Cuidado com as emoções

31/01/2022

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* Por Isabella Ianelli e Nathália Roberto

“Ajudar os outros é parte do cotidiano de pais, cuidadores de idosos, profissionais da área da saúde e professores — a bondade é tão onipresente que nos acostumamos com ela e deixamos de lhe dar o devido valor. O mundo depende da oferta e da aceitação de atos de bondade.”

Esse é um trecho do livro Um coração sem medo, de Thupten Jinpa, que em poucas palavras sugere a importância da conversa que vamos tentar abrir neste texto. Se dependemos da oferta de bondade, os educadores são parte fundamental na sustentação desse mundo.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Península durante a pandemia de Covid-19, entrevistou professores de todo o Brasil e trouxe resultados alarmantes. Dos mais de 7 mil educadores entrevistados, 67% alegaram estar ansiosos, 35% disseram estar sobrecarregados e 27% afirmaram que estão frustrados.

Se a profissão de professor já é conhecida por ser estressante, neste momento o nível de desconforto emocional é ainda maior. Relatos de educadores mostram que a pandemia trouxe com ela uma abrupta mudança em seus trabalhos, fez eclodir uma grande insegurança com a interrupção das aulas presenciais e uma sobrecarga com o excesso de trabalho online. Tudo isso somado à demanda dos pais refletida na equipe gestora e ainda ao cenário econômico complicado de todo o país.

A única boa notícia de experimentarmos um cenário tão complexo, é que ele pode ser uma oportunidade de transformação. O programa no qual nós, Isabella e Nathália, somos formadas, nos apresenta alguns recursos para nos apoiar no cultivo de um bem-estar emocional genuíno. Podemos começar a falar sobre isso ao trazer dois conceitos importantes: felicidade hedônica e felicidade genuína.

Enquanto a felicidade hedônica vem do que recebemos do mundo, a genuína, segundo cientistas e professores, vem de tudo aquilo que oferecemos, da nossa habilidade de cultivar qualidades e beneficiar as pessoas.

Mas o que isso tem a ver com os professores? Nossa educação, especialmente no ocidente, é muito voltada para a habilidade, justamente por colocarmos peso no cultivo dessa felicidade que chamamos de hedônica.

“Em um mundo onde os mais populares reality shows envolvem ridicularizaçãoo e duras críticas aos concorrentes, não é de se admirar que as crianças muitas vezes façam pouco caso de valores antiquados como bondade, compaixão e gratidão.”
[Susan Kaiser Greenland, em Meditação em ação para crianças]

Apesar de muito importantes para uma vida boa, essas coisas que recebemos do mundo (dinheiro, moradia, afeto, comida…) não são suficientes nem permanentes. Se não cultivarmos recursos internos, ficaremos sempre reféns de circunstâncias externas positivas para nos sentirmos bem.

Como, então, não terceirizar nosso bem-estar emocional? Não há resposta curta para essa pergunta. Ao observar bons exemplos e alguns praticantes experientes, começamos a perceber um caminho possível. Com a sincera intenção de que seja benéfico, reunimos alguns pontos para nos apoiar nesse cuidado essencial:

1. Cultivar uma curiosidade diante de nossas emoções

O primeiro passo para uma vida emocional mais saudável é evitar os extremos do controle e do descontrole. Como é apenas sentir? Onde me dói o medo? O que a raiva tenta me dizer? Que pensamentos compulsivos chegam com a tristeza? Não são emoções gostosas, mas trazem com elas uma possibilidade bonita: a de abrir as portas dos nossos corações. É como se imediatamente reconhecêssemos a humanidade comum em  todos nós. Cuidar de nossa saúde emocional já não é mais só por nós mesmos: é por toda a comunidade escolar e, consequentemente, por toda a sociedade.

2. Nos cercar de uma rede de apoio

Experienciar dores e alegrias em um grupo de semelhantes é muito poderoso! Brené Brown diz assim: “Quando nos reunimos para compartilhar alegria, esperança e dor autênticas, nós derretemos o cinismo generalizado que muitas vezes encobre nossa melhor natureza humana”. Experimente perguntar genuinamente aos que te cercam como eles estão. Dividir os problemas nos faz também compartilhar soluções e, especialmente, ter com quem contar na hora do apuro.

3. Respirar para prestar atenção

Todo o processo que fazemos com o curso das emoções envolve práticas que são recursos para lidarmos com nossas emoções. E uma ferramenta bem palpável é nossa respiração: sempre conosco, continuamente nos fornecendo pistas sobre como estamos nos sentindo. Não é preciso nenhum apetrecho para nos conectarmos com essa qualidade de atenção que é refletida em nossa vida. “A atenção é o melhor presente que podemos dar ao outro”, diz Don Laurence Freeman (e como educadores, nós sabemos disso!).

Existe aquela frase comum para os passageiros de um avião que se aplica à vida: precisamos primeiro colocar a máscara de oxigênio em nós mesmos antes de ajudar o próximo. Nos dias 16 e 23 de setembro, vamos oferecer dois encontros online, organizados pelo Sesc 24 de maio. “Cuidado com as emoções” será especialmente para educadores que queiram começar essa conversa e experimentar algumas práticas para levar para a vida.

*Isabella Ianelli é pedagoga, pós-graduada em arte-educação. Professora certificada do programa Cultivating Emotional Balance, estuda práticas de meditação para crianças na rotina escolar. Conduz grupos de estudos e práticas com Nathália Roberto, formada e comunicação social com pós graduação em marketing, sócia da Kind e também professora certificada do programa Cultivating Emotional Balance.

Veja mais sobre o assunto aqui.

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