Com direção de Rogério Tarifa, o ato-espetáculo musical celebra os 52 anos da obra de Gianfrancesco Guarnieri.
“Quem souber de alguma coisa/ Venha logo me avisar/ Sei que há um céu sobre esta chuva/ E um grito parado no ar.”
Trecho da música “Um grito parado no ar”, de Guarnieri e Toquinho
Uma nova versão de Um Grito Parado no Ar, clássico de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), estreia no dia 17 de janeiro no Sesc Bom Retiro. Sob a direção de Rogério Tarifa e montagem do grupo Teatro do Osso, a obra revisita a icônica peça que reflete sobre os desafios da criação artística em tempos de censura e repressão.
A dramaturgia, atualizada por Jonathan Silva, Rogério Tarifa e o Teatro do Osso, dialoga com o contexto contemporâneo, enquanto a encenação preserva o caráter crítico e metateatral que marcou a história do teatro brasileiro.
A narrativa acompanha um grupo de artistas que ensaia uma peça a dez dias de sua estreia. Enquanto pressões externas, como dívidas e restrições financeiras, ameaçam o andamento da produção, a trama reflete a precariedade e a persistência da arte em tempos complexos. Com improvisações baseadas em relatos reais de moradores da cidade, o espetáculo revela as tensões sociais e econômicas que permeiam o cotidiano, reafirmando o teatro como espaço de resistência e transformação.
O ato-espetáculo musical conta com a participação da atriz convidada Dulce Muniz, que interpreta a personagem Flora. Tarifa destaca que Dulce fez parte do Teatro Arena e faz parte da história do teatro brasileiro. O grupo costuma trabalhar com depoimentos de pessoas, e a experiência de Dulce traz um olhar especial por ter vivenciado as duas épocas 1973 e a atual.
A direção musical de William Guedes conta com músicas originais compostas por Jonathan Silva criada especialmente para o espetáculo. Existe também um coro, como personificação da multiplicidade de experiências pessoais, éticas, estéticas e políticas reunidas em cena. A ideia é trazer a pluralidade de vozes e experiências para contar o que é fazer teatro em 2025, numa convivência entre atrizes, atores e não atores, diferentes gerações, classes sociais, imigrantes, pessoas cis e pessoas trans.
Sobre a montagem de 1973
“Um Grito Parado no Ar” estreou em 1973, cinco anos após a publicação do AI-5 e um ano após o fim do Teatro de Arena. Guarnieri criou uma dramaturgia de afronta direta às repressões e à censura da Ditadura Militar brasileira. Quando Fernando, personagem da peça, diz que “nós vamos estrear nem que seja na marra!”, está dando um recado claro e objetivo aos militares de que continuariam se expressando e incomodando, independentemente do quanto tentassem desmobilizá-los. O Teatro de Arena tinha acabado, mas os artistas resistiam. Guarnieri, com o título “Um Grito Parado no Ar”, trouxe uma excelente metáfora.
Quem foi Gianfrancesco Guarnieri?
Ator, diretor, dramaturgo e poeta italiano naturalizado brasileiro, marcou a dramaturgia nacional com textos que abordavam questões sociais e políticas. Entre suas obras mais significativas está Eles Não Usam Black-Tie, reconhecida como um marco do teatro brasileiro.
Exposição Virtual
Além do espetáculo, você pode conferir também a exposição virtual Do Canto ao Grito – Um Estudo sobre o Teatro Épico no Brasil, que reúne músicas, vídeos, documentos históricos e materiais desenvolvidos ao longo do processo criativo. A mostra enriquece a experiência do espetáculo ao ampliar debates sobre temas como censura, violência e desigualdade.
Visite www.teatrodoosso.com.br
“As pesquisas duraram 6 anos, buscando compreender a prática artística contemporânea em relação à montagem de 1973. Quando ouvimos pela primeira vez o nome Um Grito Parado no Ar, isso nos provocou uma reflexão profunda. Quais gritos estão parados no ar? Seriam gritos negativos ou violentos? O título criado por Guarnieri, é muito preciso e A obra estreou há 52 anos, em um período de forte repressão política, e tornou-se um símbolo da resistência cultural. A frase “Nós vamos estrear nem que seja na marra!”, dita pelo personagem Fernando, ecoava como um manifesto dos artistas contra a censura. Hoje, o Teatro do Osso traz essa força para os palcos, reafirmando a importância do teatro como ferramenta de questionamento e crítica social.
Haverá também um debate com Sônia Loureiro, atriz da montagem de 1973, Renato Borghi, ator que junto a José Celso Martinez Corrêa e Amir Haddad fundou o Teatro Oficina em 1958, e Dulce Muniz, atriz do teatro de arena, para falar sobre a montagem de 1973 a versão atual, realizada pelo Teatro do Osso, 52 anos após a montagem original. Falam também sobre teatro, representatividade, história e ditadura.
Debate: Um Grito parado no Ar de 1973 a 2025
Qua | 12/2, às 19h | Grátis | Teatro
Um Grito Parado No Ar
Direção: Rogério Tarifa
Estreia dia 17/1, sexta, às 20h. Temporada até 16/2
Sextas e sábados, 20h
Domingos, 18h
Local: Teatro (291 lugares)
Classificação: 14 anos
Duração: 150 min sem intervalo
Valores: R$18 (Credencial Plena), R$30 (Meia) e R$60 (Inteira).
Venda de ingressos disponíveis online a partir de 7/1, às 17h ou presencialmente dia 8/1, às 17h
–> APP Credencial Sesc SP, no site sescsp.org.br/bomretiro ou nas bilheterias do Sesc SP.
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Sesc Bom Retiro
Alameda Nothmann, 185 | Campos Elíseos, São Paulo
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