As batalhas de rimas como espaço de aprendizagem

31/08/2018

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Thiago Panda em foto de Alexandre Leopoldino

Por Allan Kendy*

“Saaaaangue!”

Sábado à noite. Quem estiver passando pela praça Beira Rio em Registro não se assuste com os gritos de “Sangue!” ou “Mata ele, mata ele!” ecoado por uma roda jovens das mais diversas identidades do vale do ribeira que ocupam o centro histórico da cidade para cantar, rimar, informar, ouvir e se divertir entre amigos. Apesar da linguagem agressiva, o clima é de muito respeito e coletividade. O formato de ringue pode remeter a todos preconceitos que o senso comum tem sobre os jovens (preguiçosos, rebeldes, não fazem “nada de útil”), mas estar na roda com essa galera parece se tratar de um verdadeiro círculo sagrado. Ficou curioso? Então se aproxime, é possível que esteja começando mais uma edição da Batalha do Beira Rio, o #BBR.

A Batalha do Beira Rio (BBR) é uma batalha de rima, um duelo entre MC’s (ou não) que se inscrevem na hora para mostrar suas intimidades com a rima. Quem acompanha desde cedo o trabalho do rapper Emicida ou assistiu o filme 8 Mile – Ruas das Ilusões sabe da importância que esse evento tem para a cultura hip hop e empoderamento dos jovens da periferia. Há duas formas de batalhas, a do conhecimento e a de sangue. Na primeira, os MC’s desenvolvem suas rimas improvisadas através de um tema estabelecido pelos organizadores ou pela plateia. Já na segunda, os adversários se atacam verbalmente. Em ambas batalhas – como nos debates políticos em praça pública que remontam à antiga polis grega – é o público quem decide o vencedor.

A regra é clara, cada MC tem 30 segundos para desenvolver suas rimas, um round para cada, se houver empate é feito o terceiro round. O público se manifesta através de gritos ou levantando as mãos para contagem de votos. A habilidade de cada MC em construir suas rimas de forma criativa e a importância de respeitar questões de gêneros, raças e identidade conta pontos para afinidade do público e para a qualidade da batalha. 

Thiago Panda, rapper, e um dos organizadores explica seu posicionamento sobre a batalha:

“(…) eu tento não impor regras ou ficar falando sobre como o MC deve se comportar ou não. Mas antes das batalhas ou quando o MC solta algo do tipo (homofobia, machismo, etc). Eu sempre peço a voz e falo que temos todos os tipos de público, diferentes gêneros, opção sexual e idades e por ai vai, então eu devo lembrar que o respeito é fundamental.”

Além da aproximação com a cultura hip hop, as batalhas de rima também são um convite para quem se interessa por música, literatura, poesia e questões de identidade e representatividade.

Em tempos sombrios onde o discurso de ódio ganha cada vez mais poder, movimentos como a Batalha do Beira Rio se mostra cada vez mais necessário para ocupação do espaço público como espaço de aprendizagem e fruição da arte como exercício da democracia.

Em setembro, Thiago estará no Espaço de Tecnologias e Artes no Sesc Registro ministrando a oficina “Vem Rimar!”, exercendo as palavras como tecnologia para o desenvolvimento da cidadania e o hip-hop como expressão artística e transformadora.
Quem quer batalha boa grita o quê?

*Allan Kendy é formado em comunicação social e educador do Espaço de Tecnologias e Artes do Sesc Registro.
 

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