Imagem: CAIU
Por CAIU*
A jornada da coletivA Ocupação nos mostra que a união faz a força e ainda nos enche de esperança num país em que a arte e a educação são coisas negociáveis. Essa história começou entre 2015 e 2016, quando estudantes secundaristas ocuparam as escolas e realizaram atos pelas ruas, em resposta a proposta que fecharia mais de 100 escolas públicas, sem consulta à sociedade.
Também conhecida como Primavera Secundarista, essa experiência de mobilização revelou outro potencial dos estudantes: debater e propor um projeto de escola que dialogue com seus sonhos.
A história da ocupação de uma das escolas virou documentário. O filme “A Escola É Nossa!”, gravado, editado, montado e mixado por quem esteve por dentro do movimento, retrata os primeiros momentos da ocupação da E. E. Fernão Dias Paes, em São Paulo.
Apesar de toda a hostilidade da polícia, os estudantes usaram seus corpos para realizar intervenções e alcançaram conquistas históricas em todo país. Com a ajuda da arte, foram criadas diversas formas de manifestações política, desde o vídeo musical “Ocupar e Resistir”, com participação do ex-secundaristas Fabricio Ramos e Lucas Koka Penteado, até o discurso da ativista da educação pública, Ana Júlia Ribeiro, que viralizou na internet por ter apenas 16 anos e um vasto conhecimento sobre o que se passava nas escolas naquele período.
“O corpo que se fez flor foi granada” para que os policiais tivessem que recuar diante de muita resistência e defesa do espaço que muito contribui para nossas comunidades: as escolas públicas. A partir disso, o privilégio de sonhar com um futuro justo e igualitário teve o combustível ideal para juntar ainda mais potências e formar a companhia que fala sobre diversidade, representatividade e muita persistência: a coletivA ocupação.
A convite da Viração, realizei a cobertura educomunicativa do encontro entre a coletivA e um grupo de jovens como parte da ação Juventudes: arte e território, do Sesc São Paulo. Neste encontro, ouvimos sobre como, durante a ocupação das escolas, os estudantes se planejavam, se organizavam, se alimentavam e se protegiam dos ataques que tentavam cessar a luta. Ficou evidente quão essencial foi o apoio que receberam da população e da família, sobretudo das mães, que apesar da preocupação entenderam a importância de estar presente diante daquele cenário.
Com brilho nos olhos e com muito orgulho, o grupo relatou a sua história, contando como construíram o equilíbrio entre luta e arte com excelência.
O encontro trouxe informações de como os jovens podem se formar artisticamente através de lutas sociais.
Com diferentes linguagens artísticas, a coletivA ocupação refaz nos palcos o dia-a-dia de jovens dentro das escolas e salas de aula, como um espetáculo que nos questiona e traz a reflexão sobre como a vida imita a arte, da mesma forma que a arte transforma a dor. Em seus trabalhos, falam sobre o direito das corpas em movimento, identidade, sexualidade e repressão; para, além de reafirmar seus territórios, criam novos espaços e narrativas.
O site da coletivA ilustra registros impressionantes e memoráveis de sua trajetória, e nos dá a oportunidade de assistir ao espetáculo“Quando Quebra Queima”, que é apresentado através de performance e teatro como um ato em celebração às corpas, luta e território.
Através de novos caminhos, o grupo se faz ser visto pelo mundo com seus espetáculos que retratam fatos da realidade brasileira. O ato que nasceu de uma luta ganhou espaço de fala, recebeu prêmios – como o Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo – e reviews de grandes veículos de comunicação no Brasil e no Mundo.
Nadando contra a maré, a coletivA ocupação é resistência e enfrentamento às estruturas que o sistema nos impõe. Com esses jovens artistas, aprendemos que a educação e a arte são formas de garantir o futuro de nossas comunidades, contribuir com a revolução e nos fazer acreditar que juntos somos mais do que só corpas em movimento: somos o que muda as ferramentas do sistema.
Se eu estivesse em São Paulo naquela época, me faria um corpo parte desse ato que rebusca nossas raízes e que também é um portal para o novo.
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Esse texto faz parte da cobertura educomunicativa da edição 2021 da ação Juventudes – Arte e Território do Programa Juventudes do Sesc São Paulo. Um grupo de jovens da Viração Educomunicação acompanhou a série de encontros virtuais com artistas e coletivos proposta e compartilhou algumas das reflexões e atravessamentos provocados a partir destes encontros em textos e peças gráficas.
*CAIU tem 25 anos, carioca, formado em desenvolvimento web e audiovisual.
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