Diana Tatit e Wem formam duo que se dedica à criação musical para crianças, com diferentes sonoridades e ritmos
POR MARINA PEREIRA
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Ela cresceu em uma família rodeada por grandes nomes do universo musical, e depois se especializou na área da educação. Ele abraçou sua paixão pela música na adolescência, e resolveu se graduar em composição musical. Juntos, Diana Tatit – sobrinha de Paulo Tatit, do Palavra Cantada, e de Luiz Tatit, do Grupo Rumo – e Wem, nome artístico de Leonardo Wem Mason, formam o Tiquequê, duo criado há mais de duas décadas com a seguinte defesa: crianças são inteligentes e merecem conteúdo artístico de qualidade. Como diz a frase de abertura do site oficial da dupla: “Nada de musiquinha, historinha ou showzinho! Aqui fazemos canções e espetáculos para crianças, com toda a qualidade que elas merecem”.
No início formado como um quarteto, o Tiquequê nasceu apresentando releituras de músicas infantis e do cancioneiro popular. Ao longo dos anos, o repertório autoral foi ampliado e deu origem a seis espetáculos: Toc Patoc (2001), Tu toca o quê (2008), Canta outra (2011), O gigante (2015), Barulhinho, Barulhão (2017) e Todo dia (2022). O Tiquequê já coleciona cinco álbuns e se destaca no mundo digital com mais de 300 milhões de visualizações nas redes sociais, para as quais produzem conteúdos educativos e artísticos dedicados à primeira infância. Um deles é o programa Clubinho todo dia com Tiquequê, lançado em 2020, com atividades online voltadas para o desenvolvimento infantil.
Em abril deste ano, estreou seu sétimo projeto musical, Bailamos, turnê que chega, neste mês, ao Sesc Mogi das Cruzes (12/10) e ao Sesc Santos (13/10). Neste Depoimento, Diana Tatit e Wem relembram a relação dos dois com o universo musical, contam os desafios de criar música para crianças e refletem como as tecnologias audiovisuais acompanham as novas gerações.
começo
Diana: Eu fiz meu primeiro show aos 11 anos, quando [a Palavra Cantada] lançou Canções de ninar (1994). Éramos eu e todas as minhas primas no palco. A gente não cantava, mas fazia cenas. Acho que foi esse o começo da proposta de criar um espetáculo que fosse musical e cênico. Quando paramos [de trabalhar] com a Palavra Cantada, fizemos um grupo nosso, o Coro das Primas, com essa mesma proposta, e acho que isso está nos primórdios do Tiquequê. Daí, quando acabou essa “brincadeira” é que eu tive a ideia de montar o grupo para continuar, de certa forma, fazendo esses espetáculos. Mas eu tive toda uma carreira na área da educação, porque não imaginava que aquilo era para valer.
Wem: O meu pai é muito musical. Minha avó sempre tocou, meus tios todos tocam. Minha mãe fala que, quando eles se casaram, antes de comprar a geladeira meu pai comprou um aparelho de som. Mas o meu lance mesmo era jogar bola. Eu morava numa chácara longe da cidade e passava muito tempo no quintal pensando, cantarolando. Só na adolescência é que se deu minha iniciação musical. Eu tocava saxofone na Banda Lira, da prefeitura de Mogi Mirim (SP), e logo depois comecei a compor. Daí eu vim para São Paulo para fazer faculdade de música, e foi quando eu encontrei o Tiquequê. Eu já tinha feito umas canções infantis e temos [Diana e Wem] um amigo em comum, o Estevão Marques. Quando a Tati, prima da Diana, estava saindo do Tiquequê e precisava de uma pessoa para entrar, ele me indicou.
aprendizado
Diana: Quando a criança está ali, por inteiro, vivenciando uma experiência legal, artística, ela vai aprender coisas e vai se desenvolver. A gente sempre fala que acredita muito na inteligência das crianças e que não precisa fazer musiquinha para ela aprender, porque ela já está no mundo.
Wem: A gente faz música para ser bem-acabada, bem-feita em todos os sentidos. Se a melodia está bem-acabada, se ali tem um discurso bem-feito, então já está legal. Isso é para qualquer pessoa. É para o adulto e é para a criança. No fundo, a gente quer fazer a melhor canção. A criança é inteligente, ela só tem menos experiência e menos repertório que a gente. Mas tem, completamente, a capacidade para entender aquilo.
geração
Wem: Criança é criança. Independentemente de qual geração. Criança tem espontaneidade. Como isso se dá no dia a dia é o que muda. Por exemplo, hoje, a gente tem a questão das telas, e como se dão os desdobramentos na rotina de cada uma. Mas, na essência da criança, a criança como criadora, como exploradora, pronta para entender esse mundo, isso não muda.
