Acordeon e violão se encontram em Valsas de Garoto, novo álbum digital do Selo Sesc. O álbum apresenta 10 valsas do compositor Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955), popularmente conhecido como Garoto. Em formato de releitura, as faixas trazem arranjos inéditos do violonista André Siqueira, que faz duo no projeto com o acordeonista Toninho Ferragutti.
A ideia do álbum surgiu do contato de Siqueira com o livro Choros de Garoto (Edições Sesc e IMS, 2017), contendo as partituras do compositor. Dentre as 67 partituras apresentadas, há exatamente 10 valsas. Concebido pelo músico e compositor André Siqueira, o intuito do projeto foi valorizar e jogar luz sobre a importante produção de Garoto para a música brasileira a partir de um olhar que mescla a preservação do material original, mas também a sua inovação.
Partindo dessa vontade, André decidiu pelo caminho das releituras como uma forma de conservar a memória e homenageá-la a partir de criações inéditas. Para concretizar a ideia, Siqueira tinha uma certeza: trazer para acompanhar seus instrumentos de corda o consagrado acordeon de Toninho Ferragutti. O instrumento foi o pivô para a interlocução com as cordas.
“Ao iniciar a feitura dos arranjos e os ensaios, tomamos o cuidado de que não só cada música chegasse ao equilíbrio necessário, neste difícil jogo entre inovar e preservar, mas também o de que o álbum como um todo apresentasse essa equação de modo coerente e interessante. O dizer popular de que ‘quem conta um conto aumenta um ponto’ ressoa significativamente neste projeto. Para além do feliz encontro entre amigos, com as valsas do Aníbal, o Garoto, acredito que alcançamos um lugar especial neste jogo de preservar e avançar que é tão bonito dentro da nossa música popular.”, conta André Siqueira.
Juntos, o duo foi encontrando e decidindo as outras parcerias essenciais para reviver as valsas: o violonista Paulo Bellinati, grande conhecedor da obra de Garoto, o clarinetista Alexandre Ribeiro, e o violinista Ricardo Herz. Os músicos acompanham o duo em 3 faixas especiais: A Cruz de Ouro, Dugerir e Luar de Areal, respectivamente.
Especialmente em Luar de Areal, o álbum apresenta uma ideia do que teria sido a formação do Trio Surdina, formado na década de 1950 por Garoto, no violão, Fafá Lemos, no violino e na voz e Chiquinho do Acordeon.
“Difícil ser moderno sem ser ‘modernoso’, e tradicional sem ser ‘careta’. O Aníbal, o Garoto, conseguiu. E com isso inspira a todos os músicos brasileiros, por gerações e mais gerações. É um encantamento e uma felicidade escutar, entre tudo o que ele fez e gravou, o seu encontro com o Chiquinho do Acordeon, no famoso Trio Surdina. Por aqui seguimos nós, inspirados por ele e sua música”, encerra Toninho Ferragutti.
Um pouco sobre quem foi Garoto
Filho de imigrantes portugueses, Garoto nasceu em São Paulo, na região da Luz e cresceu com pai e irmãos que o influenciaram musicalmente. As cordas da guitarra portuguesa, do banjo e do violão eram ouvidas por ele desde pequeno.
Começou sua carreira musical em 1926, aos 11 anos, tocando banjo no conjunto Regional Irmãos Armani, sendo conhecido como Moleque do Banjo. Em 1929, teve sua primeira grande oportunidade ao se apresentar na exposição no Palácio das Indústrias, ao lado de renomados músicos como Canhoto e Zezinho. Sua entrada na vida artística foi impulsionada pelo cantor Paraguassu, com quem fez suas primeiras gravações e excursões pelo interior de São Paulo.
Conforme foi se profissionalizando, o moleque cresceu e virou Garoto. Em 1930, estreou em disco solo, que continha duas composições próprias. Em 1931, passou a atuar na Rádio Educadora Paulista. Ao longo dos anos 1930, participou de diversos conjuntos e gravações, destacando-se na Rádio Mayrink Veiga e na Rádio Cruzeiro do Sul. Em 1938, formou a “Dupla do ritmo sincopado” com Laurindo de Almeida e acompanhou Carmen Miranda em apresentações nos EUA, incluindo uma performance para o presidente Roosevelt na Casa Branca.
Nos anos 1940, continuou a gravar e se apresentar em rádios e cassinos, formando o conjunto “Garoto e seus Garotos”. Em 1942, transferiu-se para a Rádio Nacional, onde atuou na orquestra regida por Radamés Gnattali. Em 1952, integrou o Trio Surdina, ao lado de Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeon, grupo que se destacou pela sofisticação e inovação na música instrumental brasileira.
Sua discografia inclui gravações com Carolina Cardoso de Menezes e participações em programas de rádio. Ao longo de sua carreira, Garoto gravou inúmeros choros, valsas e sambas, deixando um legado significativo na música brasileira.
Assista abaixo o duo tocando a faixa Dias Felizes:
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Valsas de Garoto está disponível nas principais plataformas de áudio e no Sesc Digital.
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