Compositoras pioneiras ganham arranjos inéditos no Festival Sesc de Música de Câmara

11/06/2024

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A Sociedad Boliviana de Música de Cámara (La Sociedad) está presente na 5ª edição do Festival Sesc de Música de Câmara, em dois concertos “A História do Soldado” e “Outras Histórias”. Neste segundo, o grupo interpreta, pela primeira vez, obras compostas por duas compositoras brasileiras: Dinorá de Carvalho (1895-1980) e Helza Camêu (1903-1995). Leia a matéria e saiba mais sobre elas.

Dinorá de Carvalho

A compostora brasiliera Dinorá de Carvalho.

Dinorá de Carvalho foi pianista e compositora brasileira. Começou a estudar piano por volta dos dez anos, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Começa também a compor, sendo que já em 1912 apresenta-se com composições próprias. Conviveu com grandes personalidades como Mário de Andrade, Francisco Mignone, e Camargo Guarnieri. Estudou em Paris com Isidor Philip.

No Brasil, na década de 1930, criou e dirigiu a Orquestra Feminina São Paulo, sendo a primeira mulher a dirigir uma orquestra no Brasil. Na década de 1940 ela também se tornou primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Música. A partir da década de 1950, atuou como crítica musical em alguns jornais paulistas, dentre os quais, a Folha de São Paulo.

Em 1942, falando ao Jornal da Manhã, relatou as dificuldades em manter a orquestra em atividade e a falta de apoio para sua iniciativa, enumerando pontos como a ausência de um local fixo para ensaios, dotação financeira para deslocamentos e a escassez de mulheres instrumentistas para algumas posições da orquestra, chamando atenção para um ensino musical que não era direcionado à formação musical ampla de mulheres, mas sim à formação de professoras, especialmente de piano.

Dinorá compôs aproximadamente 400 obras, segundo o Centro de Coordenação de Documentação de Música Contemporânea (CDMC) da Unicamp, detentor da Coleção Dinorá de Carvalho. Sua produção abarca formações variadas que incluem, além de 40 canções, instrumentos solistas, música coral, coral-sinfônica, conjuntos de câmara, piano e orquestra, orquestra sinfônica, teatro e balé. 

A pedido do Sesc, a compositora, maestra, educadora, docente do Departamento de Música da USP, Silvia Berg criou arranjos para cinco obras de Dinorá de Carvalho, que ela denominou Colloquium:

Os arranjos em Colloquium são expandidos na medida em que não são transcrições ou arranjos convencionais, mas que, em sua composição, comentam e dialogam com a orquestração de A História do Soldado [de Igor Stravinsky], com os materiais composicionais de texto e música e os procedimentos composicionais de Dinorá de Carvalho. Também dialogam entre si, estabelecendo várias camadas de interlocução entre obras diversas, criando em sua síntese uma nova obra, repleta de citações e hiperlinks textuais e sonoros, embora diretamente ligada às canções originais. As canções escolhidas, em ordem cronológica de composição, foram: O Pipoqueiro (1933, barítono e piano), Ê bango-bango-ê (1948, mezzo-soprano e piano), Coqueiro, Coqueiro-irá (1948, soprano e piano), Quibungo-tê-rê-rê (1949, soprano e piano), Quin-gue-lê (1974, soprano e piano).

A professora Silvia Berg que arranjou as canções de Dinorá de Carvalho.

Helza Camêu

A compostora brasiliera Helza Camêu

A carioca Helza Camêu foi compositora, pianista, musicóloga e uma divulgadora da música brasileira. Iniciou os estudos musicais ainda na infância e, em 1919, foi admitida no Instituto Nacional de Música. Ainda no começo da década de 1920, Camêu passa a se interessar pelas músicas indígenas através de um amigo que trabalhou numa das expedições de Cândido Rondon. Foi trabalhar no Museu Nacional na transcrição de fonogramas e, a partir daí, além da composição, seu maior interesse seria a então chamada “música etnográfica”.

Em 1934, Helza Camêu estreou sua primeira obra no Salão do Instituto Nacional de Música e, dois anos depois, apresentou ao público seu Quarteto de Cordas op.12, obra que conquistaria segundo lugar num concurso realizado pelo Departamento de Cultura de São Paulo, em 1937. Já em 1944, com o poema sinfônico Suplício de Felipe dos Santos, levou o 1º prêmio do concurso promovido pela Orquestra Sinfônica Brasileira. Ela foi a primeira compositora brasileira de obra sinfônica (é autora de seis poemas sinfônicos e um concerto para piano), além de peças de câmara e cerca de cem canções.