Diana: Tem uma mudança na nossa produção. No começo dos anos 2000, era uma estética mais artesanal. A gente teve um cenário que era feito com caixas de madeira, por exemplo. De um tempo para cá, a gente tem trabalhado mais com cenário em vídeo, com outras possibilidades de interação. Nesse show mais recente [Bailamos (2024)] tem muitos efeitos que são de redes sociais, dessa linguagem do reels do Instagram. Então, a gente vai se atualizando e, claro, isso também conversa com o contexto em que as crianças estão, a cultura e o momento histórico em que vivem.
conexão
Wem: “Quero começar” é uma música minha, de um trabalho anterior, que podia falar tanto com as crianças quanto com os adultos. E, de repente, ela se tornou uma música muito mais do Tiquequê do que minha. Do ponto de vista da composição, tem coisa que eu escrevo e já entendo que é do Tiquequê. Eu fico querendo entender como essa canção chega ao ouvido da criança de um jeito rico.
Diana: Quando começamos o Tiquequê, fazíamos shows em festas de aniversário, sem microfone, em buffet. Pensa nesse contexto, que é o mais disperso possível. A gente chegava no meio de um monte de cor, luzes, e pedia para as crianças se sentarem ali. Tínhamos 40 minutos para nos conectar com elas. Sempre fomos assertivos, porque a criança não tem tempo a perder, não vai ficar por “educação”. Se ela não curtir, vai se levantar e sair.
releituras
Diana: No início do projeto, a gente fazia releituras de outras músicas, e não necessariamente infantis. Por exemplo, “Cultura”, do Arnaldo Antunes, que a Palavra Cantada gravou e a gente também fez uma versão, é uma canção teoricamente adulta. A gente adorava pegar músicas “adultas” [a exemplo de obras de Noel Rosa (1910-1937) e Jorge Ben] e regravar. Até porque, na nossa infância, a gente ouvia o que os nossos pais ouviam. Tem muita música que, se você for pensar, poderia ser infantil. Por exemplo, “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça/ É ela a menina, que vem e que passa (…)”, ou “É pau, é pedra, é o fim do caminho (…)”. É simples de entender. Acho que a gente tem claro que compõe pensando na criança, mas é muito nesse espírito de que, no fundo, a boa composição precisa ser simples.
influências
Wem: Meu pai tinha uma discografia muito rica, todos os clássicos, os grandes compositores da música brasileira. E ele também gostava de música erudita. Ao mesmo tempo, como uma criança dos anos 1990, eu escutava muita música, tudo o que chegava, bastante cultura de massa, que era boa e ruim também. Mas, produção infantil mesmo, eu não ouvia. Fui conhecer esse universo mais velho, por conta do Tiquequê.
Diana: Em casa a gente escutava muito Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben, Rita Lee (1947- 2023). Na casa da minha avó, tinha todos os discos da Rita Lee, junto aos da Angélica, da Xuxa, do Balão Mágico. E de música internacional, ouvia muito Michael Jackson (1958-2009), meu pai gostava bastante. Eu tinha muitos discos de vinil da Coleção Disquinho, com as histórias infantis. Inclusive, no primeiro show do Tiquequê, a gente fez “Festa no céu”, uma versão dessa coleção. Até hoje, eu sei de cor o disco Os Saltimbancos (1977): as músicas, as falas dos personagens, do começo ao fim.
telas
Wem: Todos nós vivemos a individualização do entretenimento por meio das telas. Porque você pode ver o que quiser. Só que tem um lado ruim: é algo solitário. Você nunca está compartilhando um momento, uma experiência de entretenimento com alguém. E eu acho que quando a gente faz música para criança – no Tiquequê – a gente está sempre dialogando diretamente com elas. A gente pensa também na família, no adulto. Porque espera que o adulto curta aquilo e quebre um pouco essa sensação de solitude, de cada um estar em frente a uma tela. Então, existe essa experiência das telas, mas, ao mesmo tempo, uma cumplicidade fora, com mais de uma pessoa ou pessoas de gerações diferentes: pai, mãe, irmãos, avós.
Assista ao vídeo com trechos da entrevista com a dupla Diana Tatit e Wem, do Tiquequê, gravada em julho de 2024, no Sesc Vila Mariana.
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