Cortejo ‘Viva o Bixiga!’: a territorialidade na prática

01/12/2023

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No dia 26 de novembro, as ruas do Bixiga se tornaram palco para um espetáculo de cores, sons e sentimentos. Realizado pelo Sesc 14 Bis ao lado de 14 coletivos do bairro, o cortejo “Viva o Bixiga!” criou um trajeto de potência e diversidade ao reunir coletivos e manifestações culturais que pulsam na região.

Foi uma caminhada de aproximação com o território, resgate da essência da memória, enaltecimento da contemporaneidade local e uma reverência às resistências sociais que moldaram o bairro ao longo do tempo.

Tradição do bairro, os cortejos desempenham um papel fundamental na identidade e na manifestação viva da cultura e da história local, sobretudo ao promover a diversidade e conhecimento acerca do processo de urbanização.

A fim de viver a territorialidade na prática, cada repertório propõe saberes e experiências artísticas, tomando as ruas como um ser encantado das trocas e improvisos, colocando em questão o significado de liberdade e contribuindo assim para a criação de significados na cidade.

“A rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!”
João do Rio

Programação

Ao longo do trajeto, cada esquina simbólica do bairro se tornou ponto de encontro e momento para a entrada de diversas alas constituídas pelos coletivos locais.

O cortejo teve início embaixo do viaduto Julio de Mesquita Filho, com a Arena Bela Vista, a Bateria 013, a Casa 1 e o Teatro Oficina, e seguiu para a esquina da Rua Maria José com a Rua Conselheiro Carrão, ao encontro da segunda ala formada pela Casa Mestre Ananias.

 
Na Rua Rui Barbosa, os grupos carnavalescos Cordão do Jamelão, Bloco do Fuá e Bloco da Dona Yayá, se uniram em direção à Esquina da Rua Lourenço Granato com Rua Almirante Marques de Leão, ao encontro da quarta ala, que reuniu o Ilê Asé Ya Osun, o Núcleo de Dança Pedro Costa, a associação Zona Franca e a Trupe Baião de 2.

O cortejo foi finalizado com o desfile do Grêmio Recreativo, Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai, que seguiu da Rua Rocha até o Sesc 14 Bis, onde aconteceu a lavagem da entrada da unidade com o Ilê Asé Ya Osun e Salve Saracura.

Veja, abaixo, um pouco mais sobre a atuação da cada coletivo.

Casa 1

Localizada na Rua Adoniran Barbosa, no Bixiga, a Casa 1 é um centro de cultura e acolhimento de pessoas LGBTQIAPN1+. Seu propósito é amparar jovens entre 18 e 25 anos que foram expulsos de casa pela família por suas orientações afetivas sexuais e identidade de gênero. Fundada em 2017, o trabalho corre em paralelo às atividades do Centro Cultural e da Clínica Social, com todos os serviços gratuitos.

Bloco do Fuá

Fundado em 2013, o Bloco do Fuá tem como objetivo levar a cultura popular brasileira para as ruas do Bixiga. Tendo a “boca” como símbolo da liberdade, o grupo defende o carnaval de rua gratuito, democrático e sem abadás e cordas, promovendo a ocupação dos espaços públicos como um exercício da cidadania. 

Casa Mestre Ananias

Localizada na Rua Conselheiro Ramalho, a Casa Mestre Ananias é um centro cultural, que tem como principal enfoque conservar a memória e o legado do mestre que dá nome ao local. Além de promover tradições afro-brasileiras como capoeira e samba de roda, a Casa oferece programas educacionais para crianças e adolescentes, buscando fortalecer a cultura popular e promover a inclusão social.

Cordão do Jamelão

Fundado em 2006, o bloco nasceu da aspiração de revitalizar a tradição do carnaval de rua em São Paulo. Motivado pelo amor à cultura popular, um grupo de amigos deu início a uma manifestação nas ruas, repleta de fantasias e marchinhas, culminando na formação de um bloco oficial que, a cada ano, atrai um número crescente de entusiastas carnavalescos.

