Um brotar centenário
Há 100 anos, os modernistas se reuniam na capital paulista com um propósito claro: colocar em xeque as regras da arte dita oficial. Difundiram, junto a plateias ressabiadas, experimentações em literatura, música e artes visuais para alardear um novo tempo da cultura brasileira. Às influências estéticas europeias, conectadas com um universo urbano e maquinizado, misturava-se o anseio por uma sensibilidade atrelada a raízes ancestrais, supostamente nacionais.
Desde então, esse caldo cultural tornou-se referência para outros episódios da cultura nacional, tanto de forma explícita – foi o caso do interesse dos tropicalistas pela ideia modernista de antropofagia – como também como inspiração difusa.
Com a intenção de mapear os modos como o modernismo repercute hoje em corações e mentes, o Sesc apresenta, entre 30 de agosto e 25 de setembro, a segunda edição do Caldo, projeto criado para iluminar encontros que acontecem em diversos cantos do país, embaralhando cadências tradicionais com as batidas frenéticas da atualidade. A ideia é identificar os criadores que articulam no presente subjetividades variadas – como as de origem indígena, europeia e negra –, de modo análogo àquilo que modernistas almejaram fazer, a partir da Semana de Arte Moderna de 1922.
Três eixos dividem (e misturam) a programação: Na(rra)tivas, com espetáculos marcados pelas mesclas poéticas; Interlocuções Convexas, aberturas para conversas sobre arte e identidades múltiplas; e Pra lá 22 pra cá, traçando conexões entre modernismos e o cenário piracicabano.
Numa época em que a torrente de informações digitais nos assola a todo momento, minimizando contatos reais, Caldo propõe oportunidades de encontro, fruição e reflexão. Trata-se de um convite para embarcar num caldeirão de múltiplos tempos e lugares – ancestralidades e futurismos, rupturas e continuidades, ecos da metrópole em outros territórios.
Depois de anos isolados por uma teimosa pandemia, os corpos solicitam novos pontos de contato. A disposição para vivenciar as artes e os diálogos dá o tom festivo deste momento, que é feito de energia e celebração, mas também de engajamento e juízo crítico. O pressuposto é a diversidade de expressões e perspectivas de mundo, estimulando o exercício da alteridade, livremente inspirado na máxima de Oswald de Andrade: “só me interessa o que não é meu”. Que a temperatura desse caldo seja propícia para acender afetos e ativar renovadas percepções, em tão esperada comunhão.
Sesc São Paulo
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