O Haiti, o Senegal, a Síria, o Congo, a Palestina, o Peru e a Bolívia são aqui.
As ondas imigratórias formaram um Brasil de raízes distintas: são histórias, hábitos, línguas, paladares, religiões e receitas que se somaram, misturaram, desapareceram e renasceram aqui.
Em São Paulo, especialmente, reúnem-se novas e antigas imigrações. Ao longo da história, italianos, espanhóis, árabes e japoneses tiveram de conviver e integrar suas culturas. Incluindo as alimentares. Hoje, a esse caldeirão cultural adicionam-se comunidades africanas, haitianas e latinas.
Nessa miscelânea, a comida torna-se fio condutor de identidade. É uma forma de trazer um gostinho da terra natal para ocupar novos territórios. Poucas coisas, afinal, são capazes de dar a sensação de “estar em casa” como um prato típico, caseiro, com gosto de infância.
Não é à toa que muitos imigrantes encontraram na comida uma forma de sobrevivência. Surgem a toda hora novos restaurantes que oferecem sabores ainda pouco conhecidos aqui – da maqluba palestina ao griot haitiano. Além de serem espaços onde os locais podem descobrir temperos, são também territórios de resistência, onde a cultura de quem vem de longe é lembrada dia após dia, na panela, nos aromas, no gosto.
Alex Shyllon é um exemplo dessa resistência e dessas misturas que surgem em São Paulo. De origem sul africana, ele é um dos responsáveis por um restaurante senegalês no centro da cidade – um dos muitos que quase se escondem, sem placa, sem nome. Ele contou que em sua rotina alimentar no país de origem, consome-se muito mais fubá do que arroz. Em vez do arroz e feijão, o prato típico de lá é chamado Crain Crain, à base de fubá e batatas. Uma coisa que Alex diz que não encontra no Brasil é a Dawa Dawa – que ele explicou ser uma espécie de raiz parecida com a mandioca.
Também no centro, a algumas centenas de metros do restaurante de Alex, está o Mercado Municipal de São Paulo, onde é possível conhecer comidas e temperos de diversos lugares do Brasil e do mundo. Lá, encontramos Francesco Toddi, que trabalha em uma barraca vendendo frutas há 40 anos. Ele veio da Itália pequeno e conta que o negócio é familiar: pertenceu ao pai, ao irmão e agora é seu. São mais de 100 tipos de frutas, compradas semanalmente no Ceasa. A fruta que é a estrela da barraca, e que ele garante só ser encontrada lá, é a Pitaia da Colômbia.
Para descobrir essa diversidade, sua estratégia é sempre conversar com os clientes – também vindos de toda parte – e assim ficar sabendo das novidades.
Por fim, um representante da diversidade alimentar tipicamente brasileira (que renderia assunto para uma nova matéria): Marcondes, de Recife, e que trabalha há mais de 20 anos no Mercadão. E do que Marcondes mais sente falta da terra natal? Os sucos naturais de mangaba e cajá que sua mãe fazia. Ele também citou frutas típicas de sua cidade de origem e que não encontra mais em São Paulo como o cajá-manga, saputi, jenipapo, mangaba, ingá, macaíba. Ali, na banca do Francesco, quem sabe?
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