CORPOGRAFIAS: POR UM CORPOFESTA 

11/10/2024

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Curadoria: Thiago Alixandre 

De 16 a 20 de outubro de 2024 

O poder implica sempre no gerenciamento de corpos, e, isso, geralmente é feito por meio de mecanismos de opressão, desvalorização, humilhação e violência. O oprimido, legitimamente, passa a reagir na tentativa de sobreviver, ou seja, acaba por se ocupar em negar a morte, em vez de afirmar a vida. É assim que se dá a triste dominação.  

No entanto, há sempre corpos insubordináveis, que extrapolam a lógica da reação e se engajam em afirmar a vida.  Alguns corpos teimam em brincar, gingar, dançar, sentir prazer, festejar, driblar, dar cambalhotas, jogar, se esgueirar nas frestas da vida ordinária e realizar o extraordinário, afirmando a vida em sua radicalidade, se emancipando, em certa medida, das armadilhas da opressão.  

Bolo de rolo – trilogia unificada. Foto: Larissa Rocha

Das favelas nascem carnavais, espetáculos nascem em quintais, livros são escritos em quartos, canções são compostas no chuveiro, e assim, nas frestas cotidianas do mundo, a criação vai encontrando sua vocação, perpetuando a vida como um fenômeno impossível de ser detido.  

Afirmar a vida parece ser um dos atos mais revolucionários, e a arte, a educação, os afetos alegres e a festa têm a importante missão de não deixar que os corpos se esqueçam disso.  

A 6ª edição da Mostra Corpografias realizada pelo Sesc Sorocaba, que ocorrerá de 16 a 20 de outubro de 2024, traz como mote, o CORPOFESTA, um neologismo criado para indicar um recorte curatorial que elegeu artistas e pensadores cujos trabalhos se ocupam prioritariamente em apostar na alegria de viver como uma paixão política.  

Eco, oco preso no peito. Foto: Paulo Lima.

A programação reúne obras coreográficas, conversas, oficinas e exibição de vídeo, numa articulação que privilegia a força política da poética de corpos que se dedicam à nobre tarefa de botar mais vida na vida. 

Na perspectiva de esmaecer as violências terríveis, como racismo, misoginia, etarismo, ‘periferismos’, colonização, dentre outras tão urgentes, a coleção de obras que compõem esta programação convida o público a refletir, se emocionar, sorrir, se encantar, gozar de emoções, ser arrebatado e desfrutar do maravilhamento através de experiências corporais encantadoras.  

É na disputa pelo reencantamento da vida que os CORPOSFESTAS estão reunidos nesta mostra de artes do corpo, na pretensão de nos despertar para a tarefa revolucionária de afirmar radicalmente a vida.   

Jamzzz. Foto: Patricia Araujo

*Thiago Alixandre é artista do corpo, educador, produtor cultural e escreve crítica de artes desde 2013. Graduado em filosofia, mestre e doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com orientação da professora e crítica de dança Helena Katz, integra ainda, desde 2010, o CED (centro de estudos em dança da PUC- SP). Em 2008, fundou o Coletivo O¹² e o Núcleo de Artes e Educação Parque da Autonomia na cidade de Votorantim, onde leciona aulas de dança e Filosofia Política. Em sua pesquisa acadêmica, desenvolveu o conceito de Pornocracia, e seu percurso filosófico é marcado pelos estudos da relação entre corpo e o mundo online, seus efeitos psíquicos, sequelas cognitivas e consequências políticas. 

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