Ilè Asè Iyà Osun – Casa de Pai Francisco

Localizado na Rua Almirante Marques de Leão, o Ilè Asè Iyà Osun é uma das casas mais tradicionais do candomblé de São Paulo. Fundado pelo Bàbálórìṣà Francisco de Òṣun, que atuou como dirigente espiritual da Escola de Samba Vai Vai por mais de 10 anos, o Instituto carrega o legado de resistência e luta do movimento negro contra a intolerância religiosa.

Bateria 013

Localizada na Rua Major Diogo, a Bateria 013 é uma iniciativa social que ensina pessoas de todas as idades a tocar todos os instrumentos que compõem uma bateria de escola de samba. Inspirada nos primeiros dígitos do CEP da região, seu propósito é resgatar a autenticidade do samba no bairro e fomentar a inclusão por meio da música.

Bloco da Dona Yayá

Criado pela União de Mulheres de São Paulo, uma ONG com mais de 42 anos de atuação na defesa dos direitos femininos, o Bloco surgiu em março de 2000. A iniciativa teve o propósito de destacar a Casa da Dona Yayá e estimular a comunidade a debater seu aproveitamento. Desde então, o bloco desfila anualmente, transmitindo nas letras das marchinhas a luta pelos direitos das mulheres.

Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai

Enraizada no Bixiga, com 93 anos de existência, o Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai, é uma das principais agremiações do Carnaval Brasileiro e a maior campeã do Carnaval de São Paulo. 

Teatro Oficina Uzyna Uzona

Localizado na Rua Jaceguai, o Teat(r)o Oficina é a companhia mais antiga em atividade no Brasil, tendo sido dirigida ao longo dos 65 anos por José Celso Martinez Correa, que nos deixou em junho deste ano. Passando por repressão extrema na época da ditadura militar, a companhia se reinventou e se mantém até hoje levando a realidade brasileira para suas peças teatrais.

Arena Bela Vista

Localizado na Rua Professor Laerte Ramos de Carvalho, o Projeto Social Arena Bela Vista foi criado em 2016 para através do esporte trazer ensinamentos de vida e cidadania às crianças e adolescentes do bairro.

Salve Saracura

Fundado em 2019, o coletivo Salve Saracura atua de modo multidisciplinar e autogestionado no cuidado das nascentes e do território cultural do Bixiga. Ao usar práticas e táticas diversas no exercício da imaginação política e intervenção comunitária no bairro, seu trabalho insiste na preservação do patrimônio e na disputa e produção coletiva da cidade. 

Associação Zona Franca

Localizado na Rua Almirante Marques de Leão, a Associação Zona Franca é um espaço plural, de resistência, trocas e livre circulação do pensamento artístico, para experimentos de novos formatos e ações num espaço de convivência solidária. Sediado no bairro do Bixiga desde 2018, é coordenado por uma associação de profissionais e artistas de diversas áreas. Sem fins lucrativos é mantido pelas ações de sua programação. Um de seus pilares é o acolhimento e incentivo de processos abertos e trabalhos autorais/ originais. 


Trupe Baião de 2

Criada por Rachel Monteiro e Guilherme Awazu, a Trupe Baião de 2 é uma companhia de circo e teatro que pesquisa o aprimoramento técnico e cênico da perna de pau. Além do cortejo Viva o Bixiga, a Trupe Baião de 2 esteve presente no fim de semana de abertura do Sesc 14 Bis com a performance Caminhos do Saracura.

Núcleo de Dança Pedro Costa

Localizado na Rua Almirante Marques de Leão, o Núcleo Artístico Pedro Costa Espaço de Dança iniciou suas atividades no Bixiga no ano de 2010. Com o intuito de fortalecer e difundir a dança contemporânea independente em São Paulo, o espaço oferece diversas atividades culturais como saraus, intervenções urbanas, performances, oficinas e workshops.

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