Uma porta de madeira em uma rua movimentada em São Mateus, no extremo zona leste de São Paulo, esconde um terreno com cheiro de legumes, verduras e ervas frescas. Do lado de fora, é possível ver apenas os linhões de transmissão de energia elétrica que ocupam o terreno. O lugar calmo, silencioso e colorido é um grande contraste com a cidade cinza e barulhenta que fica do lado de fora. O rural e urbano parecem estar divididos por apenas um muro.
Terezinha dos Santos Matos, de 55 anos, é a mulher a frente dessa horta urbana, que leva o nome de Sabor de Vitória. A agricultura sempre foi uma constante em sua vida. Nasceu na Bahia, filha de dois agricultores, trabalhou na terra durante a juventude e se casou também com um agricultor. Após grandes secas na região e observando as grandes dificuldades enfrentadas pela família, decidiu ir para São Paulo buscar uma vida diferente.
Com 30 anos chegou à capital paulista decidida a não colocar a mão na terra. E foi o que ela fez durante quase 15 anos. O interesse voltou após um curso de jardinagem. Casualmente, durante uma conversa em uma fila de banco, ela escutou sobre a Associação de Agricultores da Zona Leste. Após participar da primeira reunião com o grupo, gostou da ideia de ligar dois pontos de sua vida: o amor pela cidade de São Paulo e o plantio. Terezinha na época enfrentava a depressão e estava insatisfeita com trabalho. Decidiu, então, trazer a agricultura de volta para sua vida: “Eu jamais deveria ter saído da terra. Essa é pura verdade!”.
Há 8 anos, ela e o marido, José Nildo, trabalham para manter a plantação em São Mateus. Sem usar o “veneno” – termo que ela usa para se referir aos agrotóxicos – e aplicando as técnicas de sistemas agroflorestais, eles produzem mais de 60 itens orgânicos, como espinafre, alface, escarola, repolho, cenoura e beterraba.
“Quando você trata a terra do jeito que ela merece, ela não te dá trabalho. Quando você usa veneno, o trabalho dela é pior”, afirma Terezinha. “Antes a gente queria que horta parecesse um jardim, agora trabalhamos com técnicas diferentes. Tem gente que acha que tem muito mato aqui, mas eu falo que tudo isso é tesouro”.
O sustento da família vem da horta urbana. Ela recebe encomendas pelo telefone e participa de feiras e eventos, entre eles a Mostra Agroecológica do Sesc Itaquera.
MOSTRA AGROECOLÓGICA VIRTUAL
O evento, que acontecia mensalmente na unidade desde 2017, foi suspenso devido à pandemia de Coronavírus, em março de 2020. O espaço era utilizado por diferentes grupos que trabalham com agroecologia, meio ambiente e sustentabilidade para apresentar seus trabalhos e expor seus produtos e ideias. Além de adquirir produtos agroecológicos, o público tinha a possibilidade de aprender mais sobre a agricultura, ativismos ambientais e alimentação saudável.
Em 2021, o projeto é retomado em versão virtual. Assim como a história de Dona Terezinha, contada acima, o público irá conhecer a trajetória, o trabalho e as receitas de outras mulheres que se dedicam às hortas urbanas. Nos próximos meses, nas redes sociais do Sesc Itaquera, serão lançados vídeos e entrevistas sobre esses temas.
As participantes fazem parte da Associação de Agricultores da Zona Leste composta por agricultores da região, distribuídos pelo bairros de Guaianases, Cidade Tiradentes, São Miguel Paulista e São Mateus. Fazem parte do grupo 14 hortas, com cerca de 40 agricultores, que tem como base de atuação a agricultura familiar e a agroecologia no espaço urbano.
Acompanhe o Facebook e o Instagram do Sesc Itaquera para acompanhar a programação.
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