Cultivar Apreço

19/06/2020

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Bosque do Sesc Thermas (imagem registrada antes da pandemia)
Foto: Estevão Salomão/Sesc Thermasor Ana Paula Ambrósio e Cristiane Moreira Cobra*


Um grande parque em meio à área urbana ou, como afetuosamente gostamos de chamar: um Bosque. Um oásis de verde e outras cores, favorável ao lazer, à convivência, mas também ao aprendizado e à contemplação.

O bosque do Sesc Thermas de Presidente Prudente, uma área de aproximadamente 30 mil metros quadrados, abriga cerca de 775 árvores, distribuídas em 72 espécies (sendo 47 nativas regionais), com destaque para algumas ameaçadas de extinção, como o Pau-Brasil e a Aroeira, além de espécies de aves, insetos, mamíferos e répteis. A passagem de um córrego canalizado por baixo da área, o córrego da Unesp, complementa esta paisagem urbana localizada em uma região onde a vegetação transita entre dois biomas: Mata Atlântica e Cerrado.

Desde fevereiro de 2019, o bosque é o cenário do projeto Florestar – Áreas Verdes Educadoras, cujo objetivo é ampliar a dimensão educativa deste espaço, por meio da fruição, informação, experiências sensoriais e ações processuais, como visitas mediadas destinadas a escolas, universidades e instituições, além de oficinas, cursos e bate-papos que contribuam para o estreitamento da relação do público com o as áreas naturais e a sua biodiversidade.

Uma das ações do Florestar na Unidade, a Feira de Pequenos Produtores era realizada mensalmente até o fechamento das Unidades em virtude da pandemia de Covid-19.

A ação, para além da simples comercialização de produtos, tem em seu cerne destacar o trabalho de pequenos agricultores da região, um incentivo à economia solidária e ao aprendizado sobre a origem dos alimentos e técnicas diversas de produção agrícola integrada à natureza.

Dentre as descobertas quando do mapeamento de produtores para participação na feira, está o casal Rosilene e Alexandre Batista, idealizadores da Comunidade do Apreço, uma forma de CSA, sigla que se refere à “comunidade que sustenta a agricultura”, um modelo de produção em que o agricultor estabelece canal direto com os seus consumidores, sem intermediários, pautados no comércio justo e no desenvolvimento sustentável. Os consumidores financiam regularmente a produção, estabelecendo uma rede baseada na confiança, no compromisso e na solidariedade.

Rosi e Alexandre mudaram-se para o sítio, localizado no distrito de Montalvão, em Presidente Prudente, em 2014 e começaram um projeto denominado “Minha Vida no Campo”, produzindo no modelo CSA. Entretanto, a partir de fevereiro de 2019, tiveram a ideia de introduzir uma moeda social chamada por eles de “apreço” e mudaram o nome do projeto para Comunidade do Apreço. 

Eles criam gado, produzem leite e seus derivados – como queijo, requeijão de corte, iogurte grego, doce leite e ambrosia -, criam galinhas e comercializam sua carne e ovos, além de cultivarem hortaliças, legumes e frutas, de acordo com a época e respeitando a sazonalidade. 

A comercialização proposta pelo casal é permeada pelo conceito de agricultura familiar, baseada no Sistema Agroflorestal, cujo manejo da terra combina espécies arbóreas lenhosas com frutíferas e animais, visando o incremento da produtividade e foco na relação harmoniosa do seu entorno.

Com especialização em Sistemas da Informação, Alexandre idealizou um aplicativo de celular destinado a estabelecer relacionamento com os clientes, parceiros que, em vez de comprar, fazem a “colheita” do que foi produzido naquela semana, realizando o pagamento em “apreço”.

O casal cita ainda a agricultura biodinâmica como inspiração para seu modo de produzir, proposta introduzida na Alemanha pelo autor Rudolf Steiner no início do Séc. XX. O idealizador da pedagogia Waldorf e da antroposofia escreveu a respeito da agricultura biodinâmica, contrária ao uso de pesticidas sintéticos, herbicidas ou hormônios de crescimento. Além de se opor também à tecnologia transgênica, defende uma forma alternativa de agricultura, semelhante à agricultura orgânica. 

A agricultura biodinâmica enfatiza o uso de esterco e compostos, exclui produtos químicos artificiais no tratamento do solo e das plantas e defende métodos que consideram os animais, as culturas e o solo como um sistema único. Essa corrente visa restaurar, manter e melhorar a harmonia ecológica, defendendo a diversificação de culturas e acreditando na produção e distribuição descentralizada dos produtos. Considera, ainda, influências celestes, inclusive esotéricas, na relação com a natureza, bastante próxima dos modos ancestrais de cultivo do solo, típicos de culturas indígenas e de remanescentes de povos africanos. É bem como do modo de ser, viver e produzir proposto por Rosi e Alexandre em seu sítio.

Apreciar e valorizar, não apenas consumir, são a tônica do trabalho inovador do casal. No mundo capitalista, especialmente em um contexto de prevalência do agronegócio e da monocultura, caso da região Oeste do Estado, é um deleite encontrar pequenos produtores com ideias e ações tão transformadoras e que inspiram a adotar formas cuidadosas e responsáveis de relação com a natureza, para novos e melhores tempos.

Os interessados em conhecer melhor a Comunidade do Apreço podem acessar pelas redes sociais e conversar diretamente com a Rosi e o Alexandre.

*Ana Paula Ambrósio é coordenadora de Programação e Cristiane Moreira Cobra é animadora cultural do Sesc Thermas de Presidente Prudente

Saiba mais

Ideias e Ações para um Novo Tempo

Desde 2016, por meio do projeto Ideias e Ações para um Novo Tempo, as Unidades do Sesc São Paulo mapeiam  em seus territórios iniciativas socioambientais voltadas ao desenvolvimento local e que tenham, entre outros atributos, potencial educativo e práticas de respeito ao ambiente e à diversidade cultural. Estas iniciativas participam junto com o Sesc SP na realização de ações educativas e participação em espaços de encontro para a troca de conhecimentos e saberes. 

No intuito de dar visibilidade a esses exemplos e, principalmente, trazer referências para o debate e a mobilização das pessoas, o Sesc SP desenvolveu o  webdocumentário “Ideias e Ações para um Novo Tempo”, que inspirado no projeto de mesmo nome, traz uma diversidade de depoimentos de representantes de iniciativas socioambientais e especialistas. 

Confira abaixo o webdocumentário e conheça mais sobre outras iniciativas socioambientais presentes no Estado de São Paulo que, assim como a Comunidade do Apreço em Presidente Prudente, propõem modos de viver mais sustentáveis:

Webdocumentário com Audiodescrição 

Webdocumentário com Legenda Closed Caption

Webdocumentário com LIBRAS E LSE

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