nem fim, apenas a vida (re)ciclando.
Elaborado por: Clarice Sumi Kawasaki, Fernanda K.M.Silva e Perci Guzzo.
Realização: Sesc
Apoio: Departamento de Educação, Informação e Comunicação da FFCLRP/USP; Departamento de Física, Química e Matemática (UFSCar/Sorocaba); Diretoria da FDRP/USP e Biblioteca Sinhá Junqueira.
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