por Elizandra Souza
Ilustrações Amanda Lobos
Leia a edição de maio/23 da Revista E na íntegra
Há convites que te reconectam ao seu propósito
Solicitação de sua presença…
O que veio fazer aqui nessa existência?
Seu tempo como ele tem sido gasto?
Dentro de si tá aquele limbo
Musgo em volta de tuas pedras
Aquela paisagem entre passado e futuro…
Há convites que te lambem as feridas …
Muda o dia, a tarde, a noite
Talvez uma vida inteira
Há tanto esquecimento de si mesma e de tudo
Que um convite te adverte da boa companhia que se é
Do bom trabalho que se faz
Da construção, do caminho e dos passos que tem dado
A lembrança de ser lembrada é cosquinha no peito
MORINGA SAGRADA
Pela manhã respiro fundo
Encontro teu beijo
Abraço abundante
Nossos pontos de forças
Mistura cabocla de mil encantos
Meus caminhos nas suas estradas
Esculpidas por suas mãos
Sou moringa sagrada
Reservatório de água fresca
Dentro de minhas pernas
Vem tomar café comigo?
JARDIM FLORIDO
Plantados em cada parte de mim, teus Olhos
Deitada em teu peito
Acordo com o canto dos pássaros
Abraçada por teu querubim
Jardim florido dos meus dias
Na beira da cama
Rega-me com abundantes águas
Poda-me as folhas murchas,
Para que nasçam novas
Em tuas mãos, sou terra molhada
Sementes de um amor chegando…
BORDADO DO MEU VESTIDO
O que fazer quando uma irmã morre?
Onde vamos guardar nossas brincadeiras
Nossas risadas, nossos bons dias…
A boneca velha que partilhávamos
O que fazer quando uma irmã morre?
E agora as palavras que não disse que pote eu guardo?
Os abraços que não dei em que frasco armazeno?
Nossas gargalhadas, podemos espalhar no mundo, como purpurinas?
O que fazer quando uma irmã morre?
A vida é como se a linha acabasse
Ou melhor se a linha saísse da agulha e se apartasse
Ficando só o tecido, agulha e a linha
O que fazer quando uma irmã morre?
Queria costurar seu sorriso no bordado do meu vestido
Assim toda vez que eu girar, seu sorriso rodopiaria comigo
Entregaria todo ouro e prata para você aqui
Quando vamos ter tudo no mesmo espaço novamente…
O que fazer quando uma irmã morre?
CARTA DE AMOR ÀS MULHERES NEGRAS
Eu sei tem dias que é difícil até acordar
Brasil, um país que odeia meninas, mulheres, mães negras …
Cada dia uma notícia triste de uma partida
Há corações partidos em todas as partes
Nosso corpo exposto, abusado ou abduzido
Escrevo às mulheres negras que se permitam
Saber quem são, amar quem quiser
Caminhar para todas as partes
Abrir todas as portas
Se preciso for arrombar todas as trancas
Há gritos silenciados de muitas gerações
Cabe a ti mulher negra dessa geração
Libertar todas as dores, destralhar todos os traumas
É preciso liberar espaço para caber amor
Essas toneladas de dores precisam ser distribuídas para que carregue só o que for seu…
Eu sei como dói ser arrastada como Cláudia,
Assassinada como Marielle
Amordaçada como Anastácia
Oprimida como Luana
Mas também sei como nos fortalecer com Sueli, Conceição, Débora, Lia de Itamaracá, Mães da Sé …
Escrevo para lembrar que não somos apenas nossas dores e nossas forças, somos vulcões em erupções, mas também a rebeldia da flor que despertou, bela e cheirosa …
Para as mulheres negras flores em vida…
Elizandra Souza (@elizandra_mjiba) é escritora, jornalista, poeta e integrante do Sarau das Pretas. Autora de Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta? (2021), Filha do fogo – 12 contos de amor e cura (2020) e Águas da Cabaça (2012). É editora das publicações do Coletivo Mjiba e coorganizadora de Narrativas Pretas - Antologia Poética Sarau das Pretas. Amanda Lobos (@maisdeumlobo) é designer e ilustradora capixaba, nascida em 1999. Premiada no Brasil Design Award 2021, atua como freelancer desde 2016, fazendo desenhos manuais e digitais.
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