Em 1946, Helza Camêu juntou-se a Dinorá de Carvalho como uma das poucas mulheres a integrar a Academia Brasileira de Música, fundada por Villa-Lobos no ano anterior. Ela ingressou na Rádio MEC em 1955, onde trabalhou por 17 anos como produtora, com destaque para o programa Música e Músicos do Brasil. Além do Museu Nacional, Camêu trabalhou na Funai e, durante três anos, com o antropólogo Darcy Ribeiro. Em 1977, lançou o livro Introdução ao Estudo da Música Indígena Brasileira, considerado um dos mais completos estudos da música dos povos originários do país.

Livro de Helza Camêu publicado em 1977.

Neste mesmo ano, ela deu um depoimento ao Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. Nele, revelava ter plena consciência das dificuldades em torno do reconhecimento das mulheres compositoras. “Há um preconceito muito grande com a mulher brasileira compositora”, afirmou. Ao final de seu depoimento, ao resumir sua trajetória de vida, declarou que teve uma “vida muito modesta e apagada, mas vivida com muita sinceridade”. Ao falecer, aos 92 anos, Helza Camêu deixou inacabado o livro Tempo e Música – Um Estudo Sobre a Música Brasileira dos Séculos XVI ao XX. Texto sobre Helza Câmeu por Camila Fresca.

Dentre as pastas com manuscritos a mim enviadas, escolhi quatro canções da compositora carioca Helza Camêu (1903-1995). São elas: Canto, A Sombra do Rio, Noitinha e Noturno. As escolhas se basearam em critérios subjetivos, com destaque para os belos poemas que Camêu escolheu para musicar, mas também contramelodias, principalmente, na rica escrita harmônica de suas canções.” (Denise Garcia)

Denise Garcia, compositora paulista e professora do Instituto de Artes da Unicamp, que fez os arranjos de Helza Camêu para o concerto.

La Sociedad Boliviana de Música de Cámara

La Sociedad Boliviana de Música de Cámara

Liderada por Camila Barrientos e Bruno Lourensetto, La Sociedad Boliviana de Música de Cámara foi fundada em 2014 com a missão de democratizar o acesso à música de concerto criando, produzindo e promovendo experiências artísticas na Bolívia, América Latina e no mundo. Em agosto de 2020, durante a pandemia de Covid-19, lançou o projeto Música para Respirar 24/7, disponibilizando concertos pessoais por vídeochamada 24 horas por dia, 7 dias por semana para mais de 15 mil pessoas situação de vulnerabilidade em 50 países. O projeto recebeu prêmios internacionais e foi apresentado em museus ao redor do mundo. Em 2023, La Sociedad encomendou e estreou a quinta ópera escrita na história da Bolivia: Matilde en las Ojeras de la Noche, inspirada na vida e obra da poeta e cantautora Matilde Casazola. La Sociedad também dirige o Promesas, programa intensivo de educação musical para 20 dos jovens mais talentosos da Bolívia. Sua missão é apoiar e impulsionar as carreiras dos estudantes para que atuem como líderes nas suas comunidades e no mundo contemporâneo. Alunos do Programa Promesas hoje avançam suas carreiras e estudos na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos e no Brasil.

Informações sobre a biografia das autoras retiradas do Programa 5ª edição do Festival Sesc Música de Câmara.

Saiba onde assistir “Outras Histórias”

O que:Outras Histórias com La Sociedad Boliviana de Música de Cámara e Juliana Taino.
Narração: Eduardo Janho-Abumrad. Regência: Leonard Evers
Onde:13 e 14/6 (quinta e sexta), 20h, no Sesc Consolação
15/6 (sábado), 20h, no Sesc Sorocaba
16/6 (domingo), 18h, no Sesc Jundiaí
Quanto:Capital: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada) e R$ 18 (Credencial Plena). 
Interior: R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia-entrada) e R$ 15 (Credencial Plena). 
Ingressos:Venda on-line pelo site sescsp.org.br ou app Credencial Sesc SP.
Venda presencial nas bilheterias das unidades do Sesc São Paulo.

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