Rei da Cocada Preta | Ilustrações: Ricardo Simone
Tem jeitinhos de falar que levam a gente pra tão longe quanto um logo ali de mineiro! São capazes de nos fazer revisitar histórias e com elas nos divertirmos em meio às lembranças daquelas expressões deliciosas, que parecem ter saído direto da boca de algum familiar. Já reparou que uma penca delas têm a ver com comida?
Pois bem, neste texto, que é quase um bate-papo sobre alimentação, você encontrará algumas delas, feito fossem carne de vaca. Perdoem se em algum momento a gente parecer aquele tio do pavê… mas, diz aê, o que seria dos almoços de domingo sem a tradicional piadinha que sempre paira no ar naquele momento que antecede a famigerada sobremesa?
Desculpem os brotinhos, ou melhor, milennials… mas aqui o creme de avelã será café com leite, pois só vai rolar expressão raiz! Mas, antes que comecem a chorar as pitangas, abram seus corações, fiquem, vai ter bolo! Garantimos que será um prato cheio e que, se bobear, vocês vão querer até repetir.
Repetir? “Isso só pode ser falta de foco, força e fé…” certamente vocês já ouviram isso por aí… Também, pudera, são tantas informações, recomendações, proibições ou julgamentos sobre o que devemos ou não comer, que a hora de se alimentar virou um tremendo abacaxi a ser descascado! Quem nunca se sentiu com um pepino nas mãos em meio às opiniões de influenciadores fitness, que se acham os reis da cocada preta, e suas sugestões de dietas milagrosas que prometem deixar seu corpo perfeito.
Opa, pera ae, digo, péra ae! Corpo perfeito?! É sério isso, produção? Em tempos de autoafirmação, reconhecimento e valorização das diferenças dos corpos, dá mesmo vontade de mandar catar coquinho toda vez que alguém celebra ou condena o consumo de um alimento para que alcancemos um ideal de corpo.
Mals ae… sabemos que esse assunto é tão polêmico quanto a uva passa, mas é que pipocam receitas, falsos mitos e teses sem fim em torno da comida, quando, no frigir dos ovos, uma boa alimentação não tem segredo. Afinal, muito antes de existirem médicos, nutricionistas, blogueirinhos ou qualquer outra profissão, a gente já comia, e o fato de termos chegado até aqui é um sinal de que sabemos como fazer isso, né não?
Pense na sua avó que viveu um outro tempo, por exemplo, ou em uma pessoa que vive em um lugar distante e isolado, onde nem todas as novidades alimentares propagadas pelas indústrias alimentícia, farmacêutica e pela mídia não estão por ae dando sopa. Você ousaria dizer que essa pessoa não sabe se alimentar direito? Que as escolhas que ela faz no dia a dia não são boas? Melhor não, chuchu, pois julgando assim, você pode acabar ficando com cara de tacho, já que a relação de cada um/uma com sua comida é bastante pessoal, relativa e mutável, portanto, essa separação entre joio e trigo não se dá da mesma forma para todo mundo, sacou?
Cara de Tacho
Sem querer, aqui, ficar cozinhando o galo, mas buscar o equilíbrio e não se deixar seduzir por algum ingrediente milagroso, talvez seja um boa maneira de não entornar o caldo, quando o papo é comer bem. Além disso, não é porque a rapadura não é mole, que ela deixa de ser doce, ou soja, digo, seja… existem receitas sopa no mel, como as que levam produtos frescos, naturais e diversos; aquelas que são preparadas na hora, de forma caseira, a serem apreciadas, assim, de grão em grão, divididas com atenção, com prazer e em boa companhia.
Na hora de escolher seu alimento, entre pera, uva, maçã ou salada mista, é bom manter um olho no peixe, outro no gato para não sair por ae acreditando em todas as abobrinhas que são ditas sobre um modelo ideal de alimentação saudável.
Comida é mais do que uma necessidade biológica ou uma forma de alcançar saúde. Ninguém come uma proteína e um tanto de carboidrato. Comemos frango com macarrão! Comida é cultura, como o acarajé das nossas baianas! É passagem de ida para uma Coreia apimentada e fermentada. Comida é tradição, como uma boa e sonolenta feijoada servida aos sábados. Comida é prazer – então, dê uma colher de chá para si mesmo e não pense que enfiou o pé na jaca quando, vez ou outra, comer aquele hambúrguer! Nada de se sentir como o pão que o Diabo amassou, pois culpa nunca foi bom tempero, tão pouco faz bem para a digestão.
Enfiar o Pé na Jaca
Comida é relação, minha gente! De gente com gente, de gente com plantações e pastos, de gente, plantações e pastos com empresas, estudos, tradições e inovações, mas, sobretudo, comida é relação da gente com a gente mesmo. Por isso, bom mesmo é relaxar, tirarmos um tempinho para um café e puxar a sardinha, cada um para seu lado, na tentativa de entendermos nossos corpos, nossos momentos do dia e estilos de vida que levamos aos nossos pratos.
De nada adianta meter a colher no angu dos outros, pois cada um/uma sabe quais são seus caroços, reconhece quando troca seus alhos por bugalhos, ou quando colhe maduro por ter plantado verde, no seu tempo, este é o tempo certo. Pois caetaneando, cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é.
No mais, melhor que seguir padrões midiáticos da moda, correndo o risco de viajar na maionese daquele que disse que falou que leu na revista, é reconhecer em si suas referências de uma comida para além de funcional, segura e suficiente, uma oportunidade de, no sabor, pirar na batatinha! Então, seja você um farofeiro, um verdadeiro arroz de festa ou, então, acha melhor ficar no arroz com feijão, desde que bem temperadinho, bom apetite!
Pirar na Batatinha
Esperamos ter deixado com um gostinho de quero mais, afinal este texto é só um aperitivo. Se ainda não está saciado, pode repetir sem culpa! A gente conversa sobre tudo isso na programação do Experimenta! que acontece até o fim do mês de outubro em todas as unidades do Sesc.
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