Ilustração: Karin Yuri
Em uma das salas do Hall de Ginástica do Sesc 24 de Maio, pessoas estão sentadas em roda. Todas respiram calmamente, absorvendo os sons de mantra que preenchem o ambiente. Mesmo sentadas, elas estão experimentando um novo tipo de exercício: a ginástica íntima.
O exercício é uma técnica que vem ganhando espaço por ajudar na saúde e na sexualidade de seus praticantes, melhorando, assim, a qualidade de vida. A área pélvica é muitas vezes negligenciada. A gente nem lembra que ela existe, mas assim como os demais músculos do corpo, precisa ser movimentada e fortalecida. Caso isso não aconteça, podem surgir diversos malefícios, principalmente na terceira idade. Os problemas vão de dificuldades na sexualidade até incontinência urinária
Por que é importante fazer ginástica íntima?
Os benefícios podem ser divididos em dois grupos: saúde, com o fortalecimento muscular, e sexualidade, com a vascularização pélvica.
O fortalecimento muscular se dá pelas contrações em diversos pontos da região. Esse lugar do corpo é extremamente relevante, pois sustenta nossas vísceras e órgãos reprodutivos. Os problemas no assoalho pélvico podem trazer muito prejuízo social e familiar. “Já tive alunas que evitavam sair de casa por medo de urinar no meio do caminho”, relata Vanessa Reis, terapeuta sexual e especialista em sexualidade feminina, que ministrou a oficina Exercícios de ginástica íntima 60+ no Sesc 24 de Maio. Além disso, a ginástica íntima evita as disfunções no assoalho pélvico, incontinência fecal e os prolapsos (quando órgãos internos saem pelos orifícios íntimos).
A vascularização pélvica consiste na melhora do fluxo sanguíneo na pélvis, o que consequentemente impulsiona o desejo e o prazer sexual. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma sexualidade bem vivenciada é um dos pilares para qualidade de vida e, por isso, é fundamental não deixá-la de lado.
“Ao meu ver, a saúde e a sexualidade andam muito juntas”, diz a terapeuta. “Dificilmente uma pessoa com disfunção no assoalho pélvico terá uma vida sexual ativa”.
A ginástica íntima pode ser praticada por mulheres e homens de diferentes faixas etárias. Existem alguns tabus sociais que repelem, principalmente, o público masculino e o público da terceira idade. Porém, as técnicas podem proporcionar soluções para questões que são específicas desses grupos, como a dificuldade dos homens de terem ereção; a flacidez pélvica; e o fato de, em alguns casos, mulheres mais velhas não chegarem ao orgasmo.
“Como homens têm aquela coisa do ‘machão’, eles tendem a demorar mais para procurar ajuda, às vezes até anos, quando têm um ultimato”, explica Vanessa. No entanto, com a prática, eles conseguem prevenir problemas na próstata, por exemplo. Já para as mulheres, o exercício diminui o risco de câncer de ovário. Existem também melhorias quanto a cólicas e lubrificação vaginal (muito prejudicada após a menopausa).
Para gestantes, o fortalecimento ajuda a preparar a saída do bebê e também, no pós-parto, a reparar a musculatura. Mas cuidado: se for gestante, consulte sempre o seu médico de confiança. Não faça os exercícios caso tenha uma gravidez de risco.
Vanessa relata que algo muito comum é a procura das aulas por mulheres que querem “apimentar o casamento” ou “agradar o parceiro”. A terapeuta contrapõe essa situação com base em sua vivência pessoal: começou a praticar quando era casada; o relacionamento acabou, mas o pompoar (outro nome para a ginástica íntima) ficou.
“O pompoar é para a gente, para melhorar o seu desejo, o seu prazer e o seu potencial orgástico. O homem [para quem se relaciona com homens] vai sentir por consequência”, diz. “Quando a mulher busca a ginástica íntima pelo outro, salvo algumas exceções, a sexualidade dela é que está um pouco negligenciada”, completa.
Logo, a ginástica íntima não é para servir ao outro, e sim uma prática de autoconhecimento e autocuidado. Então, faça sem medo, se coloque no centro e tenha um momentinho para pensar em si e no seu corpo.
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