Costurar as dores e deixá-las guardadinhas 

12/05/2023

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Conheça um pouco mais sobre vida e obra de Lidia Lisbôa, artista que ocupa as Oficinas de Criatividade do Sesc Pompeia com a exposição Ofício: Fio: Lidia Lisbôa – Mulher Esqueleto 

De portas abertas até 30 de julho no Sesc Pompeia, a exposição Mulher Esqueleto, do projeto Ofício: Fio, revela a visão de mundo, os processos artísticos e uma parte do universo pessoal de sua criadora, a paranaense Lidia Lisbôa. 

Mulher negra, artista plástica, mãe, amiga. Em uma conversa rápida, no dia da abertura da mostra, em 29 de abril, a artista dividiu com a gente mais detalhes de sua vida e sua obra, que correm juntas em tudo, em todo lugar e ao mesmo tempo. “Eu tô sempre trabalhando, eu não consigo ficar sem fazer nada. Eu brinco que eu e o Arthur Bispo do Rosário estamos ali na loucura, porque o tempo todo você me vê fazendo alguma coisa. Até numa foto minha com seis meses, eu tô com um chocalho na mão. Minha mão está sempre ocupada”, conta. 

Se você acompanha e admira o trabalho da artista, te convidamos a viajar por alguns dos trabalhos em exposição. Vamos lá? 

OS CASULOS 

Foto: Henrique Saad

“Tem esses trabalhos aqui, que eu amo, os casulos. Quando eu comecei a fazer casulos, lembrei da casa do bicho da seda. Quando me encontrei com o tule, os tecidos, essas coisas, eu falei: ‘Meu Deus! Eu vou fazer os casulos, as casas do bicho da seda da Dindinha, que habitam a minha memória!’”. Dindinha era uma pessoa próxima da família de Lidia que, segundo a artista, tinha um bicho de seda em casa. 

“Quando a gente chega nos lugares, todo mundo fica curioso para saber o que é. Ficam: ‘Nossa, o que é isso? É uma lagarta, é o que?’” 

A resposta chegou pra gente logo em seguida. Para Lidia, o casulo “é um renascimento. Eu acredito muito nessa coisa de recolhimento, eu acho que a gente tem que se recolher às vezes, para ganhar força para poder seguir em frente. E eu penso nisso quando faço os casulos.” 

ABORTO 

Foto: Renata Armelin

“Aqui tem esse trabalho que chama aborto. Uma vez eu fui num lugar, acho que lá na Líbero Badaró. Eu vi camisinhas masculinas super expostas e as camisinhas femininas super escondidas e aí eu roubei várias. Quando fiz esse trabalho, com essas camisinhas, me chegou à história de uma pessoa que teve um filho em um mictório.  

No trabalho, eu remonto a parede de um útero, com os filhos do lado. Tem gêmeos, menino e menininha, enfim, é pra lembrar dos abortos que eu ficava sabendo que as mulheres faziam na cidade em que eu nasci, no Paraná.” 

SÉRIE: A GRANDE JORNADA 

Foto: Remata Armelin

Em uma série de fotos em preto e branco, tiradas na areia de uma praia vazia, Lidia explora mais um pouquinho de seu mundo, revelado em arte: 

“Aqui, é a Barra do Una. Aqui, eu me vi dentro de um útero, agasalhada, querendo dormir. E a sensação de estar aqui é muito boa, é maravilhosa, é energizante estar nesse lugar. Foi muito lindo, me deu um alento muito grande! 

Nessa série, a gente vê o horizonte. Eu até me vejo como um pássaro nessa foto! 

Esse dia foi muito especial, porque a gente não ia fazer essas fotos, mas uma vez que você se compromete… A vida, ao meu ver, é começo, meio e fim. Quando você começa uma coisa, é bom chegar no meio e depois no fim, que é pra começar tudo de novo. Porque senão a velhice chega, minha filha, e não deu tempo de fazer nada!” 

Entre casulos, retratos e memórias, nossa caminhada na companhia da artista acompanha seu fluxo de pensamento e seu percurso artístico, traçado por linhas, cicatrizes e sensações, resumidas aqui em uma frase: “Meu trabalho revela cicatrizes daquilo que a gente passa. Acho que a gente tem que guardar as dores, costurá-las e deixá-las guardadinhas, pra não ter que dar de cara com elas sempre.” 

Ficou a fim de ver tudo ao vivo? Programe-se para visitar a exposição Mulher Esqueleto! 

SERVIÇO 

Projeto Ofício: Fio: Lidia Lisbôa – Mulher Esqueleto 
Local: Sesc Pompeia | Galpão das Oficinas de Criatividade  

Período expositivo: 29 de abril a 30 de julho de 2023 
Horário de funcionamento: terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h 

Classificação indicativa: Livre 

Entrada gratuita | Sem estacionamento 

SOBRE A ARTISTA 

Lidia Lisbôa (1970) é artista visual, natural de Guaíra, Paraná. Vive e trabalha em São Paulo. Sua prática artística tem como eixo fundante a autobiografia e os atravessamentos cotidianos que são articulados atualmente principalmente por meio do desenho, escultura, crochê e performance. Dentre suas principais exposições individuais destacam-se: Acordelados, Galeria Millan, São Paulo, SP-Brazil (2022) e Memórias do Afeto, Centro Cultural Santo Amaro, São Paulo, SP – Brazil (2021). Integrou mostras coletivas como 37º Panorama da Arte Brasileira – Sob as cinzas, brasa, MAM, São Paulo, SP- Brazil (2022); Defeito de cor, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2022); Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, Instituto Moreira Salles, São Paulo, SP- Brazil (2021).

  

SOBRE O PROJETO OFÍCIO

Para além de sua finalidade criativa, o ofício da arte é também processo, labuta e desenvolvimento. Tais vocações são constituintes do espaço material e conceitual das Oficinas de Criatividade do Sesc Pompeia, cujo espaço corresponde a um efervescente lugar de encontro, onde mestres e alunos se reúnem e forjam trajetórias singulares. As obras acolhidas durante as edições do projeto Ofício: ficam expostas no espaço das oficinas, em um espaço expositivo não convencional. O projeto tem curadoria da equipe da unidade que, em conjunto com o artista convidado, faz a seleção das obras. 

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